Imagem ilustrativa da imagem Três irmãos em Londrina
| Foto: Marco Jacobsen

Final dos anos sessenta e a vida não estava fácil porque Assis era uma cidade que não oferecia emprego. Nossos pais resolveram que, além de estudar, os maiores teriam que trabalhar. O Santana (Dadá) terminara o científico e, como não queria estudar mais, foi tomar conta da nossa chácara e eu estava cursando Letras; o Idivar, a Idivanda e o Édson vieram então para Londrina continuar os estudos e trabalhar.

Por um tempo, a Idivanda ficou na casa do Pedro Moreira, um primo dos nossos pais, em frente à Santa Casa. O Idivar e o Édson arrumaram lugar numa república na Rua Bahia. Lá moravam uns rapazes do Rancho Alegre, nosso primo Paulinho, o Jair e outros. O Idivar estudava o científico no “Vicente Rijo” e arrumou emprego no Banco Comercial de São Paulo; minha irmã foi estudar e trabalhar no Colégio São Paulo, época do Padre João e Padre Alberto; o Édson estudou parte do ano neste colégio também e depois foi para o “Marcelino Champagnat “. Ele saía quase todos os dias para procurar emprego, mas ninguém dava porque estava na idade de fazer o alistamento militar. Nessa época, a ULES funcionava e eles faziam suas refeições lá. Quando vinham ou iam para o centro, os meus irmãos e muitos outros jovens cortavam o caminho pela ferrovia e sempre dava certo. Eles se penduravam em algum vagão e, nas manobras, quando o trem pegava velocidade, pulavam rapidinho. Era muito arriscado, mas não tinham ideia do perigo.

Quando o papai vinha de Assis ver os três, iam para a casa do primo. Passavam o dia e depois quando voltavam para a república, a Terezinha lhes dava um pão caseiro que ela mesma fazia para comer durante a semana. Uma delícia ! E era uma massa linda, depois de ser passada no cilindro cem vezes. Verdade !! E o Pedro cilindrava e contava. Não demorou muito, o Tio Benício, irmão do meu pai, veio morar em Londrina e levou a Idivanda e o Édson para morar com ele, no Parque Alvorada.

No final do ano, nossa família mudou para Londrina. Todos se formaram: o Jair é dentista e ficou na cidade; o primo Paulo Roberto é médico e voltou para Rancho Alegre; o Idivar trabalhou na Skol, Sercomtel e aposentou-se na Embrapa; a Idivanda foi para o BB e é professora no IEEL; o Édson trabalhou na Viação Garcia, na Cipasa e trabalha no HU.

Hoje, no isolamento com a família, não vale ficar estressado, com raiva, depressivo. Além de limpar, organizar gavetas e armários, assistir a bons filmes, séries policiais, ler livros - tenho três começados ao lado da cama - mexer com as plantas, sentar no computador e rever fotos das minhas viagens, é bom relembrar o passado. Apesar das dificuldades por que passamos, serviram para o nosso crescimento e amadurecimento. Aos sábados, improvisamos um altar em frente à TV e assistimos à missa do Santuário Nacional de Aparecida, rezamos pelas famílias que perderam entes queridos, por todos nós, pelo Brasil e pelo mundo inteiro, pedindo o fim de tudo isso.

Vamos sim, recordar momentos felizes, viver o presente, porque do futuro, só Deus sabe.

Idiméia de Castro, leitora da FOLHA