A falta de recursos disponíveis do seguro rural fez a Colaboradores do Brasil, empresa que mantém duas fazendas no Paraná com atuação na ILP (Integração Lavoura-Pecuária), reduzir a área de produção em 70%.

“O seguro agrícola para modalidade ILP foi suspenso para a safra 2022/23, não tendo nenhuma seguradora com produto disponível para esta modalidade. Para o nosso projeto foi muito ruim, pois trouxe insegurança aos produtores”, destaca Valdenir Alberto Seidel, gerente financeiro do grupo.

Ele explica que, antes, a Colaboradores do Brasil tinha um seguro ajustado à realidade da região.

“Já tínhamos inclusive programado compras junto à cooperativa, que contava com essa venda. E temos visto muitos outros produtores passando pela mesma situação. Muitos não plantarão nada e alguns estão ainda na incerteza do que fazer”, pontua.

O gerente financeiro Valdenir Seidel disse que a suspensão do serviço trouxe insegurança aos produtores
O gerente financeiro Valdenir Seidel disse que a suspensão do serviço trouxe insegurança aos produtores | Foto: Arquivo pessoal

A Colaboradores do Brasil mantém duas propriedades no Paraná, a Fazenda Colab, em Altônia, e a Fazenda Santa Fé, em Xambrê. “Trabalhamos com parceiros na ILP na Santa Fé e nós mesmos gerenciamos a operação ILP na Colab”, explica o gerente. A produção é alternada entre pecuária e soja.

Valdenir relembra que na Fazenda Colab, os números da produção estavam muito aquém do potencial, até a adesão à ILP, ocorrida em 2015.

“E foi na busca pela melhoria na produtividade que, entre as várias ações e medidas tomadas, começamos a trabalhar com a ILP, entendendo que traria várias vantagens para a Colab. A prática trouxe uma boa dinâmica, com reforma de pastagens a baixo custo e melhoria na qualidade do solo”, lista.

Num primeiro momento, foram recrutados agricultores para serem parceiros, praticando a agricultura nas duas propriedades.

“Em 2018, assumimos a agricultura em uma das propriedades e hoje estamos fazendo agricultura em uma delas e continuamos com a parceria na outra. Quando assumimos, isso trouxe a rentabilidade da soja para dentro de casa.”

Valdenir explica que o processo acontece da seguinte forma: após a definição das áreas e a ordem em que passarão pelo processo, elas são vedadas com uma antecedência suficiente para que a pastagem possa crescer e formar uma área verde adequada, para passar pelo processo de dessecação e criar uma palhada para o plantio direto.

O plantio, os tratos culturais e a colheita do grão são realizados e, após a colheita do grão, é feito o plantio do pasto. Em 60 dias o pasto está formado, pronto para ser pastejado. “É um pasto novo, com excelente qualidade e capacidade produtiva, com baixo custo e num momento do ano onde há muita restrição de pasto para o gado (maio a setembro).”

A restrição do seguro se deve ao alto número de sinistros ocorridos principalmente nas duas últimas safras, o que afastou as seguradoras.

DEMANDAS JUDICIAIS

Se por um lado há produtores tentando fazer seguro rural, por outro lado há quem esteja tendo dificuldade em receber a indenização. A produtora rural e advogada Neide de Fátima Nardo Ramos atende agricultores da região de Maringá (PR) que têm acionado a Justiça por não conseguirem receber o dinheiro devido das seguradoras.

Para se ter ideia da demanda, somente uma seguradora foi alvo, desde o início de 2019, de mais de uma centena de ações judiciais movidas no Paraná. São agricultores que exigem indenização dos sinistros ocorridos em suas lavouras. “Estamos falando apenas de uma seguradora. Imagina quantas outras ações há em processamento, contra diversas empresas”, pontua.

A advogada acrescenta que há produtores rurais que não recebem a indenização, mesmo acionando a Justiça. “No entanto, o produtor só não terá seu direito juridicamente reconhecido se houver na apólice alguma cláusula que possa dar entender ao juiz que o produtor não tem direito à indenização.”

Ao vencer a ação judicial, não é garantia que o produtor será indenizado. “Estamos vivendo uma epidemia chamada recuperação judicial. Esse instituto jurídico assombra credores, especialmente os produtores rurais, que têm hoje valores retidos pelas seguradoras. É preciso ter uma ação procedente e uma seguradora financeiramente saudável para receber a indenização.”

Segundo a advogada, com a ocorrência de sinistros em maior quantidade atualmente, além da escassez de oferta, outro reflexo é o aumento do valor do seguro, baseado no risco da região.

“Quando o seguro rural começou a se popularizar, empresas que talvez não sejam tão sólidas se aventuraram neste mercado. Principalmente na nossa região, até 2019, elas navegaram em céu de brigadeiro. Mas os sinistros começaram a acontecer e deu para sentir quem era sólido, ou não, no ramo. Talvez para os produtores rurais essas informações de solidez chegaram tarde e muitos tiveram que amargar o prejuízo com a perda da safra e ainda suportar a frustração de não receber a indenização”, conclui.

OUTRO LADO

Questionada sobre a dificuldade dos agricultores do Paraná em contratar seguro rural e também em receber indenizações, a Susep (Superintendência de Seguros Privados) – órgão ligado ao Ministério da Economia, que supervisiona as corretoras – declarou que, em virtude do período de defeso eleitoral, não está se manifestando por meio de entrevistas ou apresentações.