A UEL (Universidade Estadual de Londrina) renova, bienalmente, a lista de 10 livros para o vestibular. O dia 2 abril será a data de estreia da nova relação de obras do biênio 2023-2024, quando ocorre a segunda fase do processo seletivo deste ano com provas de português, redação e literatura.

O professor de literatura do ensino médio do Colégio Marista, Abílio Júnior, analisou a lista de livros da UEL a pedido da FOLHA e deu dicas importantes para os candidatos sobre as 10 obras.

Imagem ilustrativa da imagem Lista da UEL tem fenômeno editorial e livros com protagonistas femininas
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Ele lembrou que o vestibular da UEL é considerado inovador na literatura com a renovação constante da lista, desta vez com sete novos livros e três obras mantidas na relação anterior. “Nos anos 2000, a UEL já pedia a leitura de livros contemporâneos enquanto os outros vestibulares ainda estavam presos aos clássicos”, comentou.

Confira o simulado do Caderno 6 do Folha Vest

Os cinco primeiros

Confira cinco livros da lista da UEL. Os outros cincos serão publicados na próxima edição do FOLHA VEST, em 20 de março.

Torto arado - ltamar Vieira Junior (Todavia)

Abílio classificou Torto Arado como um fenômeno editorial, que foi lançado em 2018 e premiado com o Jabuti daquele ano. O livro já estava na lista da Unicentro no Paraná e passou a fazer parte da relação de obras da UEL neste ano. “Não é comum, pois é uma obra muito recente, mas é interessante pela inovação”, afirmou.

O professor lembrou que o autor é funcionário público do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) e traz a questão do direito à terra para a obra. Baiano, ele conta a história de duas irmãs na Chapada Diamantina, no interior da Bahia, e trata da cultura, do sincretismo religioso e da relação delas com a terra.

“O empoderamento feminino é outro tema presente em todo o livro, que é dividido em três partes. A primeira é narrada por uma irmã, a segunda é narrada pela outra e a última parte é uma surpresa no final. As duas assumem o foco narrativo e mesmo sendo irmãs possuem perspectivas diferentes: uma quer sair do local e vê na educação a saída, enquanto a outra vê a sua vivência na terra”, explicou.

Chove sobre minha infância - Miguel Sanches Neto (Record)

Abílio Junior lembrou que um dos critérios da lista de livros da UEL é colocar entre os 10 uma obra de um autor ou escritor paranaense. Neste ano, o livro é de Miguel Sanches Neto, nascido em Bela Vista do Paraíso, na Região Metropolitana de Londrina, que fala de suas memórias no Norte do Estado, entre elas, a vinda da avó para Londrina e lembra quando ele fez o vestibular da UEL.

“O livro é de autoficção, novo conceito de obra literária quando o autor conta sua história de maneira camuflada, misturando ficção e realidade. Importante o aluno entender esse processo da autoficção”, aconselha.

Ele também ressaltou que a UEL pode exigir correlações entre os livros em questões da mesma temática. “Essas conexões são muito importantes para responder as perguntas, pois isso exige muito mais que a leitura do livro ou de um resumo. "Chove sobre minha infância" traz um embate sobre a cidade e o campo, que pode ser relacionada ao Torto Arado, apesar de uma história se passar na Bahia e a outra na região de Londrina”, exemplificou.

Histórias que os jornais não contam - Moacyr Scliar (L&PM)

Um dos estilos literários que fazem parte de todas as listas da UEL é a crônica e o livro do autor Moacyr Scliar foi uma das obras mantidas da relação de obras do biênio 2021-2022.

O professor Abílio informou que o livro reúne mais de 70 crônicas, que possuem textos curtos de no máximo três páginas, no estilo literário que mais se aproxima do jornalismo. “O ideal é ler todos os livros, mas para quem está atrasado para a prova na segunda fase, leia algumas crônicas da obra para principalmente entender o estilo da escrita que aborda coisas do cotidiano”, sugeriu.

Niketche - Paulina Chiziane (Companhia das Letras)

Outro critério da UEL é manter a presença de autores africanos de língua portuguesa na lista de livros. Para 2023-2024, a escolhida foi a moçambicana Paulina Chiziane, primeira escritora negra a ganhar o prêmio Camões de Literatura.

Em “Niketche, uma história de poligamia”, o professor do Colégio Marista conta que a autora mostra um Moçambique dividido após a guerra civil entre Norte e Sul, onde a parte de cima tem uma cultura enraizada na África, onde a mulher tem poder e a outra parte mais ocidental e patriarcal com os costumes tradicionais do casamento.

“A história se passa no Sul e a protagonista chama Rami e trata da relação com o marido e o fato dela descobrir que ele tem amantes. Ao confrontar as mulheres, ela descobre que o marido tem quatro amantes e reúne as mulheres para conquistar a independência dele”, resumiu.

Quarto de despejo - Carolina Maria de Jesus (Ática)

Presente em muitos vestibulares do País, Quarto de despejo foi mantido na lista da UEL e traz um gênero não muito comum: o diário. O livro foi publicado na década de 1960 e depois de edições posteriores foi adicionado o subtítulo: “Quarto de despejo - diário de uma favelada”.

A autora foi moradora da primeira favela de Canindé e conta como é o dia a dia de alguém que luta para sobreviver com fome em busca das refeições. “Na época da publicação houve uma grande divulgação pelo fato de uma mulher da favela escrever um livro e não tinha conhecimento de como era a favela. Então, virou uma espetacularização do sujeito favelado”, critica o professor.