Brayan Raab Fonseca, 1 ano, sumiu em 19 de junho na chácara da família, em Cerro Azul
Brayan Raab Fonseca, 1 ano, sumiu em 19 de junho na chácara da família, em Cerro Azul | Foto: Fotos: Sicride/Reprodução



A proximidade das festas de fim de ano é sinônimo de alegria para muita gente. Para algumas famílias, porém, a época natalina realça uma dolorosa angústia: a de ter um ente querido desaparecido. Há sempre a esperança de que a pessoa seja encontrada, mas o fato de não ter notícias gera um sofrimento difícil de ser descrito.

Nesta quarta-feira (13) completou um ano do sumiço de Tatiele Terra Felipe, de 11 anos. No dia em que ela desapareceu estava de shorts jeans azul, camiseta branca, meia rosa e tênis branco. A avó da garota, que a criou como se fosse sua filha, é a dona de casa Eva de Fátima Ferreira, 53. Ela relata que a neta foi à padaria comprar um doce e depois que retornou avisou que iria pegar uma ferramenta emprestada a meia quadra de sua casa, no Bairro Universitário de Cascavel (Oeste), e nunca mais retornou.

"Isso aconteceu entre às 10 e 11 horas da manhã. Geralmente, quando ela saía de casa não demorava, mas percebi que naquele dia ela estava demorando mais do que o habitual. Fui atrás dela e não consegui achá-la. Achei que ela tinha ido na casa da mãe dela ou na panificadora, mas ninguém a viu. Aqui ninguém tinha câmera de segurança e a única que havia no bairro a polícia pediu as imagens, mas ela estava desativada", relatou.

Tatiele Terra Felipe, 11 anos, desapareceu há um ano, em Cascavel, depois de sair para buscar um objeto nas proximidades de casa
Tatiele Terra Felipe, 11 anos, desapareceu há um ano, em Cascavel, depois de sair para buscar um objeto nas proximidades de casa



A avó continuou o relato: "Eu a criei desde bebezinho. Ela me chama de mãe. Quando ela sumiu andei um monte procurando por ela. Recebi muitas ligações de trote. Ia procurar seguindo essas pistas, mas era tudo mentira", lamentou. Ela contou, ainda, que a neta estava sem dinheiro e que deixou em casa o telefone celular que ela sempre carregava. "Ela sempre fazia fotos e vídeos com aquele celular." A avó lamentou que a Polícia Civil também não tenha descoberto o paradeiro de sua neta. "Eles dizem que não têm notícias, que não estão encontrando."

De acordo com o Sicride (Serviço de Investigação de Crianças Desaparecidas), delegacia ligada à Polícia Civil, somente neste ano, 203 crianças foram dadas como desaparecidas no Paraná, sendo 124 meninos e 79 meninas. De acordo com o investigador do Sicride, Oscar Horácio Comodaro Júnior, a maioria das crianças foi encontrada. "A maioria é encontrada após alguns dias. Outras famílias, infelizmente, não têm a mesma sorte. Algumas aparecem mortas, seja por crimes ou acidentes, por exemplo", lamentou.

Das ocorrências registradas neste ano, duas continuam sem solução. São os casos de Luiz Felipe dos Santos Machado, de dois anos, e Brayan Raab Fonseca, de um ano.

A tia de Luiz Felipe, a dona de casa Gislaine de Oliveira Machado, 31, contou que ele estava brincando no quintal da casa, em Telêmaco Borba (Campos Gerais), e simplesmente sumiu. "Isso aconteceu à tarde, por volta das 18h30 do dia 27 de junho deste ano. Não tinha gente por perto. Ele passou a tarde inteira brincando. Todos os vizinhos disseram que não viram nada. Não havia câmera de segurança no bairro que pudesse registrar algum suspeito."

Luiz Felipe dos Santos Machado, 2 anos, estava brincando no quintal de sua casa em 27 de junho deste ano e nunca mais foi visto
Luiz Felipe dos Santos Machado, 2 anos, estava brincando no quintal de sua casa em 27 de junho deste ano e nunca mais foi visto



Ela afirmou que a cada dia que passa a aflição aumenta. "Está chegando a época de festas, o Natal está chegando e não temos nada de notícias sobre ele. A polícia não fala nada e o sentimento é de angústia e de aperto no peito. Os pais dele também estão se sentindo do mesmo jeito e a gente chora e ora junto. Somos evangélicos e a gente se apegou muito na fé."

No caso do pequeno Brayan, o investigador disse que as equipes fizeram buscas durante oito dias na chácara da família, em Cerro Azul, na Região Metropolitana de Curitiba. "As buscam contaram até com cães farejadores que rastrearam que o menino sumiu próximo a um rio que passa pela propriedade. Depois disso, não tivemos mais nenhuma pista", contou. Quem tiver informações sobre as crianças desaparecidas pode entrar em contato com o Sicride pelo telefone (41) 3224-6822.

Estimativas apontam que 40 mil crianças e jovens desapareçam anualmente no Brasil. Qualquer pessoa pode registrar o desaparecimento de uma criança ou adolescente no site www.desaparecidos.gov.br. Não há a necessidade de esperar 24 ou 48 horas para comunicar a polícia sobre o desaparecimento de alguém. Isso pode ser feito assim que o desaparecimento for notado.

Em setembro do ano passado a Comissão de Ciência, Tecnologia, Inovação, Comunicação e Informática do Senado aprovou proposta que obriga o governo federal a fazer campanhas de utilidade pública para divulgar o Cadastro Nacional de Crianças e Adolescentes Desaparecidos. O projeto de lei do Senado 44/2016 torna obrigatória a divulgação de informações constantes do cadastro, incluindo fotografias de pessoas desaparecidas. Isso deverá ser feito por meio de publicidade de utilidade pública, com inserções veiculadas nos intervalos da programação das emissoras de televisão, diariamente, por no mínimo um minuto, no período compreendido entre 18h e 22 horas. O projeto de lei ainda deve passar por análise da Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa (CDH) do Senado.