A tilápia, espécie de peixe que caiu no gosto do brasileiro, vem ganhando, cada vez mais, espaço dentro da piscicultura paranaense. Em 2019, a espécie representava 87,6% da produção de pescados no Estado. Em 2023, a participação subiu para 91,9%, segundo levantamento realizado pelo Deral (Departamento de Economia Rural), órgão ligado à Seab (Secretaria Estadual de Agricultura e Abastecimento).

Edmar Gervásio, analista do Deral, considera natural o crescimento da participação da tilápia dentro da piscicultura praticada no Paraná. “A produção de tilápia é o principal item, sendo que já há expertise das cooperativas e um sistema de integração, então considero natural esse crescimento”, pontua.

Enquanto o crescimento no volume produzido de pescados no Paraná ficou em 6% de 2022 para 2023, a alta no VBP (Valor Bruto da Produção) nesse mesmo período chegou a 27%, ou seja, quase cinco vezes mais. “O VBP é a multiplicação da produção pelo preço médio do ano. Como houve um aumento dos preços de pescados, em termos de valor o crescimento foi maior”, analisa.

SUL E SUDESTE

A maior parte da tilápia produzida no Paraná é destinada para estados do sul e do sudeste do país. Mas a exportação de pescados vem crescendo no Estado, como mostrou o Boletim de Conjuntura Agropecuária do Paraná, divulgado no dia 25 de julho pelo Deral.

Segundo o levantamento do Deral, a exportação de pescados cresceu 20% no Paraná no primeiro semestre de 2024, alcançando 3,26 mil toneladas, contra 2,7 mil toneladas no mesmo período do ano passado. O montante financeiro nesse período também teve alta, ainda mais expressiva, de 82%, chegando a US$ 16,3 milhões, contra US$ 8,9 milhões do primeiro semestre de 2023.

O principal destino do pescado paranaense no exterior é os Estados Unidos, que concentram 98% das exportações. Foram US$ 15,9 milhões vendidos para o país norte-americano, majoritariamente de tilápia, segundo dados compilados pelo Ipardes (Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social).

MAIOR PRODUÇÃO

O município que mais produziu pescados em 2023 foi Nova Aurora, localizada na Região Metropolitana de Cascavel, oeste paranaense. O produtor Thiago Grigani Voss cria tilápia em Nova Aurora há 16 anos. Hoje, 100% da produção em sua propriedade é destinada à Copacol. Segundo a Secretaria Municipal de Agricultura, Pecuária, Aquicultura e Meio Ambiente, a cooperativa dispõe de um frigorífico que abate cerca de 150 mil unidades de tilápia por dia no município.

Thiago Voss espera produzir este ano 650 toneladas de tilápia, em sua propriedade, em Nova Aurora
Thiago Voss espera produzir este ano 650 toneladas de tilápia, em sua propriedade, em Nova Aurora | Foto: Arquivo Pessoal

A expectativa de produção na propriedade de Thiago neste ano é quase três vezes maior do que no ano passado – 650 toneladas de peixes, contra 212 toneladas produzidas em 2023. “Mas espero obter um preço um pouco menor, já que o mercado estava mais aquecido no ano passado”, pontua.

Para obter o máximo desempenho em volume e qualidade, Thiago adota uma série de ações que incluem cuidados com a qualidade da água, oxigenação, alimentação das tilápias, entre outros. “Todos os detalhes fazem diferença na produção.”

Ele explica que a estrutura de produção é toda tecnológica. “Tem vários equipamentos que oxigenam a água, para monitorar a qualidade da água, tem gerador de energia elétrica, já que não podemos ficar um período longo sem energia”, lista. O produtor conta hoje com três funcionários.

CICLO DE NOVE MESES

Entre os desafios da atividade, Thiago cita o ciclo de produção e o tempo. “O ciclo é muito longo, em torno de 9 meses, então o produtor precisa de capital de giro. O maior desafio é contornar os efeitos do clima. No inverno é muito difícil porque o peixe não cresce, tem risco de perder peixe”, pontua.

Dados preliminares do Deral apontam que Nova Aurora produziu 19,5 mil toneladas de tilápia em 2023. A produção da espécie gerou um VBP de quase R$ 179,5 milhões. O VBP de pescados no município, por sua vez, atingiu R$ 213,4 milhões, o que representa 10,4% de participação na piscicultura paranaense.

Sobre a liderança de Nova Aurora, o técnico Edmar Gervásio destaca os investimentos das cooperativas no sistema integrado da região, uma das pioneiras na atividade.

Entre os desafios dos produtores, o analista cita os aspectos de logística, que ainda encarecem a atividade. “A atividade ainda é relativamente nova e pode evoluir em genética e mais qualidade da carne”, pontua.

NO TOPO

O Paraná se mantém como o estado que mais produz tilápia no Brasil, mostra o levantamento produzido pela Associação Brasileira da Piscicultura.

No ano passado, o estado produziu 209,5 mil toneladas da espécie, um crescimento em volume de 11,5% em comparação a 2022 (187,8 mil toneladas). Em seguida vem São Paulo, com 75,7 mil toneladas produzidas no ano passado.

“O Paraná é celeiro do cooperativismo no Brasil e a produção de pescados, especialmente a tilápia na região oeste, foi mais um item que as cooperativas agregaram ao seu portfólio para crescer”, explica o analista.

A concentração maior da produção de pescados no Paraná está na região oeste, sendo que os dez municípios com o maior VBP do setor em 2023 (Nova Aurora, Palotina, Assis Chateaubriand, Toledo, Terra Roxa, Maripá, Nova Santa Rosa, Guaratuba, Marechal Cândido Rondon e Tupãssi) totalizaram 58% do VBP total da piscicultura praticada no estado.

Dos 399 municípios paranaenses, 364 (mais de 90%) apresentaram alguma atividade de piscicultura em 2023.