FOLHA VEST - CADERNO 5

06/03/2023

01. (UEL)

Leia o texto a seguir e responda às questão.

As vacinas são uma das mais belas criações da humanidade. Uma delas erradicou a varíola, outras derrubaram as mortes por febre amarela, sarampo e meningite e são elas que agora sustentam a volta à vida depois do período mais duro da pandemia de Covid-19. Seu princípio básico de funcionamento é tremendamente simples: estimular o corpo a identificar e combater um agente estranho ao organismo. Baseados nesse conceito, há décadas pesquisadores na área do câncer perguntam-se qual seria o efeito do recurso contra a doença, uma vez que os tumores são conglomerados anormais de células crescendo entre os tecidos, configurando-se, portanto, em algo alheio à natureza dos órgãos. Não tem sido fácil achar a resposta, mas o anúncio feito há duas semanas pela Cleveland Clinic, dos Estados Unidos, mostra que os estudiosos raciocinam no caminho certo.

Considerado um dos melhores do mundo, o centro americano de tratamento e pesquisa em saúde informou o início de um estudo clínico para testar a eficácia e segurança de uma vacina na prevenção e tratamento do tipo mais agressivo de câncer de mama. Se der certo, será o primeiro imunizante capaz de evitar diretamente o surgimento de um tumor. Atualmente, há opções de proteção indireta, como as vacinas de HPV e da hepatite B. A primeira atua sobre alguns tipos do Papilomavírus humano responsáveis por tumores, como o que causa câncer de colo de útero. A segunda protege de infecções pelo vírus da hepatite B, doença que promove inflamação crônica do fígado, tornando as células do órgão vulneráveis à proliferação descontrolada (característica do câncer).

Participarão do ensaio clínico entre 18 e 24 pacientes que tiveram o diagnóstico do câncer em etapa inicial nos últimos três anos, encontram-se sem o tumor, mas apresentam grande risco de recidiva. Até setembro de 2022, quando esse braço da pesquisa será encerrado, cada uma receberá três doses da vacina, aplicadas com intervalos de duas semanas entre cada uma. Nessa fase, o objetivo é examinar a resposta imune desencadeada pela vacina e efeitos colaterais. Ou seja, avaliar o desempenho do imunizante do ponto de vista terapêutico. Adaptado de: PEREIRA, Cilene. Uma vacina tão esperada. Veja. São Paulo: Ed. Abril. 10 de novembro de 2021. ed. 2763, ano 54, nº 44, p. 62-63.

Sobre os recursos linguísticos empregados no primeiro parágrafo do texto, considere as afirmativas a seguir.

A) A noção de “conceito” contesta o que é nomeado antes como “princípio básico de funcionamento”, por agregar muitos elementos mais complexos, segundo o texto.

B) A ideia de “recurso” pode ser sintetizada na identificação precoce de um “agente estranho ao organismo”.

C) O termo “tumores” representa uma excepcionalidade no organismo de pessoas que já possuíam a doença à época da detecção do problema.

d) O termo “alheio” corresponde à voracidade do câncer como doença que leva à morte com muita rapidez.

e) O termo “resposta” está conectado com uma longeva linha de investigação mantida por pesquisadores do câncer.

02. (UEL)

Assinale a alternativa que apresenta, corretamente, um fato comprovado pelo texto.

a) Cientistas americanos descobriram a cura de uma modalidade de câncer, graças aos equipamentos e recursos financeiros que o país possui.

b) Obstáculos sociais e precariedade de equipamentos brasileiros dificultam que cientistas desenvolvam pesquisas semelhantes no Brasil.

c) Testes clínicos com pacientes potencialmente reincidentes são fundamentais no experimento para o alcance de respostas.

d) Os Estados Unidos apresentam dados alarmantes sobre o tipo de câncer mais agressivo de mama.

e) Toda pessoa que teve câncer de mama, e se encontra livre do tumor, voltará a desenvolver a doença.

03. (UEL)

Leia a crônica a seguir, retirada do livro Histórias que os jornais não contam, de Moacyr Scliar, e responda à questão.

