O médico infectologista Rafael Mialski, membro da Apri (Associação Paranaense de Infectologia) e da SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia), explica que o coronavírus existe desde os anos 1960 e se apresenta em várias formas que, até então, resultavam em infecções mais simples do trato respiratório. Atualmente, existem cinco tipos da doença, entre eles, o descoberto em 31 de dezembro de 2019, na China, com novo agente (SARS-CoV-2), o que provocou o novo coronavírus (COVID-19).

“Hoje, o quadro clínico do novo coronavírus é uma síndrome gripal, com febre, dor no corpo e algum sintoma respiratório, como tosse, coriza e dor de garganta”, ensina. Portanto, os sintomas da doença se comportam como uma gripe, mas são causados por vírus diferente do Influenza, por isso não deve ser tratado como tal.

O vírus se espalha com facilidade por meio de gotículas respiratórias e tem se alastrado com rapidez em países que tiveram casos confirmados. Segundo Mialski, o governo brasileiro tem monitorando a doença, alertando sobre os primeiros sinais. “Devemos suspeitar de pacientes que tiveram febre e algum sintoma respiratório e que tenham visitado algum país da lista informada pelo MS (Ministério da Saúde) ou tido contato com algum suspeito de ter a doença nos últimos 14 dias”, afirma. A lista atual do MS possui 16 países classificados como áreas de risco.

DIAGNÓSTICO

O médico infectologista relata que metade dos casos suspeitos no Brasil foram descartados, porque não preenchiam os critérios. Os suspeitos passam pela coleta de líquidos de vias aéreas, que são enviados ao laboratório de referência. “Aqui no Paraná, o Lacen (Laboratório Central do Estado do Paraná) faz a primeira triagem, buscando outros vírus respiratórios. Se houver, estão explicados os sintomas e o caso é descartado. Se não identificado algum vírus, esse material vai para a Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), no Rio de Janeiro, e lá conseguem fazer a pesquisa específica do coronavírus”, indica. Há outros laboratórios capacitados para a realização dos exames, como os Institutos Adolfo Lutz, em São Paulo, e Evandro Chagas, no Pará. Há uma determinação para que cada estado envie à instituição estabelecida pelo governo, evitando congestionamento dos exames.

CUIDADOS

Atualmente, não há medicamento específico para o tratamento de coronavírus. A recomendação é que os pacientes suspeitos ou confirmados fiquem isolados, mas nem sempre dentro de um hospital. “O critério de internação é clínico. Se ele estiver bem, vai para a casa. Somente os pacientes que precisam de cuidados especiais ficam internados”, explica Mialski. Em casa, o paciente e os moradores devem manter os cuidados, como deixar as janelas abertas, ambiente bem ventilado, dormir em quartos separados e manter as etiquetas respiratórias, com uso de álcool gel e higiene das mãos, durante os sintomas respiratórios, que levam, em média, sete dias. O vírus pode ficar incubado em um prazo de 14 dias.

SEM PÂNICO

Apesar de o vírus ligar o alerta no mundo todo, Mialski argumenta que mais de 90% dos casos se concentram na China e que a taxa de mortalidade é de aproximadamente 3%. “Ou seja, de 97% a 98% que se contaminaram, não vão morrer. Ainda, 80% dos pacientes que se infectaram com o vírus manifestaram quadro leve da doença, 20% podem ter algum comprometimento, 15% vão ter um quadro mais grave, com comprometimento da respiração e 5% são colocados como críticos, que são aqueles que vão para a UTI (Unidade de Terapia Intensiva), com ventilação mecânica”, justifica.

O médico também afirma que a maioria dos pacientes que estão morrendo são idosos que possuem comorbidades, como hipertensão ou diabetes. “É interessante que olhamos para um número ruim, mas a maioria dos pacientes vai ficar bem. Claro, é uma doença nova, tudo vai mudando e isso assusta, mas não podemos esquecer que a influenza, dengue e febre amarela continuam circulando”, aponta. “É importante as pessoas procurarem informações confiáveis, o maior problema é a desinformação.”

CORONAVÍRUS E A DENGUE

Vários municípios paranaenses ainda estão lidando com a epidemia de dengue, com índices alarmantes em algumas cidades. A possibilidade de lidar com mais um vírus pode ser preocupante, considerando ainda que nada se sabe sobre a possibilidade de co-infecção. “Não há notícia de infecção simultânea de coronavírus e dengue. Claro que, um ou outro comprometa a saúde do indivíduo, podendo agravar a situação em caso de co-infecção, mas nada se sabe sobre o que pode vir a acontecer”, aponta o médico. Apesar da negativa de histórico, ele não descarta a possibilidade.