Sucessão rural requer preparo e planejamento
Ignorar o processo gera perdas de relacionamento e financeiras, muitas vezes irrecuperáveis; programa criado em 2015 prepara sucessores
PUBLICAÇÃO
sábado, 23 de julho de 2022
Ignorar o processo gera perdas de relacionamento e financeiras, muitas vezes irrecuperáveis; programa criado em 2015 prepara sucessores
Lucas Catanho - Especial para a FOLHA
A sucessão rural é um tema necessário que requer muito preparo e planejamento. O maior desafio hoje é quebrar o tabu de não falar sobre o assunto em família, aproveitando o ambiente favorável e de confiança para se iniciar o diálogo a respeito do tema.
O alerta é de Luciana Matsuguma, técnica do Departamento Técnico do Sistema Faep/Senar-PR. “O maior erro é a espera do acontecimento para pensar no assunto, gerando perdas de relacionamento e financeiras, muitas vezes irrecuperáveis em todos os aspectos”, explica.
De acordo com ela, conhecimentos precisam ser esclarecidos entre o grupo familiar, como por exemplo, se todos os filhos são herdeiros, mas nem todos são sucessores. “Quanto mais cedo essa decisão for tomada, melhor será o futuro. Pois o sucessor precisa ser preparado e profissionalizado para assumir o posto. Afinal, como fazer a sucessão se não sabemos quem vai ser?”, indaga.
É incomum o sucessor não ser da família, mas é possível. “A partir da profissionalização, uma empresa familiar pode preparar ou contratar um gestor, pois nem todos os herdeiros podem ser um sucessor, levando em consideração seu perfil profissional, uma vez que, em alguns casos, filhos de produtores têm optado por outras profissões por desenvolverem competências e habilidades em outras áreas.”
Para promover preparo a respeito do tema, o Sistema Faep Senar-PR criou em 2015 o programa Herdeiros do Campo, a partir de uma parceria com a empresa Belagrícola.
“Essa parceria se aprofundou com a discussão do tema em conjunto com um Grupo Técnico do Sistema Faep/Senar e um grupo de especialistas convidados. Atualmente é realizado pelo Senar em parceria com os sindicatos rurais, empresas agropecuárias e cooperativas.”
Nos últimos sete anos, 500 famílias já foram capacitadas. “A sucessão é de vital importância para a longevidade da sustentabilidade dos sistemas de produção e integração e também para a garantia dos projetos agroindustriais.”
O PROGRAMA
O Herdeiros do Campo é um curso educacional que tem como objetivo despertar a família rural para o planejamento sucessório, considerando as três dimensões: família, empresa (negócio) e propriedade (patrimônio).
Nesse programa, os participantes iniciam a construção de um plano sucessório de sua empresa rural. Por isso, é requisito que participem membros de duas ou mais gerações de uma mesma família.
Todo esse conteúdo é abordado a partir de atividades, interação e análise de situações voltadas para a realidade vivida por cada um. Com isso, fica mais fácil vislumbrar que caminhos devem ser seguidos por cada família.
O programa é composto por um encontro de integração de 4 horas e cinco encontros temáticos de oito horas cada, além de uma orientação de duas horas por família com intervalo de 7 (mínimo) e 15 dias (máximo).
Ao longo de 46 horas de atividades, os participantes conhecem e vivenciam temas diretamente relacionados ao processo de sucessão familiar, como visão estratégica; sucessão, direito sucessório e governança; mediação de conflitos e construção de confiança.
Três gerações
A família da administradora de empresas Bárbara Frederico Magro participou em peso do curso sobre sucessão rural há cerca de 4 anos. Em 2018, dois membros da segunda geração e outros dois da terceira geração passaram pela preparação. O empreendimento familiar começou ainda na década de 1940 pelas mãos do avô dela, Francisco Frederico, falecido em 2017
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Bárbara considera que trabalhar a sucessão rural de maneira antecipada traz a vantagem de vivenciar na prática a experiência dos mais velhos, aliada à mente rápida e cheia de novidades dos mais novos.
