Uma bactéria isolada no estado do Espírito Santo é utilizada por pesquisadores da UEL (Universidade Estadual de Londrina) em um bioinseticida contra o mosquito Aedes aegypti. Em contato com o inseto, o BTI (Bacillus Thuringiensis Israelensis) mata as larvas do mosquito que é o transmissor da dengue, zika, chikungunya e febre amarela.

Segundo João Zequi, intenção é obter registro junto à Anvisa para viabilizar a produção em larga escala
Segundo João Zequi, intenção é obter registro junto à Anvisa para viabilizar a produção em larga escala | Foto: Marcos Zanutto/12-11-2019

“Se a gente colocar o BTI na água, a larva vai filtrar esse cristal. Proteínas se ligam em locais específicos no trato digestório da larva e dá uma sepse (infecção generalizada). A larva morre em 24 horas”, detalha o professor do Departamento de Biologia Animal e Vegetal do CCB (Centro de Ciências Biológicas) da UEL, João Zequi.

A intenção agora é obter registro junto à Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) para viabilizar a produção em larga escala e comercializar o produto a baixo custo. O bioinseticida desenvolvido não é prejudicial a pessoas ou animais.

O projeto é financiado pelo governo federal por meio da Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior); CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico); Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações e Ministério da Saúde. Aproximadamente, 30 alunos da graduação e pós-graduação estão envolvidos.

Entre os estudantes está a doutoranda Bianca Piraccini Silva que explica como é produzida a bactéria. “Faço primeiro todo o meio de cultura, onde vai ter o alimento da bactéria. A bactéria vai crescer, se alimentar, produzir o esporo e então produzir o cristal que é a substância que vai agir nas larvas. O líquido engarrafado é retirado na quantidade que será utilizada”, conta.

Além da produção em líquido, o bioinseticida também é transformado em pó e em comprimido. O trabalho é realizado em parceria com a UFPR (Universidade Federal do Paraná). Os comprimidos podem ser aplicados em caixas d’água e em áreas de difícil acesso. A pesquisa faz parte do projeto “Inovação em produtos de controle e repelência do vetor e no monitoramento de arbovírus”.

O Aedes aegypti é alvo de pesquisas desenvolvidas há mais de 30 anos na UEL. Os pioneiros foram os professores José Lopes e Olívia Arantes. A circulação do transmissor da dengue também é monitorada por meio de armadilhas desenvolvidas pelo grupo.

“Falta levar essas tecnologias à população. Para isso acontecer temos que ter produção em escala. Essa produção pode ter apoio do governo estadual, com a implantação de um projeto piloto em algumas cidades. São produtos a preços muito baixos. Uma armadilha dessa custa R$10 por mês para monitoramento. O comprimido não vai sair nem a R$ 1,00 para tratar mil litros de água”, completa o professor.

Mosquitos mais resistentes

As regiões central e norte de Londrina apresentam mais mosquitos que sofreram mutações e desenvolveram resistência ao inseticida comum. É o que aponta uma pesquisa conduzida na UEL (Universidade Estadual de Londrina) pela professora do Departamento de Biologia Geral, Renata da Rosa, e a estudante de doutorado Thayná Lopes. O estudo faz parte do projeto “Inovação em produtos de controle e repelência do vetor e no monitoramento de arbovírus”.

A resistência é ao componente químico piretroide, encontrado em inseticidas vendidos em supermercados. A docente explica que existem cinco tipos de mutações possíveis em uma proteína localizada no sistema nervoso do mosquito transmissor da dengue.

“No mosquito que não tem a mutação, o inseticida se liga a essa proteína e causa um impulso nervoso muito forte que desencadeia várias reações no animal e ele morre por causa do inseticida. Essas mutações nos genes deles fazem com que essa proteína seja diferente da encontrada normalmente. As mudanças ocorrem ao longo do tempo e, quando o inseticida se liga ao mosquito, essa proteína que sofreu alteração consegue retirar mais fácil o inseticida. O mosquito, ao invés de morrer, desmaia e depois volta. Consegue se desintoxicar mais fácil”, afirma Rosa.

Foram analisadas duas das cinco mutações possíveis no mosquito e foi constatado que há Aedes aegypti modificados em todas as regiões da cidade.

“Se você usar por muito tempo o antibiótico, o que vai acontecer? O antibiótico vai selecionar as bactérias que são mais resistentes. O inseticida é a mesma coisa. Com o uso frequente desse tipo de inseticida você acaba matando o mosquito que não é mutante e sobram os mosquitos mutantes”, resume a professora.

“O processo de resistência é um conjunto de mutações. A gente avaliou somente duas. Existem muitas outras que podem ou não estar relacionadas ao mecanismo de resistência. Isso é muito interessante para a própria prefeitura conseguir direcionar as campanhas de conscientização e as ações e mostrar às pessoas que a melhor maneira de não ter o vetor é não deixar a água parada e não formar criadouros”, acrescenta a estudante Thayná Lopes.

O último boletim epidemiológico da dengue divulgado nesta semana pela Sesa (Secretaria de Estado da Saúde) revela que a quantidade de casos da doença aumentou em 2.950% no Paraná em comparação com o mesmo período do ano passado. Desde o dia 28 de julho deste ano foram confirmados 3.293 casos de dengue contra 108 em 2018.