Voisin obtém mais retorno do boi
PUBLICAÇÃO
sábado, 15 de janeiro de 2000
Jota Oliveira
De Londrina
Os defensores do sistema desenvolvido por André Voisin afirmam que ele barateia a produção de carne e/ou leite, além de preservar o ambiente. Trata-se de um conjunto de piquetes nos quais o gado pasteja em rotação, deixando sempre as parcelas sem pisoteio na maior parte do ano. Além disso dispensa o uso de uréia e adubos solúveis que alteram o equilíbrio do solo e com o passar do tempo impedem que as plantas aproveitem os nutrientes.
Devido à necessidade de renovações periódicas das pastagens, o método convencional tem custo elevado: nos últimos 25 anos teriam sido gastos em formação e reforma de pastagens, pelos pecuaristas brasileiros, cerca de US$52,5 bilhões, dos quais US$12,5 bilhões em reforma, a US$250,00 o hectare e US$40 bilhões em formação (US$666,666/ha), incluindo custo da derrubada do mato ou cerrado. Para instalar o método Voisin, o pecuarista gastaria, a preços de hoje, entre R$120 e R$180 por hectare. Os investimentos principais são em cercas elétricas (R$80,00 o hectare) e abastecimento de água (R$30 a R$50/ha). Não é instalado tanque de água em todos os piquetes do Voisin, mas apenas em alguns, para aonde o gado é conduzido às 10 horas e fica ali até as duas da tarde, aproveitando o período mais quente do dia. Nesses piquetes é feito sombreamento, mas o cocho de água é deixado ao sol, porque bovino gosta de água quente.
RetornosA grande vantagem, diz Sório Júnior, é que o Voisin dispensa a renovação, porque o pisoteio menos intenso diminui o índice de degradação das pastagens e do solo; no método usual é necessário renovar pastagens em períodos de 5 a 6 anos; os dejetos do gado (estrume e urina) substituem, a custo zero, os nutrientes industriais.
Dos elementos úteis que ingerem, os bovinos devolvem nos dejetos 70% do nitrogênio, 80% do fósforo, 90% do potássio e 95% dos micronutrientes, e reaproveitam 70% da matéria orgânica, segundo a FNP Consultoria & Comércio, no Anualpec 98.
A pecuária brasileira pode ser a maior do Mundo, porque o País tem as melhores condições: colocado entre o Trópico de Capricórnio e o Equador, cria ali predominantemente zebuínos (animais de origem indiana, de clima tropical), com destaque para o nelore um dos maiores presentes que o Brasil ganhou, na opinião de Humberto Sório Júnior e o gir que, cruzado com a leiteira holandesa, deu origem à raça brasileira girolando.
Sório lembra que, quando os primeiros bovinos chegaram ao Brasil, havia aqui apenas pastagens nativas não ruins, mas não tão eficientes quanto o material trazido mais tarde da África e de outras regiões. O Governo deu incentivos ficais, financeiros (através de instrumentos como o Pólo Cerrado, o Pólo Centro), para substituição dos capins nativos, degenerados pelo uso. Eles foram substituídos por gramíneas africanas (as braquiarias, colonião, andropogon) que aumentaram a capacidade de suporte dos pastos.
Essa nova capacidade também foi caindo, pelo uso intensivo das pastagens, e os pecuaristas foram obrigados a reformar de novo. Hoje o Brasil tem 60 milhões de hectares de pastagens tropicais formadas no período 1965-90 ou 70-95), nos quais foram gastos cerca de US$52,5 bilhões.
Daí a baixa rentabilidade da pecuária brasileira. Não pela produtividade, mas devido à tecnologia para reforma das pastagens. Enquanto isso, todos os produtores que adotaram o método Voisin tiveram rentabilidade, pois deixaram de gastar com reforma, afirma Sório Júnior. O especialista destaca que a Embrapa tinha a receita da reforma, mas não como evitar a degradação das pastagens e ficou provado que quanto mais tecnologia, mais cara se torna a pecuária.
Com o método Voisin não é preciso reformar pastagens. Nesse sistema um hectare suporta de 300 a 400, até 500 quilos de peso vivo, com margem de lucro de 60%, por evitar gastos com adubação.