Nesta enquete eleitoral a margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou para menos. (23/10/2005)

O estatístico acordou e, como sempre o fazia, espiou pela janela. Céu nublado. Deveria levar o guarda-chuva? Com base em sua experiência pregressa, avaliou a possibilidade de chuva em 38%, com uma margem de erro de dois pontos percentuais, para mais ou para menos. Decidiu não levar o guarda-chuva, mesmo porque já havia esquecido três ou quatro no escritório.

A mulher dormia ainda e ele decidiu não acordá-la; professora universitária, ela tinha ficado até a meia noite corrigindo trabalhos. Merecia o descanso. E de repente uma pergunta lhe ocorreu: será que ainda se amavam? Qual era a possibilidade de que isso acontecesse depois de quinze anos, três meses e oito dias de casamento, depois de dois filhos, um com treze anos, seis meses e sete dias, outro com dez anos, dois meses e 20 dias? Poderia arriscar uma cifra, mas decidiu não fazê-lo, mesmo porque estava atrasado. Engoliu rapidamente o café (frio: cerca de 32 graus, concluiu, e não costumava errar: sua chance de acertar a temperatura dos líquidos era de cerca de 91%, com uma margem de erro de dois pontos percentuais para mais ou para menos). Desceu para a garagem do prédio e entrou no carro, um velho Gol. O motor não quis pegar, e por um momento ele temeu que o automóvel o deixasse na mão. Mas as chances de que isso acontecesse eram de apenas 12%, com uma margem de erro de dois pontos percentuais para mais ou para menos, e logo ele estava no trânsito, congestionado como sempre. Estimou a sua chance de chegar no horário em 72%, com uma margem de erro de dois pontos percentuais para mais ou para menos. De fato, às nove em ponto estava sentando à sua mesa.

Tinha várias pesquisas para examinar naquele dia. As chances de uma marca de sabão ser preferida em relação à outra, as chances de um candidato à presidência de empresa ser eleito em relação a outro. Um trabalho a que estava habituado e que em geral transcorria com facilidade; as chances de concluir a análise de uma pesquisa em duas horas e trinta e oito minutos eram de 83%, com uma margem de erro de dois pontos percentuais para mais ou para menos. O fato, porém, é que uma pergunta o atormentava: será que ainda amava a esposa? Na semana anterior a empresa havia admitido uma nova estatística, moça simpática e linda que fizera balançar o seu coração.

Naquele momento o telefone tocou. Era a mulher: só queria dizer que o amava. E ele, jubiloso, concluiu que também a amava. As chances eram de 100%. Com uma margem de erro de dois pontos percentuais para mais, só para mais.

SCLIAR, Moacyr. Para mais ou para menos. In: Histórias que os jornais não contam. 3.ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2011. p.121- 122.

Com base na crônica, assinale a alternativa correta.

a) Essa crônica, assim como a maioria das demais que integram o livro de Moacyr Scliar, destina-se ao comentário do texto que funciona como ponto de partida. Aqui, ao comentário de uma questão metodológica acerca de pesquisa eleitoral se soma a descrição da vida e da rotina profissional de um estatístico.

b O texto que é ponto de partida para a crônica de Moacyr Scliar e o trabalho desempenhado na história transcrita são marcados pelo manejo de previsibilidade e de cálculos, entre outras questões. O texto do cronista aprofunda-se no plano narrativo, focaliza um estatístico como personagem e se detém sobre sua vida afetiva, redimensionando noções como risco e erro.

c) Ao contrário das crônicas que predominam no livro de Moacyr Scliar, esta é concentrada no registro de impressões e sensações suscitadas por acontecimentos banais de naturezas diversas. A subjetividade que daí emerge entra em choque com o teor frio, neutro e objetivo que se espera de um texto amparado em números.

d) O texto que serve de base para esta crônica de Moacyr Scliar é desprovido de elementos inusitados que dão origem a outras produções do autor incluídas no livro. É, no entanto, no processo de recriação conduzido pelo cronista, neste texto, que o inverossímil entra em cena com situações surpreendentes que desafiam as expectativas até do próprio estatístico.

e) Um ponto em comum entre essa crônica de Moacyr Scliar e o texto que lhe dá origem é a ênfase em perspectivas baseadas em cálculos. O fictício assume lugar de relevância na composição do autor quando surgem as brechas e os riscos que ameaçam a rotina repetitiva: o automóvel cujo funcionamento é irregular; e a contratação da moça para a empresa em que ele trabalhava.

