A produtora Fernanda Laubstein conseguiu se organizar durante a pandemia e tem planos para processar alimentos no ano que vem
A produtora Fernanda Laubstein conseguiu se organizar durante a pandemia e tem planos para processar alimentos no ano que vem | Foto: Gustavo Carneiro

O uso da tecnologia para impulsionar a venda de produtos orgânicos veio para ficar entre os produtores paranaenses. A situação é atestada por especialistas e confirmada pelos agricultores.

“A pandemia forçou os produtores orgânicos a participarem desse meio tecnológico, trazendo um estímulo para eles usarem novas ferramentas”, destaca o engenheiro agrônomo Marcus Vinicius Medeiros, auditor de produtos orgânicos do Tecpar Certificação.

O coordenador estadual do programa Paraná Mais Orgânico, Rogério Barbosa Macedo, acrescenta que o produtor perdeu o medo com relação ao uso de novas ferramentas de comercialização.

“Isso não estava na agenda de prioridades porque havia os canais tradicionais de comercialização, mas a pandemia forçou os produtores a abrirem os olhos para essas novas formas e, sem dúvida, essas novas tecnologias devem ser absorvidas no cotidiano”, destacou.

O Paraná Mais Orgânico auxiliou os produtores nesse período distribuindo panfletos digitais para divulgar o trabalho e nomeou representantes em parceria com sete universidades estaduais para servirem como intermediários entre o público consumidor e os agricultores. A partir de 2021, expansão: Ivaiporã será a 8ª cidade a integrar o programa.

Macedo acrescenta que o programa Paraná Mais Orgânico fará uma pesquisa em 2021 para levantar dados atualizados sobre a comercialização online.

Dobrou

A produtora de hortaliças orgânicas em Londrina, Fernanda Laubstein, viu seu faturamento dobrar neste ano de pandemia, momento que a forçou a utilizar novas tecnologias para auxiliar na comercialização da produção.

Antes da pandemia, ela vendia a produção em duas feiras, às quintas e aos sábados. “A pandemia chegou e ficamos sem feiras, daí isso exigiu a nossa organização”, relembra.

A explosão de pedidos trouxe um desespero inicial. Primeiro, Fernanda criou apenas um grupo de WhatsApp, mas a ferramenta sozinha era muito trabalhosa para ela e para os clientes. “Sofri bastante no começo”, relembra.

Para lidar com a explosão de pedidos de maneira mais organizada, Fernanda colocou no ar, em agosto, um site (goomer.app/alimentaria) pelo qual o cliente escolhe os produtos, coloca no carrinho virtual e já faz o pagamento.

“Quando o pedido é concluído, chega mensagem pelo WhatsApp”, explica a produtora. As entregas são feitas três dias por semana – terça, quinta e sábado.

Antes, Fernanda copiava num papel os pedidos para montar as entregas, o que era muito trabalhoso. “Comprei uma impressora em setembro e facilitou muito, agora já tenho tudo o que preciso para fazer a montagem”, explicou. Hoje, ela faz até 45 entregas por semana.

Além da criação do site, Fernanda intensificou a produção de conteúdo no Instagram (@alimentarialondrina) desde setembro. O resultado, segundo ela, tem sido a conquista de mais clientes.

“Trago informações nutricionais dos produtos em parceria com uma nutricionista, mostro os cultivos na horta, o nosso dia a dia plantando e colhendo. Isso imediatamente atraiu novos seguidores e não demorou nada para que esse interesse se transformasse em novos pedidos”, explicou.

Para 2021, Fernanda já tem uma série de planos para aumentar ainda mais o faturamento. “Pretendo participar da feira junto à rede de Economia Solidária, no Calçadão. Além disso, quero estruturar uma cozinha para processar alguns alimentos e produzir molho de tomate e polpas congeladas de frutas, por exemplo. Com esse processamento, vou evitar o desperdício e ampliar o leque de produtos”, conclui.

Feirão se manteve em ambiente virtual

A produtora de orgânicos do Assentamento Eli Vive (a cerca de 50 km de Londrina), Jovana Cestille, explica que, desde maio, o Feirão da Resistência e da Reforma Agrária se transformou em um ambiente virtual para auxiliar na comercialização da produção.

“Começamos a utilizar listas de transmissão do WhatsApp para divulgar o feirão”, afirmou Jovana. A gama de produtos é extensa: são orgânicos in natura, além de produtos agroindustrializados, como laticínios, feijão, derivados de milho e de cana, entre outros.

Os links do feirão podem ser acessados no Facebook do Marl (Movimento dos Artistas de Rua de Londrina) ou nos perfis do MST do Paraná – Facebook (MSTNortePR) ou Insta (@mstnortepr).

Jovana destaca que, com o advento do feirão virtual, foi possível ampliar a gama de produtos oferecidos aos clientes.

“A previsão é que no ano que vem a gente crie um site para facilitar a comercialização, o controle de estoque e a prestação de contas, já que a parte administrativa ainda é bem difícil. E quando voltar o feirão presencial, iremos voltar ao Canto do Marl [Movimento dos Artistas de Rua de Londrina], mas mantendo as vendas online”, concluiu.

Expansão do mercado

A Organis (Associação de Promoção dos Orgânicos) fez uma enquete sobre o consumo de orgânicos na pandemia e constatou que aumentou em 44,5% a aquisição desses itens entre março e setembro no País.

“As pessoas estão mais em casa, cozinhando mais. Além disso, a maior preocupação com a saúde refletiu em uma maior busca por uma alimentação mais saudável”, explicou Marcus Vinicius Medeiros, auditor de produtos orgânicos do Tecpar Certificação.

Desde março, o Tecpar vem fazendo avaliações remotas das propriedades para verificar se os produtores estão cumprindo a legislação. A mudança começou após ofício do Ministério da Agricultura que permitiu as inspeções remotas. “No caso das propriedades nunca vistoriadas, houve suspensão e voltou agora em outubro com visitas in loco, com todas as medidas de segurança”, concluiu.

Ranking

De acordo com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, o Paraná respondeu, em novembro, por 15,44% dos produtores de orgânicos certificados do Brasil. Havia, ao todo, 3.447 unidades de produção.

Esse número classifica o Estado como o que abriga a segunda maior quantidade de propriedades rurais certificadas em todo o País, atrás apenas do Rio Grande do Sul, com 3.588 produtores certificados (16,07% do total).