Londrina foi sede, nos dias 8 e 9 de novembro, da 4ª edição do seminário sobre os desafios da liderança brasileira no mercado mundial da soja, evento com a discussão de temas para antecipar soluções e, com isso, manter o posto no topo do ranking.

Neste ano, temas como agendas ESG, biotecnologia, qualidade proteica e biocombustíveis estiveram na pauta.

O seminário debateu as oportunidades e os desafios para incrementar a competitividade da soja brasileira a partir da realização de quatro painéis.

O seminário debateu as oportunidades e os desafios para incrementar a competitividade da soja brasileira:
O seminário debateu as oportunidades e os desafios para incrementar a competitividade da soja brasileira: | Foto: iStock

Entre as temáticas abordadas estiveram a qualidade da soja no Brasil e os produtos derivados, os impactos da biotecnologia na produção brasileira e mundial, a importância da qualidade da proteína na soja e os biocombustíveis obtidos a partir de óleos vegetais, como o biodiesel.

“Num segundo momento, numa parceria com o Ministério da Agricultura, vamos continuar as discussões sobre a Portaria 532, que vai dar origem à nova normativa do padrão oficial da soja”, explica Marcelo Álvares de Oliveira, pesquisador da Embrapa e coordenador do evento.

O projeto Qualigrãos, conduzido pela Embrapa Soja, avaliou durante quatro safras a soja brasileira. Os resultados estão colaborando com as discussões para a formação do novo padrão da cultura.

Ao todo, cerca de 200 representantes da cadeia produtiva participaram do seminário, como pesquisadores, especialistas, agentes governamentais, representantes das indústrias e de produtores rurais.

Debate sobre classificação da soja

Hugo Caruso, coordenador geral de Qualidade Vegetal do Ministério da Agricultura, lembra que o debate sobre a nova normativa do padrão oficial da soja começou há cerca de dois anos. Ele explica que hoje a soja tem apenas um único tipo, sem subdivisões.

“Precisa haver algumas definições mais claras, até mesmo para que os exportadores tenham uma situação mais esclarecedora na definição dos seus preços. Trazer uma segmentação para os tipos de soja valorizaria o produto de melhor qualidade”, destaca.

Inicialmente, o Ministério da Agricultura apresentou uma proposta que classificaria a soja em 5 tipos, mas em consulta pública essa segmentação não foi aceita pelo setor produtivo nem pelos compradores.

“Agora fizemos uma proposta conciliatória em que há 3 tipos apenas. O Ministério da Agricultura quer ser mediador dessa discussão entre produtores e compradores para que realmente a soja brasileira tenha seu devido valor e possa se posicionar melhor no mercado.”

Grosso modo, os três tipos seriam premium (excelente qualidade), a soja com um maior teor de ardidos e fermentados (usada para produzir óleo, por exemplo) e a destinada para alimentação animal.

Sobre a qualidade nas exportações, o técnico do Ministério da Agricultura acrescenta que a pasta tem cadastrado os exportadores para verificar o atendimento de boas práticas e de normas internacionais. “Temos cobrado isso dos nossos exportadores para que realmente eles estejam preparados para atender mercados mais exigentes do que atendemos hoje”, conclui.

ABERTURA

A conferencista da abertura do seminário foi Dulce Bencke, diretora de finanças sustentáveis da Proactiva Consultoria. Ela destacou a tendência da adoção de práticas ESG (meio ambiente, social e governança), que têm cada vez mais se tornado um requisito para a conquista de clientes e de acesso a novos mercados.

Na abertura do evento, a consultora Dulce Benke abordou o tema ESG (meio ambiente, social e governança)
Na abertura do evento, a consultora Dulce Benke abordou o tema ESG (meio ambiente, social e governança) | Foto: Andrea Vilardo/Embrapa Soja

“Se hoje há um projeto com excelentes práticas muito bem estruturado para baixo carbono, com uma redução importante, o investidor também vai considerar na hora do financiamento outros temas, como a questão social e a governança. Se todos esses pilares forem bem geridos, é uma oportunidade. Se não, pode ser um risco.”

Marcos Amorim, presidente do Comitê de Contratos Externos da Anec (Associação Brasileira dos Exportadores de Cereais), destaca que não há como considerar o crescimento da soja e do agro brasileiro se não passar pelo uso da tecnologia.

“As tecnologias mudam e temos que nos adaptar para buscar cada vez mais qualidade. Sempre há espaço para melhoria. O mundo está mudando, mas continua precisando dos produtos brasileiros”, conclui.

DESAFIOS

André Nassar, presidente executivo da Abiove (Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais), considera que a sustentabilidade e a logística figuram entre os maiores desafios para a cadeia da soja brasileira.

“Os compradores de soja, liderados hoje pela Europa, querem saber a origem do produto, se veio de área desmatada ou não. E essa postura também vai se expandir para outras regiões”, destaca.

Ele explica que o papel da Abiove é comprar soja, processar e vender o produto aos mercados interno ou externo. “Estamos incorporando uma nova função, de rastrear a origem da soja e garantir que seja conhecida pelos clientes”, acrescenta.

Sobre a logística, Nassar cita alguns gargalos, como os entraves para a exportação da soja pelo Pará.

“Mais da metade do volume de soja que sai pelos portos do Norte é exportado pelo Pará. Essa região tem o desafio de fazer chegar a soja pela BR-163. É uma estrada com vários problemas. A empresa que ganhou para fazer a manutenção de um trecho perdeu contrato. O desafio é uma logística mais eficiente nessa região, já que hoje o trecho é muito rodoviário. Um desafio enorme pra nossa soja”, conclui.

Maior produtor mundial

O Brasil é o maior produtor e exportador mundial de soja. Segundo estimativas da Abiove, a atual safra deve superar a marca de 127 milhões de toneladas produzidas e registrar um recorde histórico no processamento do grão de 49 milhões de toneladas. Chama atenção também a receita projetada com exportações de todo complexo (soja em grão, óleo e farelo) para 2022, que deve ser de aproximadamente US$ 58 bilhões.

De acordo com as previsões, a safra de 2023 será ainda maior. Dados recentes divulgados pela Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) apontam para uma produção recorde de mais de 150 milhões de toneladas. Com a evolução do setor produtivo e das grandes perspectivas que se apresentam, surgem também complexos desafios.

Promovido pela Embrapa Soja, o seminário teve o apoio da Abiove, Acebra (Associação das Empresas Cerealistas do Brasil), Anec, ASCB (Associação das Supervisoras e Controladoras do Brasil), OCB (Organização das Cooperativas Brasileiras) e Sindirações (Sindicato Nacional da Indústria de Alimentação Animal).