“Passar para a próxima geração todos os valores que foram cultivados na empresa fazem com que exista essa continuidade. Vejo que nós não só trabalhamos com agricultura, mas também aprendemos a amar esse trabalho, a terra e tudo o que fazemos aqui. Conhecimento nunca é o bastante, sempre buscamos nos manter atualizados, seja no setor produtivo com suas novas tecnologias quanto na área administrativa.”
A propriedade da família fica em uma área rural da zona sul de Londrina, perto de Cambé. A atividade começou com café, depois veio o gado leiteiro e hoje os focos são soja, milho e trigo. Atualmente, sete membros da 2ª e 3ª gerações da família se dividem entre os setores produtivo e administrativo – Barbara e a prima Maíra, inclusive, são formadas em administração de empresas.
INÍCIO
O produtor rural José Felisberto da Silva e o filho mais novo, Gabriel, acabaram de começar o curso sobre sucessão rural. Segundo Felisberto, a escolha pelo treinamento foi fortalecer a visão da família sobre o tema. “Já estamos desenvolvendo na prática, mas tecnicamente precisamos saber mais sobre leis e como funciona o processo”, explica.
Hoje, José Felisberto tem 3 filhos que trabalham na propriedade. “Se algum deles ou mesmo todos quiserem seguir com as atividades, o caminho já está aberto. Caso não queiram, que sigam o que os façam felizes.”
Felisberto administra a propriedade, trabalhando na atividade agrícola e na pecuária. A esposa, Ilza, ajuda nas finanças, na produção de leite e queijo para o uso familiar, além de cuidar do lar. O filho mais velho, Aldair, cuida da parte burocrática dos aviários, e os herdeiros mais novos, Daniel e Gabriel, são responsáveis pelos cuidados nos aviários.
Felisberto está se antecipando ao tema sucessão para estruturar os negócios para o futuro. “As famílias devem olhar mais para esse tema, pois a gente vê muitas famílias sucumbirem quando o pai ou a mãe faltam e acabam perdendo tudo por não estarem preparadas para administrar.”
Sobre como a sucessão vai se desenhar no futuro, Felisberto pondera que esse processo deverá levar muitos anos. “É necessário amadurecer a ideia para ver quem tem vocação e seguir a tradição de produzir alimentos. Sou a 3ª geração na atividade”, diz.
A propriedade da família fica em São Miguel do Iguaçu, no extremo oeste do Paraná. A principal atividade é a avicultura de corte, mas atualmente são produzidos vários alimentos para consumo do núcleo familiar no sítio, tais como frutas, verduras, leite, queijo, nata, carne bovina e suína.
PÚBLICO
Podem participar do curso produtores proprietários de imóveis rurais e suas famílias, de duas a quatro pessoas por família. É obrigatória a participação de duas gerações e a idade mínima dos herdeiros é de 15 anos.
As turmas devem ser negociadas antecipadamente entre o Sindicato Rural cooperado e o Sistema Faep/Senar-PR por meio de seus supervisores regionais. “Se grupos familiares de uma empresa ou cooperativa tiverem interesse, podem procurar a administração dessa empresa para contatar os escritórios regionais do Senar”, conclui a técnica Luciana Matsuguma.
SERVIÇO
Para mais informações sobre os escritórios regionais do Senar-PR, basta acessar: sistemafaep.org.br/estruturas-fisicas/#regionais
Cooperativa lança programa voltado a adolescentes
A Coamo lançou recentemente o FuturoCoop, um programa de desenvolvimento voltado para adolescentes. O objetivo é contribuir para o desenvolvimento desses jovens envolvidos com a cooperativa, evidenciando a força do cooperativismo dentro do agronegócio. Com uma linguagem apropriada para a faixa etária de 13 a 17 anos, o foco é preparar os futuros sucessores das propriedades.
Ao todo, serão seis encontros de quatro horas, uma vez por semana nas unidades de Campo Mourão (PR), Mamborê (PR) e Toledo (PR), as primeiras desse novo programa de educação promovida pela cooperativa.
Durante os módulos serão abordados os seguintes temas: “Se conhecendo”; “Se descobrindo”; “Se desenvolvendo”; e “A importância das relações e de saber se comunicar e educação financeira para o futuro”. O encerramento será no sexto encontro, que contará com uma palestra motivacional e a presença dos pais e da diretoria. (Com assessoria da Coamo)