Semente da araucária, árvore símbolo do Paraná, o pinhão corre risco de extinção. Segundo o Inventário Florestal Nacional, a floresta com araucária ocupa atualmente 9,3% da superfície paranaense, sendo que originalmente cobria 45,5% do Estado.

Derrubada desenfreada das araucárias teve início ainda na segunda metade do século 19
Derrubada desenfreada das araucárias teve início ainda na segunda metade do século 19 | Foto: Denis Ferreira Netto/IAP

O pinhão é produzido pela Araucaria angustifolia, conhecida como pinheiro do Paraná, pinheiro brasileiro ou apenas araucária. Originalmente, a floresta com araucária (floresta ombrófila mista) se estendia por 185 mil quilômetros quadrados, cobrindo grandes áreas contínuas nos três Estados do Sul do Brasil e também algumas manchas isoladas nas regiões mais frias e altas de Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro e Espírito Santo, além de áreas na Argentina e no Paraguai.

“A derrubada desenfreada das araucárias teve início ainda na segunda metade do século 19 e, ao longo de mais de 100 anos, sua madeira considerada de excelente qualidade serviu para erguer casas, fabricar móveis, construir ferrovias e levantar cidades”, explica Pablo Signor, engenheiro florestal do Deral (Departamento de Economia Rural) da Secretaria Estadual de Agricultura de Abastecimento.

Cerca de 100 milhões de araucárias nativas viraram toras em serrarias do Sul e do Sudeste e, em 1963, a espécie representava 92% das exportações de madeira do Brasil. Sua exploração para uso madeireiro foi tão intensa, aliada à expansão agrícola e à pecuária, que hoje a espécie consta na lista de espécies ameaçadas de extinção.

“Atualmente, a exploração madeireira de araucárias em floresta nativa é proibida. Assim como é proibido o manejo florestal em vegetação nativa para produção de madeira de araucária”, afirma o engenheiro florestal.

De acordo com os dados publicados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) em 2020, o Paraná é o principal produtor nacional de pinhão, com 35 % da produção, seguido de perto por Santa Catarina, com 33%. Em 2019, o Paraná produziu 3.290 toneladas de pinhão, contra 3.120 toneladas produzidas em território catarinense.

Lembrando que é um produto proveniente do extrativismo, ainda não há plantios comerciais em escala específicos para produção de pinhão.

Os principais municípios produtores paranaenses são Pinhão, Inácio Martins, Turvo e Guarapuava, que juntos representam mais de 35% da produção estadual. Em 2019, o VBP (Valor Bruto da Produção) de pinhão no Paraná ficou em R$ 15,2 milhões, considerando apenas o preço pago ao produtor. Em 2020, as Ceasas do Paraná comercializaram 1.319 toneladas de pinhão.

Com identidade histórica e cultural, pinhão vem cada vez mais sendo utilizado na culinária
Com identidade histórica e cultural, pinhão vem cada vez mais sendo utilizado na culinária | Foto: Mauro Scharnik/IAP

Importância

O pinhão é um alimento típico da região de ocorrência natural da araucária, com identidade histórica e cultural. Essa semente é responsável por parte da renda de diversos agricultores familiares, além de ser um alimento com grande potencial nutricional e energético. O pinhão não possui glúten, o que abre boas perspectivas para quem é intolerante a esse grupo de proteínas.

“Apesar de sua importância, o pinhão ainda não possui uma cadeia produtiva organizada em torno dele. Seu consumo se dá principalmente da forma como é colhido, sendo assado ou cozido, sem qualquer procedimento industrial”, explica o engenheiro florestal.

Entretanto, esta realidade vem mudando, com diversas iniciativas no sentido de beneficiar o produto de diferentes formas, de conhecer os hábitos dos consumidores e de desenvolver sistemas específicos para produção de pinhão. “A viabilização destas iniciativas em torno da araucária são fundamentais para conservar a espécie através do seu uso, tanto para produzir o pinhão como a madeira.”

Preservação

Depois de 36 anos pesquisando araucárias na UFPR (Universidade Federal do Paraná), o docente de fruticultura Flávio Zanette descobriu um caminho para salvar essa espécie ameaçada de extinção.

“Durante todo esse tempo, buscamos não só selecionar matrizes altamente produtivas, como também desenvolver uma técnica que permite clonar fêmeas que produzem o pinhão. Porque as araucárias-macho só produzem pólen, todos os anos, enquanto a araucária-fêmea produz as sementes, o pinhão.”

A tecnologia desenvolvida pelo pesquisador visa enxertar araucária na própria araucária. “O material genético de uma planta altamente produtiva é enxertado sobre uma mudinha de semente, de qualquer pinhão, e daí criamos matrizes que entram em produção com menos de 6 anos. Atualmente temos tecnologia para produzir mudas que iniciam a produção entre 6 e 8 anos de idade”, conclui o docente da UFPR. Normalmente, uma araucária começa a produzir pinhão com 12 a 15 anos de idade.

O pinhão na culinária

Toda essa identidade histórica e cultural do pinhão se faz presente também na culinária do brasileiro.

Um compêndio com 100 receitas de pinhão, doces e salgadas, testadas e avaliadas quanto ao seu valor calórico e aceitabilidade. Esse é o conteúdo do livro “O Pinhão na Culinária”, publicação da Embrapa.

Editado pela Embrapa Florestas (PR) e publicado pela Embrapa Informação Tecnológica, o livro é o resultado de um trabalho que envolveu ciência e prática culinária, incluindo a preparação e o teste de cada uma das receitas.

Além de dicas culinárias, o livro traz informações sobre o valor nutricional do pinhão. As 100 receitas, separadas entre doces e salgadas, são apresentadas com fotos dos pratos finalizados, a indicação dos ingredientes, modo e tempo de preparo, rendimento e calorias por porção.

A publicação pode ser baixada gratuitamente pelo endereço: https://livimagens.sct.embrapa.br/amostras/00054150.pdf