Porto Alegre, 29 (AE) - A Schneider Logemann SA (SLC), maior fabricante de colheitadeiras do Brasil, com sede em Horizontina (RS), e a Deere & Company anunciaram hoje a transferência do controle da companhia gaúcha ao grupo norteamericano. A operação, cujo valor não foi revelado, foi negociada durante um ano e meio e vai aumentar o grau de internacionalização da empresa, que em 1998 obteve 36% do seu faturamento de US$ 317 milhões com exportações para o Mercosul e a Europa.
A Deere, maior fabricante mundial de máquinas agrícolas, com faturamento de US$ 11,9 bilhões no ano fiscal encerrado em outubro de 1998, era sócia da SLC desde 1979, quando adquiriu uma participação de 20%. Em 1995 a fatia aumentou para 40%, quando a empresa passou a se chamar SLC-John Deere, e o negócio anunciado hoje prevê que até o final deste ano o porcentual alcance 100%.
A venda envolveu ainda as subsidiárias Fundição das Missões (Fundimisa), localizada em Santo ¶ngelo, o Banco Agroinvest, que financia os clientes da indústria, e a SLC Distribuidora de Títulos e Valores Mobiliários. Somadas, as quatro empresas tiveram uma receita bruta de US$ 450 milhões no ano passado. As operações serão apreciadas pelo Banco Central e pelo Conselho Administrativo de Direito Econômico (Cade).
Segundo o diretor-presidente da SLC-John Deere, Eduardo Logemann, a transferência do controle foi motivada pela "globalização" dos mercados, que exige maior liberdade de ação para a Deere e provoca a concentração da produção nas mãos de poucos fabricantes mundiais. Ele afirmou que a empresa estava capitalizada, mas admitiu que este foi um processo em que "o maior engoliu o menor".
Logemann, que permanecerá no cargo ao lado de toda a diretoria atual, disse que a marca SLC-John Deere será mantida a princípio, mas reconheceu que com o tempo é "razoável" que ela desapareça. Os 1,6 mil funcionários da fábrica também serão preservados.
O vice-presidente da Divisão Agrícola da Deere & Company
David Everitt, informou que o grupo norteamericano pretende colocar a unidade de Horizontina em "bases globais" para exportar a outros mercados, como Mercosul, Europa e Austrália. Ele não revelou valores, mas disse que nos próximos anos serão feitos novos investimentos em ampliação das linhas de colheitadeiras, tratores e plantadeiras.
Demanda - Everitt afirmou ainda que a demanda por máquinas agrícolas está em expansão no Brasil e explicou que, entre todos os mercados, o foco principal de atuação da companhia será o Mercosul. O executivo admitiu que a Deere permanece atenta a novas oportunidades de aquisições de outras empresas no País para aumentar sua participação no País.
"Esperamos crescer substancialmente nos próximos anos"
declarou. O grupo tem fábricas em 11 países, incluindo, na América Latina, a produção de motores na Argentina e de tratores no México. Suas exportações atingem 160 países.
Em setembro o grupo vai inaugurar também em Catalão (GO) uma fábrica da Cameco do Brasil - subsidiária de uma companhia adquirida nos Estados Unidos -, especializada na produção de colheitadeiras para cana-de-açúcar e, dentro de um a dois anos, para algodão.
A unidade está produzindo em fase experimental desde março e exigiu investimentos de US$ 40 milhões. Serão 100 máquinas por ano na primeira fase destinadas ao mercado nacional e ao Mercosul.
A SLC-John Deere responde por 41% das vendas nacionais de colheitadeiras e responde por 60% das exportações brasileiras no segmento. A empresa produz tratores desde 1996 e já detém uma participação de 11% no mercado interno neste setor.
Nos próximos anos ela pretende superar a líder AGCO, que atualmente tem uma fatia ao redor de 30%. Todo o mercado brasileiro de máquinas agrícolas é avaliado em US$ 1,5 bilhão por ano, explicou o diretor comercial Martin Mundstock.
Segundo Mundstock, a empresa deve fabricar duas mil colheitadeiras e um pouco menos de 4 mil tratores este ano. Segundo ele, o Brasil necessitaria de 4 mil colheitadeiras e 40 mil tratores para promover a atualização de sua frota, mas a produção nacional deverá ficar 50% abaixo desses volumes. Mesmo assim, isso representaria um crescimento de 10 a 15% sobre 1998.
Eduardo Logemann informou ainda que parte dos recursos originários da venda da fábrica será empregada na Agropecuária Schneider Logemann, que permanece nas mãos dos antigos controladores. A empresa produz 180 mil toneladas de grãos (soja e milho) e 980 mil arrobas de algodão no Rio Grande do Sul, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Maranhão e pretende investir agora em indústrias de beneficiamento de sua produção.