Por meio dos livros didáticos aprendemos a dividir a história da humanidade através de fatos de grande repercussão, ainda que essa divisão não seja uma unanimidade dentro do universo dos pesquisadores e historiadores, já que diversos pontos de vista são apresentados para definir o que realmente serviu como referência para o desenvolvimento da humanidade.

A invenção da escrita, por exemplo, em cerca de 4.000 a.C, é geralmente usada para atribuir o início da Idade Antiga, seguindo até 476 d.C, com a queda do Império Romano do Ocidente, dando lugar à Idade Média, que se encerraria em 1453, com a tomada de Constantinopla (atual Istambul) pelos turcos otomanos, também marcando a queda do Império Romano do Oriente e começando a Idade Moderna. A chamada Idade Moderna usualmente tem como marco de encerramento a Revolução Francesa, em 1789, onde foi dado o pontapé para a Idade Contemporânea, na qual estamos até os dias de hoje.

Entre as críticas apresentadas a este modelo, por exemplo, estão que a invenção da escrita não pode ser limitada a apenas um período ou grupo, já que poderia ter sido desenvolvida por variados povos em períodos distintos, e que a antiguidade teria se encerrado em 750, com o fim da expansão islâmica na Europa. Há também questionamentos pontuando o fim da Idade Média para o ano de 1492, com o descobrimento da América, ou até mesmo com a Reforma Protestante, em 1517, e um entendimento de que a Idade Contemporânea só teria iniciado, realmente, com a Primeira Guerra Mundial, em 1914.

Acontecimentos como o fim da União Soviética e a bipolarização mundial são considerados por estudiosos marcos para o período pós-moderno
Acontecimentos como o fim da União Soviética e a bipolarização mundial são considerados por estudiosos marcos para o período pós-moderno | Foto: iStock

"Estabelecer um período histórico é muito relativo. Se você pensar na antiguidade, por exemplo, são milhares e milhares de anos. Não tem um prazo de validade", comentou o professor de História do Colégio Marista de Londrina, Sérgio Cavalheiro. Para o professor, um referencial para delimitar mudanças de períodos históricos se dão pelos aspectos econômicos, políticos e religiosos.

"Na antiguidade, tínhamos os grandes Impérios, como os romanos e os egípcios, um modo de produção escravista em que pessoas eram propriedades de outras, e a predominância do politeísmo", explicou. Na transição para a Idade Média, mudanças nos três eixos. "Os impérios caem e os poderes políticos se fragmentam com o feudalismo, o tipo de trabalho se torna servil, onde o homem não é mais uma propriedade, mas também não é totalmente livre, e o cristianismo cresce, além do surgimento de outras religiões monoteístas", acrescentou Cavalheiro.

Mais uma mudança nesses aspectos veio com a transição para a Idade Contemporânea, marcado pelo retorno das grandes monarquias, com os chamados Estados absolutistas na Europa. "Já o modo de produção feudal se transforma para o capitalismo. Temos também o nascimento do comércio com o mercantilismo. E no âmbito da religião, o catolicismo se divide com a Reforma (protestante) de Lutero", completou o professor.

UM NOVO RECORTE?

A FOLHA perguntou ao professor de História do Colégio Marista de Londrina se, em um cenário com tantas inovações tecnológicas, ainda estaríamos inseridos em um período histórico iniciado há mais de 200 anos. "Hoje, já se fala em um período 'pós-moderno', devido à transformação da economia, com o neoliberalismo, e registros como a queda do Muro de Berlim, a dissolução da antiga União Soviética, a bipolarização mundial com a Guerra Fria e a ascensão do islã. Por isso, não é errado já pensamos em uma nova era, o pós-moderno", finalizou.