“A semente é um ser vivo e mantê-la em boas condições é uma corrida contra o tempo”, diz o agrônomo Diogo Amaral
“A semente é um ser vivo e mantê-la em boas condições é uma corrida contra o tempo”, diz o agrônomo Diogo Amaral | Foto: Divulgação/Cocamar

A umidade deixada no solo mesmo por chuvas de pouca intensidade, como as registradas nos últimos dias em algumas regiões, já vinha sendo aproveitada por produtores para iniciar a semeadura da safra de soja 2020/21. Um alento aos que não viam a hora de agilizar o trabalho e torcem para que, a partir de agora, os céus sejam mais generosos e seja possível, enfim, colocar as plantadeiras a campo.

Em Cianorte, no noroeste do estado, Roberto Carlos Palaro e dois irmãos já semearam 58 de seus 162 alqueires em duas etapas nos dias 29 e 30 de setembro e 7 de outubro. “Sempre começamos a semear lá pelo dia 25 de setembro ou até antes”, relata Palaro, por meio da assessoria de imprensa da Cocamar, na expectativa de que venham chuvas mais volumosas para que toda essa preocupação com o clima fique para trás.

No ano passado, em 50 alqueires, as altas temperaturas na fase final da lavoura acabaram afetando a produtividade. “Acho que perdemos de 20 a 30 sacas de soja por alqueire”, estima o produtor, que colheu a média geral de 130 sacas/alqueire. Em parte de suas terras, onde fez o cultivo de braquiária solteira durante o inverno, o solo apresenta mais umidade.

“Dessecamos a braquiária há uns 70 ou 80 dias e dá até gosto de ver a palhada”, diz Palaro, que plantou 100 alqueires de milho de inverno e obteve a média de 210 sacas/alqueire. A braquiária é usada para cobrir o solo de palha e possibilitar o plantio direto. “Acho que 70% da soja nasce com a umidade que tem no solo”, afirma Sérgio Ishikawa, produtor de São Sebastião da Amoreira, onde cultiva 200 alqueires.

Ele está em plena semeadura, trabalho esse que deve durar cerca de 30 dias e quase sempre fica inserido no período de 10 de outubro a 15 de novembro. Segundo Ishikawa, nos talhões onde é possível semear e colher mais cedo, a preferência no inverno recai para o milho. E, onde demora mais, a opção acaba sendo o trigo.

Palaro, Ishikawa e muitos outros produtores têm uma preocupação adicional neste período: com a demora em plantar, como fica a qualidade das sementes, quanto a germinação e o vigor, especialmente se o insumo está guardado em barracões que não apresentam condições ideais de armazenamento. “A semente é um ser vivo e mantê-la em boas condições é uma corrida contra o tempo”, resume o engenheiro agrônomo Diogo Amaral, gerente da UBS (Unidade de Beneficiamento de Sementes) da Cocamar, em São Sebastião da Amoreira, região de Londrina.

Amaral explica que o insumo passa por várias etapas de testes e avaliações em laboratório, estufa e também em canteiro, na própria UBS, para que seja considerada apta. Em um deles é verificado o vigor, o desenvolvimento da parte aérea e também do sistema radicular. “O produtor não corre o risco de receber uma semente de baixo vigor”, assegura o gerente. No entanto, é preciso que tenha cuidado na propriedade.

Diferencial

No tratamento industrial, feito na UBS, a semente passa por processo em que recebe aplicação de inseticida, fungicida e polímeros. O acabamento final, para melhorar sua fluidez na semeadora, inclui pó secante para a aderência dos produtos, o que confere a ela um tom esverdeado brilhante. Ainda há produtores que preferem fazer o tratamento na propriedade, de forma improvisada, o que não é recomendado.

Sementes passam por várias etapas de testes e avaliações em laboratório, estufa em canteiro para serem consideras aptas
Sementes passam por várias etapas de testes e avaliações em laboratório, estufa em canteiro para serem consideras aptas | Foto: Divulgação/Cocamar

Evitar danos

Para o engenheiro agrônomo Elton Salata, de uma companhia produtora de sementes, o produtor precisa ficar atento para, durante a movimentação das sementes em sua propriedade, não causar dano mecânico às mesmas, como um atrito, por exemplo. Outra recomendação é que a plantadeira esteja bem regulada.

O acompanhamento técnico, acrescenta Salata, também é indispensável, pois há variedades que não apresentam maturação uniforme. “Na fase final, há plantas que já estão prontas para a colheita enquanto outras ainda vão chegar, o que vai requerer a experiência do responsável técnico pela condução das áreas”, afirma.

É esse profissional, muitas vezes, quem lá no final vai recomendar uma dessecação, identificar o ponto ideal de colheita, fazer a regulagem da máquina. “O produtor deve adquirir sempre uma variedade que apresente qualidade superior”, diz o agrônomo, mencionando um teor de germinação entre 90 e 95% para que o volume de sementes a ser acrescentado durante a semeadura não leve a um gasto econômico significativo. “Lógico que se uma semente está com 80 a 85% de germinação, será preciso corrigir para atingir o estande ideal daquela variedade”, completa.