Tilápia ganha mais espaço na piscicultura paranaense
A maior parte da tilápia produzida no Paraná é destinada para estados do sul e do sudeste do país. Nova Aurora é o maior produtor
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sexta-feira, 02 de agosto de 2024
A maior parte da tilápia produzida no Paraná é destinada para estados do sul e do sudeste do país. Nova Aurora é o maior produtor
Lucas Catanho - Especial para a FOLHA
A tilápia, espécie de peixe que caiu no gosto do brasileiro, vem ganhando, cada vez mais, espaço dentro da piscicultura paranaense. Em 2019, a espécie representava 87,6% da produção de pescados no Estado. Em 2023, a participação subiu para 91,9%, segundo levantamento realizado pelo Deral (Departamento de Economia Rural), órgão ligado à Seab (Secretaria Estadual de Agricultura e Abastecimento).
Edmar Gervásio, analista do Deral, considera natural o crescimento da participação da tilápia dentro da piscicultura praticada no Paraná. “A produção de tilápia é o principal item, sendo que já há expertise das cooperativas e um sistema de integração, então considero natural esse crescimento”, pontua.
Enquanto o crescimento no volume produzido de pescados no Paraná ficou em 6% de 2022 para 2023, a alta no VBP (Valor Bruto da Produção) nesse mesmo período chegou a 27%, ou seja, quase cinco vezes mais. “O VBP é a multiplicação da produção pelo preço médio do ano. Como houve um aumento dos preços de pescados, em termos de valor o crescimento foi maior”, analisa.
SUL E SUDESTE
A maior parte da tilápia produzida no Paraná é destinada para estados do sul e do sudeste do país. Mas a exportação de pescados vem crescendo no Estado, como mostrou o Boletim de Conjuntura Agropecuária do Paraná, divulgado no dia 25 de julho pelo Deral.
Segundo o levantamento do Deral, a exportação de pescados cresceu 20% no Paraná no primeiro semestre de 2024, alcançando 3,26 mil toneladas, contra 2,7 mil toneladas no mesmo período do ano passado. O montante financeiro nesse período também teve alta, ainda mais expressiva, de 82%, chegando a US$ 16,3 milhões, contra US$ 8,9 milhões do primeiro semestre de 2023.
O principal destino do pescado paranaense no exterior é os Estados Unidos, que concentram 98% das exportações. Foram US$ 15,9 milhões vendidos para o país norte-americano, majoritariamente de tilápia, segundo dados compilados pelo Ipardes (Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social).
MAIOR PRODUÇÃO
O município que mais produziu pescados em 2023 foi Nova Aurora, localizada na Região Metropolitana de Cascavel, oeste paranaense. O produtor Thiago Grigani Voss cria tilápia em Nova Aurora há 16 anos. Hoje, 100% da produção em sua propriedade é destinada à Copacol. Segundo a Secretaria Municipal de Agricultura, Pecuária, Aquicultura e Meio Ambiente, a cooperativa dispõe de um frigorífico que abate cerca de 150 mil unidades de tilápia por dia no município.
A expectativa de produção na propriedade de Thiago neste ano é quase três vezes maior do que no ano passado – 650 toneladas de peixes, contra 212 toneladas produzidas em 2023. “Mas espero obter um preço um pouco menor, já que o mercado estava mais aquecido no ano passado”, pontua.
Para obter o máximo desempenho em volume e qualidade, Thiago adota uma série de ações que incluem cuidados com a qualidade da água, oxigenação, alimentação das tilápias, entre outros. “Todos os detalhes fazem diferença na produção.”
Ele explica que a estrutura de produção é toda tecnológica. “Tem vários equipamentos que oxigenam a água, para monitorar a qualidade da água, tem gerador de energia elétrica, já que não podemos ficar um período longo sem energia”, lista. O produtor conta hoje com três funcionários.
CICLO DE NOVE MESES
Entre os desafios da atividade, Thiago cita o ciclo de produção e o tempo. “O ciclo é muito longo, em torno de 9 meses, então o produtor precisa de capital de giro. O maior desafio é contornar os efeitos do clima. No inverno é muito difícil porque o peixe não cresce, tem risco de perder peixe”, pontua.
Dados preliminares do Deral apontam que Nova Aurora produziu 19,5 mil toneladas de tilápia em 2023. A produção da espécie gerou um VBP de quase R$ 179,5 milhões. O VBP de pescados no município, por sua vez, atingiu R$ 213,4 milhões, o que representa 10,4% de participação na piscicultura paranaense.
Sobre a liderança de Nova Aurora, o técnico Edmar Gervásio destaca os investimentos das cooperativas no sistema integrado da região, uma das pioneiras na atividade.
Entre os desafios dos produtores, o analista cita os aspectos de logística, que ainda encarecem a atividade. “A atividade ainda é relativamente nova e pode evoluir em genética e mais qualidade da carne”, pontua.
NO TOPO
O Paraná se mantém como o estado que mais produz tilápia no Brasil, mostra o levantamento produzido pela Associação Brasileira da Piscicultura.
No ano passado, o estado produziu 209,5 mil toneladas da espécie, um crescimento em volume de 11,5% em comparação a 2022 (187,8 mil toneladas). Em seguida vem São Paulo, com 75,7 mil toneladas produzidas no ano passado.
“O Paraná é celeiro do cooperativismo no Brasil e a produção de pescados, especialmente a tilápia na região oeste, foi mais um item que as cooperativas agregaram ao seu portfólio para crescer”, explica o analista.
A concentração maior da produção de pescados no Paraná está na região oeste, sendo que os dez municípios com o maior VBP do setor em 2023 (Nova Aurora, Palotina, Assis Chateaubriand, Toledo, Terra Roxa, Maripá, Nova Santa Rosa, Guaratuba, Marechal Cândido Rondon e Tupãssi) totalizaram 58% do VBP total da piscicultura praticada no estado.
Dos 399 municípios paranaenses, 364 (mais de 90%) apresentaram alguma atividade de piscicultura em 2023.