Em um primeiro momento, fica aquela dúvida se o uso de todo um aparato tecnológico pensado pelas agtechs podem, de fato, chegar a produtores rurais de pequeno porte. A utilização de sensores, ferramentes de Inteligência Artificial (IA), plataformas para consulta de dados e celulares parece ainda distante da realidade da agricultura familiar.

Entretanto, as equipes multidisciplinares que atuam dentro de diversas startups do agronegócio trabalham muito forte para que as soluções cheguem de forma personalizada para cada caso e, assim, os custos das consultorias e equipamentos estejam acessíveis aos pequenos.

E dessa forma que a StressCan, de Presidente Prudente, pretende trabalhar nos próximos anos. O CEO da startup, Gustavo Saraiva, é biólogo com doutorado em agronomia. Há um ano e meio, durante um evento de startups, ele saiu com a ideia vencedora: um sensor com câmara térmica para monitorar o stress hídrico da planta, inclusive quando há irrigação em excesso. "A maioria dos produtores que irrigam não têm controle (da utilização de água). Nossa ferramenta faz com que a ação aconteça na medida certa, nem para mais nem para menos, não deixando a planta estressada fisiologicamente."

Os trabalhos estão sendo focados em hortaliças, com a atenção nos pequenos. Por isso, nem a torre de monitoramento nem os sensores são vendidos, mas sim locados, como se fossem os aparelhos de uma TV a cabo. Assim, o produtor faz o monitoramento de acordo com o bolso. "Temos o apoio da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo ) e por isso estamos iniciando a implementação dos serviços em hortas municipais do interior do Estado."

A tecnologia apresentada pela starup gaúcha Elysios permite saber com exatidão como cuidar dos tomateiros, como uma irrigação de forma mais eficiente, com os nutrientes corretos, e demais etapas para
A tecnologia apresentada pela starup gaúcha Elysios permite saber com exatidão como cuidar dos tomateiros, como uma irrigação de forma mais eficiente, com os nutrientes corretos, e demais etapas para | Foto: Gina Mardones



Já do interior do Rio Grande do Sul, uma turma do pé da serra, região de Taquara, em meados de 2016 começou a trabalhar com tomates. Profissionais de diversas áreas, com origem no campo, que perceberam as dificuldades para saber com exatidão como irrigar de forma mais eficiente, com os nutrientes corretos, e demais etapas para melhor rendimento. Assim nasceu a startup Elysios.

"Criamos o sistema para cuidar da nossa estufa de 700 pés de tomate em Taquara. Minha dissertação de mestrado foi então em arquitetura de comunicação entre sensores, uma plataforma de processamento e aplicativo no celular. Assim temos sensores espalhados pelo ambiente: luminosidade, temperatura e umidade relativa do solo... com tudo isso junto criamos um banco de dados, processamos numa plataforma de IA, que traz esses dados para o produtor", explica Matheus Crespi, formado em ciência da computação.

Em bate papo com a reportagem, os jovens mostraram que a ideia inicial é trabalhar com tomate, folhosas e, claro, olhando para a agricultura familiar, origem de muitos que fazem parte do projeto. "Por isso, criamos um sistema modular, entregando uma solução que seja adequada a cada produtor, se adaptando a necessidade dele. Esse é o nosso lado menos startup, em que olhamos para o produtor rural (de forma mais humana)", relata o economista Frederico Brito. (V.L.)

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