Uma startup de Londrina foi a responsável por desenvolver a rastreabilidade via blockchain em um lote de um café orgânico que acaba de ser exportado para o Japão. A carga foi remetida ao Oriente na última-segunda-feira (16).

Ao acessar o QR Code, é possível conhecer as principais informações da fazenda que exportou o produto, como a localização, os tratos culturais utilizados, a época de colheita, o sistema de secagem, o número do lote, a variedade e as características necessárias para ser considerado um café especial.

“Pelo fato de a Fazenda Minamihara ser 100% orgânica, é importante mostrar como produzem e conquistar a confiança do seu consumidor”, explica George Hiraiwa, CEO da Arabyka, startup responsável por implementar essa tecnologia. A fazenda que exportou o café está localizada em Franca, no interior de São Paulo .

George Hiraiwa, CEO da Arabyka:  "Para o consumidor, a importância de conhecer onde e como seu alimento está sendo produzido”
George Hiraiwa, CEO da Arabyka: "Para o consumidor, a importância de conhecer onde e como seu alimento está sendo produzido” | Foto: Arquivo Folha

Hiraiwa acrescenta que a Arabyka já havia feito uma POC (Prova de Conceito) em dezembro de 2019, quando a Nucoffee exportou para a Polônia utilizando a tecnologia blockchain, mas trata-se da primeira carga remetida para o Japão.

“Para o produtor, a tecnologia ajuda ao garantir a autenticidade e a segurança das informações, conferindo maior confiabilidade aos dados. Para o consumidor, a importância de conhecer onde e como seu alimento está sendo produzido”, destaca.

O CEO destaca que, com a aceleração da digitalização, o consumidor será o protagonista no processo de rastreabilidade. “Creio que, em um futuro próximo, o consumidor estará ávido por saber onde e como está sendo produzido o alimento, então esse processo deverá ganhar muita força. Será uma grande oportunidade para o Brasil mostrar ao mundo que produzimos alimentos seguros e sustentáveis”, pontuou.

Hiraiwa lembra que a tecnologia de rastreabilidade blockchain já é bem difundida na Europa.

“O processo de rastreabilidade ideal não é por alguma lei ou imposição do governo. O produtor tem que sentir que o consumidor dele quer saber como está produzindo, onde, aí sim é um processo que a tecnologia pode ajudar muito. Nós sabemos produzir com sustentabilidade e com qualidade, seguindo todas as normas globais de produção”, conclui.

Saca de café especial exportada ao Japão traz QR Code com as principais informações sobre o produto
Saca de café especial exportada ao Japão traz QR Code com as principais informações sobre o produto | Foto: Divulgação

A tecnologia desenvolvida pela Arabyka foi apresentada durante a 23ª edição do Seminário Internacional do Café, evento realizado no começo de maio com a presença de tradings, produtores, cooperativas, empresas e diversos prestadores de serviços no Guarujá, litoral paulista.

SUPERESPECIAL

O produtor do café exportado, Anderson Mitsuhiro Minamihara, explica que se trata de um lote de café superespecial, que pode chegar a 90 pontos na classificação, amanteigado, com sabor de frutas vermelhas e a doçura do mel.

Uma escala de 0 a 100 pontos avalia o desempenho de cada grão provado. Para ser considerado um café especial, ele precisa atingir o mínimo de 80 pontos de acordo com a metodologia SCA (Specialty Coffee Association), usada no mundo todo.

Para se chegar à pontuação, são avaliados os seguintes atributos: fragrância/aroma; uniformidade; ausência de defeitos; doçura; sabor; acidez; corpo; finalização; harmonia e conceito final. Esse último quesito é a impressão geral sobre o café, atribuída pelo classificador, sendo a única parcela de subjetividade do classificador na avaliação da amostra.

“Esse primeiro lote, de 9 sacas, está utilizando 100% de tecnologia blockchain da Arabyka que vai apresentar informações como época e tipo de colheita, secagem, lote, variedade, tempo de descanso, dia e padrão de exportação. Os outros membros da cadeia, como torrefadores e cafeterias, também podem inserir suas informações durante o processo de venda, até chegar ao consumidor final”, explica.

A tecnologia foi utilizada pelo produtor pela primeira vez. “É importante pela rastreabilidade, garantindo segurança, transparência e com isso podemos conseguir continuar uma pós-venda do produto.”

A produção do café Minamihara conta com manejo orgânico próprio e ocorre em 100 hectares sombreados por abacateiros. Hoje, o agricultor integra a 4ª geração produzindo cafés de qualidade em Franca, interior paulista.

Desde 2006, o café especial vem sendo exportado para o Japão. Em 2017, a expansão das vendas externas passou a abranger Estados Unidos e Europa.

HUB

A Arabyka é uma das startups que integram o hub Cocriagro, com sede em Londrina. “A conexão entre startups e produtores é um passo importante para que o agro brasileiro se fortaleça cada vez mais, principalmente, nos mercados internacionais”, destaca Tatiana Fiuza, head de inovação do hub.

Toda a operação, até chegar às mãos da japonesa UCC (Ueshima Coffee Corporation), conta ainda com orientação e parceria da trading Cafebras.