A festa de "Beleza Americana"
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domingo, 26 de março de 2000
Por Luiz Carlos Merten
São Paulo, 27 (AE) - Foi o Oscar da mistificação. Por mais esperada que fosse a vitória de "Beleza Americana" na 72.ª cerimônia de entrega dos prêmios da Academia de Hollywood, foi discutível, para não dizer desagradável, ver o circo montado em torno da estréia de Sam Mendes na direção. Ele chegou a ser comparado a Orson Welles, como se estivesse revolucionando a cinedramaturgia americana contemporânea, com o mesmo impacto do criador de "Cidadão Kane" nos anos 40. Não é verdade. Mas foi merecidíssimo o prêmio para Kevin Spacey.
Com o prêmio para Spacey, o outro triunfo indiscutível da noite foi o de Pedro Almodóvar. Ele merecia ganhar o Oscar de melhor filme estrangeiro pelo genial "Tudo sobre Minha Mãe". O circo também estava armado para isso. Pouca gente duvidava que, ao indicar Penélope Cruz e Antonio Banderas, dois almodovarianos de carteirinha, a academia não estivesse sinalizando para a vitória do filme espanhol. Penélope repetiu Sophia Loren no ano passado, anunciando a vitória de Roberto Benigni por "A Vida É Bela". Quando abriu o envelope e gritou "Pedro!", foi a senha para que o diretor de "Tudo sobre Minha Mãe" subisse ao palco e apresentasse a sua performance de vencedor.
A festa começou muito bem. Havia a expectativa de que, este ano, fosse mais compacta. Tomaram-se todas as providências para isso, mas não deu muito certo. A festa escapou ao controle. Foi uma das mais aborrecidoras dos últimos tempos, com discursos intermináveis e poucas mulheres realmente bonitas (uma das mais foi, sem dúvida, Ashley Judd). Até a extravagância e o kitsch deixaram a desejar.
Mas o começo foi realmente ótimo, com o osso que o macaco lança para o alto na abertura de "2001, Uma Odisséia no Espaço" indo cair na cabeça de Billy Crystal. A partir daí, o apresentador da festa irrompeu em diversos filmes ("Casablanca", "Operação França", "O Poderoso Chefão", "Motorista de Táxi"), num prodígio de técnica e criatividade.
O que veio depois foi uma sucessiva perda de gás, com raros momentos bonitos. Talvez o mais bonito de todos tenha sido a homenagem ao diretor polonês Andrzej Wajda, que recebeu o Oscar de carreira. O mestre do cinema político foi recebido pela atriz que, nos anos 60 e 70, encarnava o espírito politizado de Hollywood. Jane Fonda está linda depois que se separou de Ted Turner. Sua reverência, curvando-se duas vezes diante de Wajda, foi o justo reconhecimento a um grande do cinema.