04. (UEL)

Leia a crônica a seguir, de Luis Fernando Veríssimo, e responda a questão

Ser um tímido notório é uma contradição. O tímido tem horror a ser notado, quanto mais a ser notório. Se ficou notório por ser tímido, então tem que se explicar. Afinal, que retumbante timidez é essa, que atrai tanta atenção? Se ficou notório apesar de ser tímido, talvez estivesse se enganando junto com os outros e sua timidez seja apenas um estratagema para ser notado. Tão secreto que nem ele sabe. É como no paradoxo psicanalítico: só alguém que se acha muito superior procura o analista para tratar um complexo de inferioridade, porque só ele acha que se sentir inferior é doença.

Todo mundo é tímido, os que parecem mais tímidos são apenas os mais salientes. Defendo a tese de que ninguém é mais tímido do que o extrovertido. O extrovertido faz questão de chamar atenção para sua extroversão, assim ninguém descobre sua timidez. Já no notoriamente tímido a timidez que usa para disfarçar sua extroversão tem o tamanho de um carro alegórico. Daqueles que sempre quebram na concentração. Segundo minha tese, dentro de cada Elke Maravilha existe um tímido tentando se esconder e dentro de cada tímido existe um exibido gritando “Não me olhem! Não me olhem!”, só para chamar a atenção.

O tímido nunca tem a menor dúvida de que, quando entra numa sala, todas as atenções se voltam para ele e para sua timidez espetacular. Se cochicham, é sobre ele. Se riem, é dele. Mentalmente, o tímido nunca entra num lugar. Explode no lugar, mesmo que chegue com a maciez estudada de uma noviça. Para o tímido, não apenas todo mundo mas o próprio destino não pensa em outra coisa a não ser nele e no que pode fazer para embaraçá-lo.

O tímido vive acossado pela catástrofe possível. Vai tropeçar e cair e levar junto a anfitriã. Vai ser acusado do que não fez, vai descobrir que estava com a braguilha aberta o tempo todo. E tem certeza de que cedo ou tarde vai acontecer o que o tímido mais teme, o que tira o seu sono e apavora os seus dias: alguém vai lhe passar a palavra.

O tímido tenta se convencer de que só tem problemas com multidões, mas isto não é vantagem. Para o tímido, duas pessoas são uma multidão. Quando não consegue escapar e se vê diante de uma platéia, o tímido não pensa nos membros da platéia como indivíduos. Multiplica-os por quatro, pois cada indivíduo tem dois olhos e dois ouvidos. Quatro vias, portanto, para receber suas gafes. Não adianta pedir para a platéia fechar os olhos, ou tapar um olho e um ouvido para cortar o desconforto do tímido pela metade. Nada adianta. O tímido, em suma, é uma pessoa convencida de que é o centro do Universo, e que seu vexame ainda será lembrado quando as estrelas virarem pó.

VERISSIMO, Luis Fernando. Da Timidez. In: Comédias para se ler na escola. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001. p. 111-112.

Sobre expressões e trechos dos três últimos parágrafos, considere as afirmativas a seguir.

I) A “timidez espetacular” é ilustrada com as formas de entrada em determinado recinto: tanto a explosão quanto a maciez da noviça são espetaculares.

II) A expressão “catástrofe possível” tem como exemplos dos receios do tímido o conteúdo das frases subsequentes no mesmo parágrafo.

III) As situações embaraçosas, em sintonia com o termo “desconforto”, representam conjecturas do tímido que o levam a ter temores.

IV) O trecho “duas pessoas são uma multidão” reforça a ideia expressa na frase imediatamente anterior, pois indica a suscetibilidade frequente à qual o tímido é exposto.

