Uso de agrotóxicos no Brasil é compatível com a área cultivada
PUBLICAÇÃO
sexta-feira, 07 de abril de 2023
Engenheiro Agrônomo Amélio Dall’Agnol
É recorrente a acusação contra o Brasil por, supostamente, utilizar quantidades exageradas de agrotóxicos em seus processos produtivos agrícolas. No entanto, para enquadrar corretamente um país no ranking dos consumidores de agrotóxicos, o que interessa saber não são as toneladas do produto que o país consome, mas o quanto é utilizado por área cultivada. Nesse ranking o Brasil, certamente, está longe de figurar entre os primeiros colocados, apesar de ser um país tropical, onde a incidência de pragas e doenças é mais severa e a intensidade da produção agrícola, também.
Além disso, é importante lembrar que grande parte da área cultivada com grãos no Brasil é semeada em Sistema de Plantio Direto, onde a demanda de herbicidas para a dessecação pré semeadura é enorme. Se não utilizássemos esse sistema, as áreas teriam que ser mobilizadas em preparo convencional do solo, gerando sérios problemas de erosão e consumo excessivo de combustíveis fósseis. Consumiria menos agrotóxicos, mas emitiria muito mais gases de efeito estufa.
Quanto ao clima, o Brasil poderia considerar-se prejudicado, por não contar com invernos rigorosos que reduzem a população das pragas, como acontece com os países localizados distante da linha do Equador. Por outro lado, no entanto, enquanto esses países aguardam a neve derreter para realizar o plantio da primavera, o Brasil está colhendo sua segunda ou, até, terceira safra do ano.
Se bem necessário, o agrotóxico poderia ser utilizado em menores quantidades, se o agricultor optasse pelo manejo integrado de insetos-praga, doenças e plantas daninhas, que inclui os controles cultural e biológico, além do químico. Também, o custo do agrotóxico fica mais em conta quando produtos genéricos são utilizados, o que, a bem da verdade, já é feito pela maioria dos produtores brasileiros, dado o crescimento das indústrias do setor estabelecidas recentemente no país.
Segundo a ANVISA, nos últimos vinte anos, o mercado brasileiro de agrotóxicos cresceu mais de 200%, contra menos de 100% no resto do mundo. Mas, similar ao que ocorre com o PIB vs. a renda per cápita de um país, o que mais importa é o montante de recursos gerados por habitante e não o total de riqueza gerada pelo país. O PIB chinês, por exemplo, é muitas vezes maior que o do Brasil, mas a renda per capita dos seus cidadãos não é muito maior do que a do do brasileiro.
A pesquisa tem desenvolvido produtos cada vez mais eficientes e menos tóxicos para os seres vivos e para o meio ambiente. É importante estimular que as pesquisas sejam feitas nesse sentido e, também, para que sejam buscadas alternativas outras, como resistência genética ao uso de agrotóxicos.