Londrina - O casamento mais comentado do novo milênio, o do príncipe inglês William e da plebeia Kate Middleton, coloca hoje, todos os holofotes em direção ao país britânico. Coincidentemente, há 80 anos, nesta mesma época, os olhares estavam voltados ao norte do Paraná. O motivo era a visita do então Príncipe de Gales, Edward - que se tornaria Rei Edward VIII poucos anos depois - e parte da família real, incluindo seu irmão, o duque de York, que foi coroado rei com a renúncia de Edward alguns meses após assumir o posto. A coroação lhe trouxe o título de Rei George VI, pai de Elisabeth II, que até hoje mantém o trono, no auge de seus 85 anos.
A passagem de parte da família real, em 1931, se deu pelo interesse na região, considerada próspera e, por isso, atraía investidores de outros países. Uma delas foi a companhia britânica ''Parana Plantation Ltd.'' fundada por lorde Lovat, que criou uma subsidiária - a Companhia de Terras Norte do Paraná (CTNP) - para explorar comercialmente a ocupação da região Norte do Estado e também do interior de São Paulo. A atuação do empreendimento perdurou entre 1924 e 1944, quando foi liquidada e vendida à Companhia Melhoramentos Norte do Paraná, no processo de nacionalização dos investimentos estrangeiros.
Na visita em questão, os irmãos nobres chegaram apenas até a cidade de Cornélio Procópio (Norte). Pela grande quantidade de chuva à época, típica do final do verão, a comitiva não conseguiu extender a viagem a ainda não nascida Pequena Londres. Ainda assim, puderam aproveitar a estada e as várias recepções regadas a banquetes dignos da realeza e coquetéis de frutas típicas. Um portal - réplica do Arco do Triunfo - foi construído em Cornélio em homenagem aos irmãos, com a frase ''Welcome'' (''Bem-vindo'', em português).
Negócio inglês
Em princípio, a ideia era transformar toda a área da Companhia em plantação de algodão, mas com a tentativa sem êxito em terras paulistas, o objetivo no Paraná transformou-se em um ''negócio de ocasião'', como classifica o professor de História da Universidade Estadual de Londrina (UEL), Rogério Hivano, já que as habilidades britânicas estavam voltadas a construção da estrutura de portos e ferrovias. ''Retalharam o espaço em lotes de terra para serem vendidos aos colonos'', explica. Com isso, a vinda de vários imigrantes ganhou ritmo intenso tornando a região um celeiro de diferentes etnias.
Esta, sim, uma das heranças que a região norte e Londrina recebeu dos ingleses, na opinião de Hivano. ''Não temos identidade cultural britânica, até porque, para isso, teríamos que ter famílias, escolas, que denotassem a presença inglesa do passado. O inglês é mais uma memória que propriamente uma influência. Mas como negócio, deu muito certo, resultando num caldeirão étnico, propiciado pela boa condição política da época'', resume o historiador, referindo-se as cidades com forte cultura japonesa, italiana e alemã.