Assinale a alternativa correta.

a) Somente as afirmativas I e II são corretas.

b) Somente as afirmativas I e IV são corretas.

c) Somente as afirmativas III e IV são corretas.

d) Somente as afirmativas I, II e III são corretas.

e) Somente as afirmativas II, III e IV são corretas.

05. (UEL)

Sobre a crônica “Da timidez” e suas relações com outros textos incluídos nas Comédias para se ler na escola ou com crônicas de outros autores, considere as afirmativas a seguir .

I) O traço cômico, exemplificado pela passagem em que o tímido tropeça, cai e leva junto a anfitriã, prevalece sobre o lirismo, mais presente nas crônicas de outros autores.

II) O componente narrativo aparece em outras crônicas de Comédias para se ler na escola de forma mais explícita do que em “Da timidez”.

III) A crônica se constrói em torno de comentários de suposições e de experiências das vidas de pessoas tímidas; essa opção pelo comentário aparece também em Comédias para se ler na escola e é comum nas crônicas de outros autores.

IV) A fala proferida por personagem no texto – “ ‘Não me olhem! Não me olhem!”’ – comprova a força do diálogo como estrutura dessa crônica e de outras em Comédias para se ler na escola.

Assinale a alternativa correta.

a) Somente as afirmativas I e II são corretas.

b) Somente as afirmativas I e IV são corretas.

c) Somente as afirmativas III e IV são corretas.

d) Somente as afirmativas I, II e III são corretas.

e) Somente as afirmativas II, III e IV são corretas.

06. (UEL)

Leia o texto a seguir, que contém o início do conto “A menina do futuro torcido”, incluído em Vozes anoitecidas, de Mia Couto

Joseldo Bastante, mecânico da pequena vila, punha nos ouvidos a solução da sua vida. Viajante que passava, carro que parava, ele aproximava e capturava as conversas. Foi assim que chegou de ouvir um destino para sua filha mais velha, Filomeninha. Durante toda uma semana, chegavam da cidade notícias de um jovem que fazia sucesso virando e revirando o corpo, igual uma cobra. O rapaz tinha sido contratado por um empresário para exibir suas habilidades, confundir o trás para a frente. Percorria as terras e o povo corria para lhe ver. Assim, o jovem ganhou dinheiro até encher caixas, malas e panelas. Só devido das dobragens e enrolamentos da espinha e seus anexos. O contorcionista era citado e recitado pelos camionistas e cada um aumentava uma volta nas vantagens elásticas do rapaz. Chegaram mesmo a dizer que, numa exibição, ele se amarrou no próprio corpo como se fosse um cinto. Foi preciso o empresário ajudar para desatar o nó; não fosse isso, ainda hoje o rapaz estaria cintado.

COUTO, Mia. Vozes anoitecidas. São Paulo: Companhia das Letras, 2013. p. 127.

Assinale a alternativa que explica corretamente a frase: “O contorcionista era citado e recitado pelos camionistas e cada um aumentava uma volta nas vantagens elásticas do rapaz.”

a) Com a frase, o narrador enfatiza como Joseldo ficava embevecido com as histórias a respeito do contorcionista.

b)A frase demonstra que os relatos dos caminhoneiros eram convincentes porque eram repetitivos.

c) O trecho “aumentava uma volta” aponta tanto para as habilidades corporais do jovem quanto para os relatos desiguais dos caminhoneiros.

d) O termo “elásticas” está mais associado à forma do relato dos caminhoneiros do que às habilidades corporais do contorcionista.

e) O termo “vantagens” já demonstra que o contorcionista era um falsário, embora os caminhoneiros acreditassem nas habilidades de seus movimentos.

07. (UEL)

Projeto ajuda a interromper ciclo de violência contra mulheres

Em Sergipe, um projeto tem ajudado a interromper o ciclo de violência contra mulheres. Foram 16 anos sofridos em silêncio até que ela resolveu dar um basta. “Quando eu saí de casa, fui para a casa de minha mãe. Ele me ligou, esculhambou de tudo, falou que estava indo para a casa da minha mãe para me bater, para quebrar meus dentes, para fazer o que ele queria. Foi nessa hora que resolvi ir para a delegacia e prestei queixa”, disse a mulher.

