O Paraná é o estado brasileiro com a maior área do seu território classificada com potencialidade agrícola "muito boa" (classe A1). Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), 12,2% do território paranaense, o equivalente a 24.313 quilômetros quadrados, corresponde à potencialidade “muito boa”. No País, esse índice é de apenas 2%; na Região Sul, 5,6%.

A classificação está no Mapa de Potencialidade Agrícola Natural das Terras do Brasil, publicação inédita produzida por técnicos do IBGE.

Bruno Vizioli, técnico do DTE (Departamento Técnico e Econômico) do Sistema Faep/Senar-PR, explica que o potencial agrícola dos solos é definido por três fatores básicos: limitação à mecanização, deficiência de fertilidade e deficiência de drenagem.

Ele acrescenta que o relevo do Paraná, principalmente nas regiões Norte e Noroeste do Estado, facilita a mecanização, pois são áreas planas, com solos profundos e argilosos.

“Os solos paranaenses, em sua maioria, são argilosos e profundos, o que confere boa drenagem de água. As argilas também aumentam a capacidade do solo de reter nutrientes. Assim, mesmo que a fertilidade natural seja baixa, o solo tem uma grande ‘caixa’ capaz de armazenar os nutrientes aplicados via adubação e calagem.”

Vizioli esclarece que apenas o teor de argila não confere boa aptidão de uso agrícola, mas sim o conjunto e equilíbrio dos fatores citados acima. “Caso haja um desbalanço entre os três, a aptidão fica comprometida. Assim, o produtor deverá lançar mão de algum recurso para compensar a falta desse fator.”

O documento foi elaborado a partir do mapeamento de solos, levando em consideração os recursos naturais, principalmente solo e relevo, e como eles podem favorecer o setor agrícola.

Os mais de 500 tipos de solos do Brasil foram classificados considerando características como textura, pedregosidade, rochosidade, erodibilidade, entre outros, em cinco classes de potencialidade. Elas variam de terras com muito boa potencialidade a terras com restrições muito fortes ao desenvolvimento agrícola.

TERRA VERMELHA

Segundo o mapa divulgado pelo IBGE, o Norte, Norte Pioneiro e Oeste do Paraná contam o maior volume de áreas classificadas como muito boas para o desenvolvimento agrícola no Estado.

O técnico explica que o desenvolvimento do solo é decorrente do intemperismo que atua na degradação de uma rocha, transformando-a em solo.

“O intemperismo é acelerado por fatores como clima e relevo, por exemplo. No Norte e no Noroeste do Paraná há uma combinação de todos os fatores favoráveis ao desenvolvimento de solos, principalmente o clima quente e chuvoso que acelera esse processo. Nessa região, ocorre a presença de solos bem desenvolvidos, velhos, profundos e em grande parte argilosos”, acrescenta.

O estudo cita como exemplos o latossolo vermelho de Tamarana, na região Norte, e o nitossolo vermelho de Medianeira, no Oeste. São exemplares da famosa “terra vermelha” do Paraná.

“Tanto o latossolo quanto o nitossolo são solos velhos, ou seja, bem desenvolvidos, que conferem grande capacidade de ‘caixa de retenção de nutrientes e boa permeabilidade da água, o que não resulta em áreas alagadas.”

Esses solos são argilosos, profundos e com aspecto visual bem homogêneo, sem a presença de pedras e profundidade efetiva superior a 1 metro.

“São os melhores solos para o desenvolvimento de plantas e aptos a qualquer cultura agrícola, onde todo tipo de atividade agropecuária é possível devido às ótimas características físicas.”

O nome “vermelho” indica obviamente a cor do solo, o que significa presença de ferro e baixo teor de alumínio. “A presença do ferro é atribuída ao basalto, uma rocha bastante presente no Brasil que origina esses solos ricos em ferro.”

O técnico pontua que o latossolo é, dentre os 13 tipos de solo, o mais abundante no Paraná, principalmente nas regiões Norte, Noroeste e dos Campos Gerais. O nitossolo, apesar de ser menos frequente, agrega características muito parecidas ao latossolo: profundo, argiloso, bem desenvolvido e homogêneo.

PONDERAÇÃO

Vizioli acrescenta que o levantamento feito pelo IBGE mostra a melhor forma de explorar determinado solo, porém não traz reflexo sobre o que de fato é feito naqueles solos.

“Um exemplo disso é que, no levantamento, mostra a região Noroeste do Paraná como aquela que tem as áreas com melhor potencial agrícola, entretanto, basta fazer uma breve observação a campo na região para constatar que há muitos problemas de solos na região, sendo a erosão o principal.”

Isso mostra, segundo o técnico, que mesmo o solo tendo boa aptidão agrícola, o manejo tem que ser feito dentro dos limites de uso do terreno, caso contrário a degradação irá ocorrer. “O levantamento traz informações preciosas sobre a potencialidade do solo. Conhecendo essas informações, saberemos qual o manejo mais adequado para aquele solo”, conclui.

DIVERSIDADE

O secretário estadual da Agricultura e do Abastecimento, Norberto Ortigara, reforça que o Paraná tem o privilégio de ser um Estado com diferentes tipos de solo, com climas que ajudam a diversidade de culturas e com a possibilidade de até três safras anuais para algumas variedades.

“Aliado a isso, o Estado é resultado de uma população nativa, que se esforçou para sempre cuidar da terra, e de colonos que para cá vieram e construíram a agropecuária forte respeitada em todo o mundo”.

Com território de 199.308 quilômetros quadrados, o Paraná tem ainda 18,5% de suas terras classificadas como “boa” (classe A2), o que equivale a uma área de 36.855 quilômetros quadrados. São solos favoráveis às atividades agrícolas, com relevo aplainado e pequenas restrições e limitações, mas que podem ser facilmente corrigidas para o cultivo.

ACESSO

O estudo completo do IBGE pode ser acessado pelo link abaixo: https://www.aen.pr.gov.br/sites/default/arquivos_restritos/files/documento/2022-12/0512mapa.pdf