UEL conquista patente por invenção de fungicida
Produto biológico promete menor impacto ambiental e sem risco para a saúde humana; pode ser aplicado em soja, feijão e milho
PUBLICAÇÃO
sábado, 14 de janeiro de 2023
Produto biológico promete menor impacto ambiental e sem risco para a saúde humana; pode ser aplicado em soja, feijão e milho
Lucas Catanho - Especial para a FOLHA

A UEL (Universidade Estadual de Londrina), por meio do Labim (Laboratório de Biotecnologia Microbiana) conquistou uma patente de invenção de um fungicida que poderá ser utilizado em culturas como soja, feijão e milho. A concessão pelo Inpi (Instituto Nacional da Propriedade Industrial) tem duração de 20 anos – até dezembro de 2042.
“Essa conquista representa a possibilidade do licenciamento de uma tecnologia genuinamente brasileira de baixo impacto ambiental e sem risco para a saúde humana”, resume Admilton Gonçalves de Oliveira Junior, professor vinculado ao Departamento de Microbiologia do Centro de Ciências Biológicas e coordenador do Labim.
Entre outras aplicações, o bioproduto pode ser empregado no manejo da soja contra o mofo-branco e a ferrugem asiática, doenças com alto potencial de prejuízo para essa cultura no Brasil e que podem ocasionar perdas significativas de produtividade.
"Não basta aumentar a produtividade, é preciso utilizar uma abordagem mais sustentável, que envolva produção e cuidado com o ambiente, de forma a garantir a segurança alimentar para as futuras gerações", explica o professor. Ele lembra que é um grande desafio a produção de alimentos suficientes para uma população estimada em 9 bilhões de pessoas em 2050 e, ao mesmo tempo, preservando a natureza.
"É importante destacar que este projeto permitiu o fortalecimento da linha de pesquisa do laboratório e a integração entre pesquisadores e estudantes, contribuindo para a formação de recursos humanos qualificados, bem como para o desenvolvimento da ciência, tecnologia e inovação do Labim/UEL", adirma Oliveira Junior.

A invenção está em processo para se tornar um produto em escala comercial, já em fase de licenciamento pela Aintec (Agência de Inovação Tecnológica), ligada à UEL.
FOLHA: Pode detalhar que invenção é esta?
Admilton Gonçalves de Oliveira Junior: A invenção compreende uma composição formulada contendo metabolitos bioativos, produzidos durante o processo de fermentação líquida submersa por Bacillus velezensis, da linhagem CMRP4490, e pode ser utilizada para o tratamento de parte aérea de plantas, ou aplicação em solos e/ou tratamento de sementes. O produto é capaz de melhorar a qualidade do solo, o rendimento e a qualidade da safra, o que consequentemente oferece uma maior sustentabilidade agrícola em comparação aos métodos tradicionais.
Quais os outros diferenciais dessa invenção?
Um dos principais diferenciais são as combinações variadas para sua utilização, tornado sua serventia muito maior quando comparada a métodos convencionais. O usufruidor da tecnologia optará por utilizar-se da tecnologia em ambientes diferentes (sementes, solo e/ou parte aérea de plantas), e em apresentações diferentes (líquida, pó molhável, grânulo espalhável, grânulo molhável, ou imobilizada em micro ou nanopartículas poliméricas molháveis), permitindo muita adaptabilidade às necessidades concretas do meio infectado.
Outros diferenciais são a alta estabilidade térmica e a variação de pH dos ambientes, o que permite que nossa tecnologia não necessite de armazenamento refrigerado, podendo ser usada nos mais diferentes tipos de ambiente e solo.
Quanto tempo duraram as pesquisas até chegar a essa invenção?
As pesquisas começaram em 2017 e permanecem até hoje. Já temos nova patente que será submetida no início de 2023, com novas descobertas de processos e aplicações para o mesmo princípio ativo, o Bacillus velezensis CRMP4490.
Quais órgãos participaram da pesquisa?
Esta pesquisa foi viabilizada por meio de projeto CNPq Bolsa Produtividade em Desenvolvimento Tecnológico e Extensão Inovadora, edital de 2018 (Bolsa DT-2), e atualmente renovada em 2021 (Bolsa DT-1D), que está dando apoio para novas descobertas.
Todo o desenvolvimento desta tecnologia aconteceu dentro da UEL, com pesquisadores dos Departamentos de Microbiologia, Medicina Veterinária Preventiva e Agronomia.
Por que os pesquisadores decidiram fazer o registro?
Nosso grupo de pesquisa trabalha com desenvolvimento de produtos microbiológicos como única forma de manejo ou no contexto do manejo integrado de pragas, ervas daninhas e doenças fitopatogênicas para uma produção de alimentos mais sustentável, menor impacto ao ambiente e a saúde humana, corroborando com os anseios de uma sociedade que exige cada vez mais produtos e processos seguros, limpos e de baixo impacto ambiental.
Com os registros de nossas tecnologias, não é só a universidade que ganha, mas também a sociedade em geral. A patente é um dos indicadores de que a universidade está investindo em inovação e, com o licenciamento, a universidade recebe o retorno pelos royalties e esses recursos são reinvestidos em novas pesquisas de inovação e formação de recursos humanos com alta especialidade para poder ingressar no mercado de trabalho.

