Tema debatido no 10º Simpósio de Eficiência em Produção e Reprodução Animal, as perdas gestacionais, é um dos grandes desafios da pecuária brasileira, que já foi responsável por metade do rebanho gerado por inseminação artificial em todo o mundo.

Nomes de peso da medicina veterinária participaram do simpósio, realizado no Parque de Exposições Ney Braga, quinta-feira (11), em realização conjunta entre a Sociedade Rural do Paraná e o curso de Medicina Veterinária da UEL (Universidade Estadual de Londrina).

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Professor de reprodução animal e biotecnologia da UEL e um dos palestrantes, Marcelo Marcondes Seneda afirma que o índice de fêmeas reprodutoras que perdem a gestação chega a 12% no país. “É um índice alto. Parte disso está vinculado ao nosso cenário de produção em larga escala, e tudo o que você faz em larga escala torna mais desafiador. E também temos aspectos fundamentais que precisamos dar atenção, como a nutrição e sanidade dos animais”, aponta.

MAIOR REBANHO DO MUNDO

O maior rebanho bovino do mundo está no Brasil, com cerca de 220 milhões de cabeças, segundo o último censo do IBGE, e a maioria a pasto, um diferencial para a produção de carne voltada à exportação. Mas há o outro lado, lembra Senede. “Estamos sujeitos às intempéries climáticas, os desafios de manter a sanidade são muito grandes, e compreensivelmente, quando se começa a trabalhar com tecnologia embrionária, se não tiver a base bem feita ficam resquícios desses desafios na questão da eficiência reprodutiva”, pondera.

Segundo o especialista, mitigar as falhas gestacionais no processo da Inseminação Artificial em Tempo Fixo e aumentar o desfrute do rebanho – multiplicá-lo com o mínimo de perdas – são ações diretamente relacionadas à necessidade de se aplicar uma pecuária de precisão.

“O que significa isso? Eu não quero aumentar o número de animais nem a área de pasto disponível, eu quero com a mesma área ou até em áreas menores ter animais altamente eficientes, que produzam mais carne, mais leite, preservando o meio ambiente e dando todo o conforto aos animais.”

EXPLORAÇÃO ANIMAL

Nesse contexto, o pesquisador atenta que o conceito de exploração animal tem que ser repensado. “De fato, utilizamos os animais para produção de proteína de alta qualidade, como carne e leite, mas tem que ser num contexto integrado com as demandas da sociedade, com as necessidades que os animais requerem e respeito ao meio ambiente”, pontua.

Um dos maiores especialistas em reprodução bovina no país, o pesquisador e professor do curso de medicina veterinária e zootecnia da USP (Universidade de São Paulo) Pietro Sampaio Baruselli destacou na sua palestra a aplicação de biotecnologia na reprodução animal.

Ele ilustra em números a importância da IATF (Inseminação Artificial em Tempo Fixo) como ferramenta de reprodução assistida que tem colaborado de forma fundamental para melhorar a eficiência reprodutiva e produtiva do rebanho brasileiro. “Há 20 anos usávamos essa ferramenta em 100 mil animais, hoje estamos usando em 25 milhões, veja o quanto cresceu. Hoje temos mais de 7 mil especialistas no campo que prestam serviço aos produtores para a aplicação dessa ferramenta e ela colabora não só para o melhoramento genético, porque aumenta o número de animais inseminados pela eficiência que apresenta, mas também para melhorar a quantidade de quilo produzido por hectare, já que melhora a eficiência como um todo.”

Além disso, a IATF auxilia na solução de um dos maiores gargalos da pecuária brasileira, que é promover uma produção sustentável. “O desafio é ter uma pecuária que produza mais por área, com menos impacto, os estudos mostram que quanto mais a gente consegue produzir por área temos um menor impacto ambiental na produção de proteína de origem animal”.

INDÚSTRIA VETERINÁRIA

Uma novidade incluída na grade de programação foi a indústria veterinária. “Estamos infelizmente vivendo um ciclo de baixa na pecuária, que como outras atividades do agro também é cíclica, e de certa forma isso acaba impactando negativamente vários setores. Um dos que vão sofrer com isso é o da indústria veterinária, e o objetivo é mostrar quais são os desafios mercadológicos num cenário de baixa da pecuária, mas também apontar alternativas para enfrentar essas dificuldades”, afirma Fabio Morotti, professor de reprodução de grandes animais no curso de medicina veterinária da UEL.

Ele pontua que o setor ao mesmo tempo é um grande gerador de empregos. “A gente vê isso muito forte dentro das universidades, que o aluno que faz mestrado e doutorado nem sempre segue a carreira acadêmica, muitas vezes é absorvido por uma empresa desse ramo. O simpósio é uma oportunidade de a indústria veterinária colocar essa visão do quanto necessita de profissionais bem qualificados para poder atuar no desenvolvimento de produtos e na consolidação da tecnologia no campo também.” (Com assessoria de imprensa da ExpoLondrina)