A edição da Folha Vest desta semana apresenta os cinco últimos livros que integram a lista de 10 obras literárias com leitura exigida para a segunda fase do Vestibular 2023 da UEL. A prova de português, literatura e redação será realizada em 2 de abril, primeiro dia da última etapa que define os aprovados no processo seletivo.

Contos novos - Mário de Andrade (domínio público)

Um dos maiores nomes da Semana de Arte Moderna de 1922, Mário de Andrade é o autor de Contos Novos, representante do gênero na lista de livros da UEL, outro critério da universidade que sempre mantém uma obra de contos entre os escolhidos.

Mas o professor de literatura do ensino médio do Colégio Marista, Abílio Júnior, ressaltou que o escritor modernista vivia um outro momento quando produziu a obra, que começou a ser escrita na década de 1920 e concluída na década 1940, sendo que publicação póstuma ocorreu sem que Mário Andrade terminasse a revisão dos contos.

“O livro é considerado a maturidade literária de Mário de Andrade com contos em primeira e terceira pessoa”, destacou Júnior.

De acordo com ele, os contos em primeira pessoa são autobiográficos com o mesmo protagonista chamado Juca, alter ego da infância do autor, que fala da sua relação com um pai tirano até a fase adulta. “Os contos têm uma forte influência das teorias de Freud e são análises psicológicas da infância e do crescimento do escritor”, comentou.

Já o tema principal dos contos em terceira pessoa é a luta trabalhista e social dos operários brasileiros em um período marcado pela reivindicação dos direitos dos trabalhadores durante a Era Vargas. As ideias de Karl Marx influenciam os contos, entre eles, um dos mais famosos que é intitulado 1º de maio.

O rei da vela - Oswald de Andrade (Companhia das Letras)

O vasto cardápio de gêneros literários da lista da UEL também tem uma peça teatral. Quem assina a obra é outro grande nome do modernismo brasileiro: Oswald de Andrade.

O professor de literatura do Colégio Marista lembra que ele foi um dos nomes mais ativos na Semana de Arte Moderna de 1922 na propagação das ideias modernistas no Brasil, e ainda foi responsável pelo movimento Pau Brasil e o manifesto antropofágico.

Abílio Júnior explica que a peça é autobiográfica, baseada na história do autor que teve que fazer empréstimos de agiotas após a família abastada, aristocráticos cafeeiros, perder a fortuna com a crise econômica de 1929 nos Estados Unidos, que deixou de comprar o café brasileiro.

“Foi uma tentativa de aplicar o modernismo no teatro, que não alcançou o mesmo sucesso nas artes e na literatura. O texto foi escrito na década de 30, mas a peça foi encenada apenas em 1967 durante a ditadura militar e o espetáculo foi alvo de muitas críticas”, explicou.

Imagem ilustrativa da imagem Autores modernistas e maior poeta português na lista dos livros da UEL
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Melhores poemas - Fernando Pessoa (Global)

Outro critério da UEL é ter um representante português entre os 10 livros escolhidos para o biênio. Nos vestibulares 2023 e 2024, Fernando Pessoa está presente com “Melhores poemas”.

Abílio aconselha que, neste caso, o candidato deve ler a edição indicada pela UEL e prestar atenção, principalmente nos heterônimos de Fernando Pessoa, um dos maiores poetas de todos os tempos.

“Além da produção do ortônimo (nome real ou civil) de Fernando Pessoa, nós temos os heterônimos do autor português. É como se fosse outra personalidade de escrita, não é só um pseudônimo que ele assina, mas tem uma personalidade e escrita diferentes”, explicou o professor ao lembrar que Pessoa tinha vários heterônimos.

Entre os temas, o escritor modernista resgata a glória de um Portugal decadente depois dos anos dourados de Camões e das grandes navegações e usa aspectos da pátria, entre eles, o mar e o sofrimento.

Outro tema presente, de acordo com Júnior, é a metalinguagem, que é escrever sobre o próprio processo de criação da escrita, sendo que um dos poemas mais famoso se chama “Autopsicografia”.

“O poeta é fingidor, finge tão completamente, que chega a fingir que é dor a dor que deveras sente", recitou o professor antes de explicar o significado. “Não é porque ele está fingindo, que o poeta não está sentindo. De novo, a questão da fronteira tênue entre ficção e realidade, presente em algumas obras pedidas pela UEL neste ano.”

Responda ao simulado do Caderno 7 do Folha Vest

O seminarista - Bernardo Guimarães (domínio público)

Após a Independência do Brasil, no século XIX, o romantismo era a principal escola literária do País com foco no Rio e São Paulo, a capital política e o principal centro de desenvolvimento econômico, o que impulsionava a expansão cultural nesses dois núcleos.

O professor de literatura do Marista ressalta que Bernardo Guimarães foi o principal expoente do romantismo regionalista que provocou a ruptura do eixo Rio-São Paulo e mostrou aspectos culturais importantes do interior do Brasil.

Apesar disso, Abílio Júnior lembra que o autor de “O seminarista”, que se passa no interior de Minas Gerais, mantém no livro a principal característica do romantismo é que o ápice das idealizações românticas do personagem sofredor.

“A história central ocorre entre Eugênio e Margarida, que crescem juntos na mesma fazenda, mas ele é filho dos donos e ela filha da agregada. O livro trata do embate de Eugênio com os pais, que querem mandar o filho para o seminário. Ele almeja a vida clerical, mas descobre que também quer o amor de Margarida”, relata.

O professor destaca que o livro faz críticas à imposição familiar e à Igreja Católica, por causa da postura dos pais e do padre-diretor que mente para Eugênio continuar no seminário. Ele permanece até reencontrar Margarida e voltar ao maior conflito da história.

Cartas chilenas - Tomás Antônio Gonzaga (domínio público)

O livro de poema satírico é a obra mais antiga da lista de 10 obras da UEL. “Cartas Chilenas” é a representante do arcadismo do século XVIII e faz críticas ao governador da província de Minas Gerais em pleno Ciclo do Ouro, no Brasil Colônia.

“Tomás Antônio Gonzaga foi um dos inconfidentes, assim como grande parte dos poetas árcades eram revolucionários em busca da independência de Portugal”, lembrou o professor Abílio Júnior.

Mas, as críticas eram feitas com pseudônimo para evitar que o autor fosse preso e morto. Outra estratégia foi distanciar a localização geográfica. Assim, o Chile representava Minas Gerais e a capital Santiago, a cidade mineira de Ouro Preto.

“O livro apresenta todos os tipos de críticas ao governador da província, mas a linguagem é muito difícil, pois o arcadismo retoma os aspectos clássicos da poesia, entre elas, a preocupação com a métrica, as construções complexas e linguísticas. Mais importante do que ler o livro, é importante que o aluno entenda o contexto”, aconselhou.