Emplacar a soja para consumo in natura sempre foi um dos desafios da pesquisa. O Programa de Soja na Alimentação, da Embrapa Soja, iniciou em 1985 e, sem dúvida, um grande passo foi “retirar” as enzimas lipoxigenases - responsáveis pelo gosto de “feijão cru” da soja - para que a oleaginosa tivesse um sabor mais suave. Isso aconteceu através do melhoramento genético e hoje, nos supermercados, é possível ver uma diversidade enorme de itens à base do produto e com excelente qualidade.

Denominada edamame, a soja é cozida antes de amadurecer, é bastante consumida no mercado oriental e agora também no ocidente
Denominada edamame, a soja é cozida antes de amadurecer, é bastante consumida no mercado oriental e agora também no ocidente | Foto: Divulgação

Ao longo dos anos, a soja marrom também foi criada para lembrar o feijão carioca e agora, a soja preta e também a verde (ou edamame), quando a soja é cozida antes de amadurecer e muito consumida no mercado oriental e agora também no ocidente, encontrada congelada, por exemplo, nos Estados Unidos e Europa. A ideia do trabalho atual da Embrapa é criar uma variedade comercial tipo hortaliça e que possa ser consumida, por exemplo, como um snack saudável.

Até aqui, a Embrapa e seus parceiros lançaram cultivares de soja com diferentes características especiais para o consumo humano, tais como BRS 267, BRS 257, BRS 213, BRS 216, BRS 155, BRSMG 790A e BRSMG 800A. Além disso, publicou livros de receitas e outras publicações técnico-científicas; treinou milhares de pessoas em cursos de culinária; orientou diversos trabalhos de estudantes de graduação e pós-graduação; e prestou assessoria técnica a inúmeras empresas e instituições públicas.

A pesquisadora Mercedes Concórdia Carrão Panizzi é doutora em ciência de alimentos e trabalhou desde o início no Programa Soja na Alimentação. Agora o foco dela é justamente no melhoramento genético dessa soja verde. “Ela é consumida in natura, com grãos verdes imaturos e sabor diferenciado. No Brasil temos em São Paulo, Rio de Janeiro, mas não temos uma variedade (específica). Estamos trabalhando no melhoramento genético para ter esse produto.”

De forma geral, ela cita que atualmente a soja é utilizada de forma excelente na indústria de alimentos. Mas o objetivo das pesquisas é continuar a colocar um melhor sabor na soja, além de outras características como menos sacarídeos e baixo teor de ácidos graxos. “Mercado evoluiu muito, mas é preciso continuar a fazer coisas diferentes. A Embrapa Agroindústria de Alimentos, inclusive, já fez bebidas à base de soja preta, sabe como processar esse material.”

Imagem ilustrativa da imagem Soja verde tipo ‘snack’ é foco de pesquisa
| Foto: Arquivo Embrapa Soja

Máquina para produção automatizada de broto de soja

Além da soja verde, as pesquisas também focam no desenvolvimento de broto de soja (moyashi). “Avaliamos os parâmetros de produção de brotos de soja e sua aceitabilidade”, relata o pesquisador Marcelo Álvares de Oliveira.

Os brotos são apreciados na culinária por seu paladar agradável e alto valor nutritivo, e a soja é rica em proteínas capazes de incrementar a dieta do brasileiro. A cultivar BRS 216 apresenta características adequadas à produção de brotos, pois suas sementes são pequenas. "Os grãos dessa cultivar têm ainda tegumentos e hilo amarelos, que são aspectos importantes no processamento de alimentos para melhorar a coloração no produto final. Ela também apresenta altos teores de óleo, em torno de 17%, e de proteína próximo a 43%", explica o pesquisador.

Para isso, existe o Tecnobroto, equipamento desenvolvido pela Embrapa para produção de brotos de soja. Segundo Oliveira, a máquina permite produzir brotos de forma automatizada e sem produtos químicos, utilizando um dispositivo para controle de temperatura da água e tempo de irrigação. “O Tecnobroto é de baixo custo e pode ser desenvolvido em comunidades, associações de produtores e agricultores familiares", explica o especialista.

A produção do broto de soja leva entre três e sete dias e pode ser feita em qualquer época do ano sem a necessidade de solo, de fertilizantes, de agrotóxicos e de luz solar direta. "Para cada quilo de semente de soja, produzimos cerca de 2,5 kg de brotos", conta.

O custo da montagem do equipamento é de aproximadamente R$ 3 mil. Para construí-lo, são necessários componentes como caixas d'água, bombas de drenagem de água e mangueiras de PVC. A Embrapa Soja preparou um hotsite (www.embrapa.br/soja/tecnobroto) para facilitar o acesso às informações aos interessados em conhecer o aparelho. (Reportagem Local)