Uma adolescente de 16 anos morreu nesta segunda-feira (7), em Marilândia do Sul, Centro-Norte do Paraná, dez dias após ser diagnosticada com Covid-19. O caso já fazia parte da estatística de pacientes que se recuperaram da doença. O desfecho surpreendeu as equipes de saúde. A vítima não possuía comorbidades.

No dia 26 de novembro, uma jovem de 18 anos também faleceu com o diagnóstico de Covid-19 em Cianorte. Segundo nota divulgada pela prefeitura da cidade, ela havia sido internada no dia 16 de novembro na Fundhospar e, assim como a jovem de Marilândia do Sul, não possuía comorbidades.

O coordenador do setor de Enfermagem da Secretaria de Saúde de Marilândia do Sul, Almir Souza, contou que o resultado do exame confirmando a presença do vírus no organismo da adolescente foi concluído no dia 26 de novembro. Com sintomas gripais leves, ela permaneceu em isolamento domiciliar e foi monitorada pelas equipes de saúde do município.

“Ela cumpriu os dez dias de isolamento e apresentou complicações após esse período. Quando os familiares a levaram para atendimento ontem [segunda-feira], ela evoluiu rapidamente para uma parada cardiorrespiratória. Ela não tinha comorbidade. Era uma moça jovem, saudável, não apresentou complicações antes disso. Foi uma situação muito chocante para a equipe”, relatou. Conforme Souza, no atestado de óbito consta como causas da morte síndrome respiratória grave e Covid-19.

Segundo ele, a mãe da adolescente trabalha como auxiliar de enfermagem e não atua em contato direto com pacientes com suspeita ou confirmação de Covid-19. Ela foi diagnosticada com a doença a partir de um exame preventivo realizado apenas para monitorar o estado de saúde dos profissionais do município.

Diante da confirmação, a família foi submetida a exames e passou a ser monitorada pelas equipes. O avô da adolescente também foi infectado, mas já se recuperou da doença, assim como a auxiliar de enfermagem. A ordem do diagnóstico, no entanto, não revela qual deles foi infectado primeiro, já que todos eram assintomáticos no momento em que realizaram os exames.

A Secretaria de Saúde de Marilândia do Sul contabiliza 155 casos confirmados da doença, 131 pessoas infectadas se recuperaram e 20 casos são considerados ativos, na fase em que ocorre a transmissão do vírus. Com a morte da adolescente, a cidade registra um total de quatro óbitos em decorrência da doença.

“No início de novembro havia um caso ativo. No final do mês subiu para 35. A gente nota muita aglomeração, festas em chácaras, áreas de lazer cheias. Acho que a população, em geral, não suporta mais ouvir falar em Covid, pandemia, máscara, isso não só em Marilândia, mas no Brasil inteiro, mas a única forma da população poder ajudar a gente é na questão da prevenção. Todos precisam se conscientizar para minimizar o que esse vírus tem trazido”, reforçou.

Com o aumento no número de casos confirmados e a procura por exames em todo o Paraná, os laboratórios têm atrasado o envio dos resultados. Conforme Souza, as conclusões, antes informadas em 3 ou 4 dias, agora demoram de 9 a 10 dias para serem repassadas às equipes.

De acordo com o boletim epidemiológico da Sesa (Secretaria de Estado da Saúde), publicado nesta terça-feira (8), 20.070 crianças e adolescentes com idade entre 10 e 19 anos foram diagnosticados com Covid-19 no Paraná, 16 morreram. A pandemia de Covid-19 no Estado já chegou aos 306.034 casos e 6.481 mil mortes.

IMUNIDADE

O médico hebiatra Walter Marcondes Filho lembra que o índice de mortalidade de um jovem normal com Covid-19 é bem menor que de um adulto normal, mas problemas que diminuem a imunidade como um quadro gripal anterior, dengue, doenças respiratórias - asma e rinite, por exemplo - ou mesmo a falta de vitamina D e zinco por falta de sol podem contribuir para agravar o quadro da doença. "Ele também pode, eventualmente, se contaminar e estar predisposto à doença com diminuição da imunidade por algum fator do próprio organismo."

Por outro lado, um jovem com comorbidades associadas, como obesidade, diabetes, doença renal ou cardiopatia tem o mesmo risco de morte que um adulto com comorbidades. Marcondes Filho observa, no entanto, que a Covid-19 é uma doença virulenta e ainda muito desconhecida.

Para o médico, embora o índice de mortalidade entre jovens seja baixo, o fato de eles não respeitarem as orientações de distanciamento social é preocupante. "O problema do jovem é que ele não respeita as orientações, porque não tem aquela sensação de finitude que os adultos têm. O grande risco para eles, o maior alerta é a questão de estarem reunidos e sem máscara, muitas vezes bebendo, abraçando, conversando, bem próximos. Como a fonte de contaminação é a saliva, então a proximidade faz com que as pessoas acabem se contaminando. A maioria dos jovens não pensa que pode pegar e também transmitir."(com Mie Francine Chiba/Reportagem Local)