A queixa virou um acordo entre o casal. Ao invés de responder a um inquérito, uma vez por semana, o ex-marido frequenta um grupo só para homens. Antes do primeiro empurrão, do tapa, geralmente existe a agressão verbal seguida de ameaça. Os homens que foram

denunciados por esse tipo de agressão estão no grupo para aprender a enxergar a mulher com outros olhos, com respeito. Uma mudança de comportamento que fez romper o ciclo da violência doméstica.

“A ideia do grupo é uma mudança de atitude, de comportamento, mesmo que você não concorde. Está na lei”, diz a psicóloga aos homens. Sandra Aiaish Menta, doutora em psicologia da Universidade Federal de Sergipe, tem um papel fundamental. “Quando eles chegam ao grupo, a gente tem que sensibilizá-los de que aquilo que eles fizeram é algo que é uma agressão ao outro”, disse.

A cada encontro, novas descobertas. Um homem que sequer admitia que era agressor está na sexta reunião e já mudou de atitude. “Reconheço sim, reconheço que errei com ela. O grupo ajudou muito, graças a Deus”, disse. Mas se ele voltar a ser violento, não tem acordo.

“A gente vai trabalhando numa escalada: para os crimes mais simples, oferecendo a mediação. Houve descumprimento, a gente vai para investigação com medida protetiva. Se ele descumprir, a gente pede a prisão”, disse a delegada Ana Carolina Machado Jorge.

O projeto é uma parceria da Universidade Federal de Sergipe com a prefeitura e delegacia da cidade de Lagarto. Começou há seis anos e, nesse tempo, foi registrado apenas um caso de feminicídio na cidade. Pelo grupo já passaram mais de 300 homens e muitas foram as lições. “Estou aprendendo várias coisas. Se eu pudesse não errar, voltava para trás”, disse o homem.

Adaptado de: g1.globo.com

Sobre os recursos de pontuação empregados no texto, considere as afirmativas a seguir.

I) As aspas, ao marcarem o discurso direto, revelam o grau de formalidade do discurso, próprio de textos opinativos.

II) No trecho “A gente vai trabalhando numa escalada:”, após os dois pontos há uma sequência com efeito de gradação.

III) Em “Sandra Aiaish Menta, doutora em psicologia da Universidade Federal de Sergipe, tem um papel fundamental”, as vírgulas separam um trecho explicativo.

IV) As vírgulas utilizadas no discurso direto do primeiro parágrafo desempenham papel fundamental de enumerar ações.

Assinale a alternativa correta.

a) Somente as afirmativas I e II são corretas.

b) Somente as afirmativas I e IV são corretas.

c) Somente as afirmativas III e IV são corretas.

d) Somente as afirmativas I, II e III são corretas.

e) Somente as afirmativas II, III e IV são corretas.

08. (UEL)

Leia o trecho, a seguir, retirado do livro Quarenta dias, de Maria Valéria Rezende, e responda à questão.

Saí, em busca de Cícero Araújo ou sei lá de quê, mas sem despir-me dessa nova Alice, arisca e áspera, que tinha brotado e se esgalhado nesses últimos meses e tratava de escamotear-se, perder-se num mundo sem porteira, fugir ao controle de quem quer que fosse. Tirei o interfone do gancho e o deixei balançando, pendurado no fio, bati a porta da cozinha e desci correndo pela escada de serviço, esperando que o porteiro se enfiasse na guarita pra responder ao interfone de frente pro saguão, de modo que eu pudesse sair de fininho, por trás dos pilotis, e escapar sem ser vista. Não me importava nada o que haveria de acontecer com o interfone nem com o porteiro.

