Ortigueira – À primeira vista, a comunidade de Caetê, distante cerca de 20 quilômetros do município de Ortigueira (Campos Gerais), pode parecer mais um grupo de pequenos agricultores dentre tantos localizados no interior do Paraná. Mas basta entrar nas casas das famílias – muito hospitaleiras - para perceber que possuem características próprias. Apesar da simplicidade das construções, os detalhes deixam evidente a origem ucraniana desta comunidade, que mantém viva muitas tradições e cultura do povo do leste europeu.

Grande parte dos moradores da comunidade, cerca de 60 famílias, têm algum parentesco entre si. Praticamente todos são de origem ucraniana de descendentes vindos, na década de 70, da região de Prudentópolis, considerada principal colônia ucraniana do Brasil. Guardam, portanto, objetos de decoração e porcelanas com desenhos específicos, bordados em tecidos, muitos artigos e imagens religiosas; tudo com a predominância das cores preto e vermelho. Algumas casas têm o sótão, comum naquele país. Já a culinária, praticada cotidianamente, merece um capítulo à parte.

A pequena Ucrânia escondida em Ortigueira
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O sotaque com o "erre" carregado dos mais velhos reforça a forte influência na língua. Dona Rosa Banach, que esbanja vitalidade aos 81 anos, canta e dança uma canção ucraniana, a 'kolomeika' e, logo em seguida, saúda a reportagem com uma expressão de boas vindas. Filha de pais ucranianos, vindos ainda crianças com as famílias fugindo da guerra civil, no início do século 20, tem firme na memória a infância de muito trabalho na roça, mas também de muita comemoração. "Os ucranianos gostam de festa. Tem que ver um casamento por aqui; são três dias de preparação da comida e cerimônia. O 'korovay' e a dança estão sempre presentes", diz ela, referindo-se ao grande pão doce enfeitado que é servido na festa enquanto casais dançam segurando-o.
Outras datas tão importantes e muito comemoradas são a Páscoa e o Natal, dias em que a família fica ainda mais reunida. "Antes não tinha esse negócio de ovo de chocolate na Páscoa para as crianças. Está vendo essas 'pêssankas' aqui? São ovos de galinha de verdade, cozidos e pintados para dar de presente. Isso, sim, tem significado. Representa desejo de muita fartura e prosperidade", diz. Ao contrário dos ovos que são feitos atualmente, cheios de traços e cores, as pêssankas de Dona Rosa possui desenhos menos elaborados e são para comer. "Esses todos cheios de desenho são mais recentes. O pessoal faz para enfeitar a casa."

RELIGIOSIDADE



A religiosidade da comunidade está fortemente presente por todos os cantos, em todas as casas. Vão de imagens pregadas nas paredes às frases escritas em alfabeto ruteno antigo bordadas em panos. Realizadas em ucraniano, as rezas são aprendidas desde a infância na própria família e na catequese. "Além da oração, estamos ensinando o alfabeto para as crianças. Houve uma certa perda da língua em uma geração e queremos resgatar", comenta a irmã Doroteia Bosse Poczapski, da congregação ucraniana das Irmãs Servas de Maria Imaculada, filha de ucranianos que está há seis anos na comunidade.
Para as aulas de catequese, as crianças chegam pedindo benção às irmãs, obviamente, em ucraniano. Começam a aula rezando na língua eslava oriental com a mesma facilidade que se comunicam em português. Depois, cantam uma música sacra em tom uníssono. "Os ucranianos são muito religiosos e estas famílias preservam essa característica. Agora, estamos nos preparando para o Natal. Aqui, me sinto em casa", diz a Irmã Rosa Kvasnei.
A Igreja ucraniana Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, de arquitetura distinta, é frequentada pelas famílias todos os domingos, onde a missa é praticamente toda realizada na língua de origem. Depois de percorrer o Brasil, na última semana de agosto, a imagem de Josafata Miguelina Hordashevska, fundadora da congregação, ficou no vilarejo e foi motivo de honrarias.