Ganhei a rua e saí a esmo, querendo dar o fora dali o mais depressa possível, como se alguém me vigiasse ou me perseguisse, mas saí andando decidida, como se soubesse perfeitamente aonde ia, pisando duro, como nunca tinha pisado em parte alguma da minha antiga terra, lá onde eu sempre soube ou achava que sabia que rumo tomar. Saí, sem perguntar nada ao guri da banca da esquina nem a ninguém, até que me visse a uma distância segura daquele endereço que me impingiram e onde eu me sentia espionada, sabe-se lá que raio de combinação eles tinham com os porteiros, com os vizinhos? Olhe só, Barbie, como eu chegava perigosamente perto da paranoia e ainda falo “deles” como se fossem meus inimigos, minha filha e meu genro

REZENDE, Maria Valéria. Quarenta dias. 1ª ed. Rio de Janeiro: Objetiva, 2014. p. 95-96.

Acerca dos termos destacados e suas respectivas explicações, considere as afirmativas a seguir.

I) Em “e ainda falo ‘deles’ como se fossem meus inimigos, minha filha e meu genro”, o termo “como” denota comparação.

II) Nos fragmentos, “lá onde eu sempre soube” e “sabe-se lá que raio”, as palavras em destaque cumprem o mesmo papel nas duas ocorrências: apontar o lugar ao qual estão se referindo.

III) No trecho “pra responder ao interfone de frente pro saguão, de modo que eu pudesse sair de fininho”, a locução destacada indica causa e equivale à expressão “visto que”.

IV) No fragmento “como nunca tinha pisado em parte alguma da minha antiga terra, lá onde eu sempre soube”, o termo “onde” faz referência à palavra “lá” que, por sua vez, retoma “antiga terra”.

Assinale a alternativa correta.

a) Somente as afirmativas I e II são corretas.

b) Somente as afirmativas I e IV são corretas.

c) Somente as afirmativas III e IV são corretas.

d) Somente as afirmativas I, II e III são corretas

e) Somente as afirmativas II, III e IV são corretas.

09. (UEL)

Com base no trecho e no romance, considere as afirmativas a seguir acerca da narradora.

I) No trecho “... esperando que o porteiro se enfiasse na guarita pra responder ao interfone de frente pro saguão...”, apesar de a narradora estar em primeira pessoa, assim como no restante do romance, ela é também onisciente no contato com diversas personagens.

II) A narradora alterna passagens que contêm o relato das próprias ações, como em “Tirei o interfone do gancho e o deixei balançando, pendurado no fio, bati a porta da cozinha e desci correndo pela escada de serviço...”, com trechos que são suposições dos atos de personagens.

III) Há momentos no trecho dedicados à expressão de sentimentos provocados pelas próprias ações da narradora-protagonista, como em: “Não me importava nada o que haveria de acontecer com o interfone nem com o porteiro.”

IV) O trecho apresenta passagens em que a narradora-protagonista faz conjecturas sobre conspirações armadas por outras personagens, como em: “... sabe-se lá que raio de combinação eles tinham com os porteiros, com os vizinhos?”

Assinale a alternativa correta.

a) Somente as afirmativas I e II são corretas.

b Somente as afirmativas I e IV são corretas.

c) Somente as afirmativas III e IV são corretas.

d) Somente as afirmativas I, II e III são corretas.

e) Somente as afirmativas II, III e IV são corretas.

10. (UEL)

Com base no trecho e no romance, considere as afirmativas acerca da Barbie, mencionada na última frase do trecho.

I) Barbie é uma espécie de “ouvinte” dos relatos e das confissões da narradora.

II) Barbie, imagem asséptica, serve de contraste com os difíceis percursos da narradora em Porto Alegre.

III) Barbie é o apelido criado pela narradora para Milena, sua diarista em Porto Alegre.

IV) Barbie, boneca posta pela filha de Alice sobre um móvel do apartamento, ouve confidências e desabafos da protagonista.

Assinale a alternativa correta.

a) Somente as afirmativas I e II são corretas.

b) Somente as afirmativas I e IV são corretas.

c) Somente as afirmativas III e IV são corretas.

d) Somente as afirmativas I, II e III são corretas.

e) Somente as afirmativas II, III e IV são corretas

11 (UEL)

Leia o fragmento, a seguir, retirado do livro Clara dos Anjos, de Lima Barreto, e responda à questão.

Cassi Jones, sem mais percalços, se viu lançado em pleno Campo de Sant’Ana, no meio da multidão que jorrava das portas da Catedral, cheia da honesta pressa de quem vai trabalhar. A sua sensação era que estava numa cidade estranha. No subúrbio tinha os seus ódios e os seus amores; no subúrbio, tinha os seus companheiros, e a sua fama de violeiro percorria todo ele, e, em qualquer parte, era apontado; no subúrbio, enfim, ele tinha personalidade, era bem Cassi Jones de Azevedo; mas, ali, sobretudo do Campo de Sant’Ana para baixo, o que era ele? Não era nada. Onde acabavam os trilhos da Central, acabava a sua fama e o seu valimento; a sua fanfarronice evaporava-se, e representava-se a si mesmo como esmagado por aqueles “caras” todos, que nem o olhavam. [...]

Na “cidade”, como se diz, ele percebia toda a sua inferioridade de inteligência, de educação; a sua rusticidade, diante daqueles rapazes a conversar sobre cousas de que ele não entendia e a trocar pilhérias; em face da sofreguidão com que liam os placards dos jornais, tratando de assuntos cuja importância ele não avaliava, Cassi vexava-se de não suportar a leitura; comparando o desembaraço com que os fregueses pediam bebidas variadas e esquisitas, lembrava-se que nem mesmo o nome delas sabia pronunciar; olhando aquelas senhoras e moças que lhe pareciam rainhas e princesas, tal e qual o bárbaro que viu, no Senado de Roma, só reis, sentia-se humilde; enfim, todo aquele conjunto de coisas finas, de atitudes apuradas, de hábitos de polidez e urbanidade, de franqueza no gastar, reduziam-lhe a personalidade de medíocre suburbano, de vagabundo doméstico, a quase cousa alguma.

BARRETO, Lima. Clara dos Anjos. Rio de Janeiro: Garnier, 1990. p. 130-131.

Assinale a alternativa correta quanto à posição do narrador.

a) O narrador mostra-se compadecido da situação de Cassi Jones, que é focalizado, tal qual Clara dos Anjos, como uma vítima indefesa das perversidades sociais que deixam de reconhecer os talentos dos suburbanos.

b) O narrador ressalta como Cassi Jones estava também sujeito às hostilidades sociais suficientemente fortes para submetê-lo a conflitos íntimos, arrependimentos e remorsos tão próximos da infâmia sentida por Clara ao final do romance.

c) O narrador antecipa, nessa passagem, o processo de redenção de Cassi Jones, que, ao se aperceber do desdém que o rebaixava, inicia uma nova trajetória em busca do perdão de Clara dos Anjos e da correção de seus deslizes morais.

d) O narrador demonstra-se solidário com o sentimento de Cassi Jones, por ser o violeiro objeto de exclusão naquela área mais sofisticada da cidade, o que conduz à identificação de afinidades entre narrador e personagem seja no plano artístico seja no plano moral.

e) O narrador flagra Cassi Jones no momento em que constata o sentimento de se ver deslocado naquela região da cidade, tão contrastante com o prestígio, com o reconhecimento e com as vantagens usufruídas pela personagem no subúrbio.

12. (UEL)

Com base no trecho e no romance, acerca das relações entre personagens e os estilos de época, considere as afirmativas a seguir.

I) Clara, ao nutrir ilusões quanto às intenções amorosas de Cassi, aproxima-se da condição sonhadora de personagens femininas românticas.

II) Clara, ao entregar-se a Cassi e ao ceder às suas investidas sexuais, exibe a dificuldade de resistir aos instintos, como ocorre com personagens femininas naturalistas.

III) Cassi, ao recorrer a falsas promessas e fugir das responsabilidades com Clara, destoa da caracterização afetiva e moral dos heróis masculinos românticos.

IV) Cassi, ao compreender a complexidade das injustiças sociais que se abatem contra ele e os demais suburbanos, acirra o espírito combativo, assim como os heróis modernistas.

Assinale a alternativa correta.

a) Somente as afirmativas I e II são corretas.

b) Somente as afirmativas I e IV são corretas.

c) Somente as afirmativas III e IV são corretas.

d) Somente as afirmativas I, II e III são corretas

e) Somente as afirmativas II, III e IV são correta

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