Levantamento realizado pela Embrapa Soja apontou que o Paraná registrou um desfalque de 154 milhões de sacas de soja na safra 2021/22 em decorrência da seca, o que provocou um prejuízo de quase US$ 5,7 bilhões aos agricultores, cerca de R$ 27 bilhões.

As perdas registradas na região Sul do Brasil (Paraná, Rio Grande do Sul, Santa Catarina) e Mato Grosso do Sul alcançaram 403 milhões de sacas, com um prejuízo da ordem de US$14,9 bilhões, mais de R$ 71 bilhões (considerando o preço médio em maio/2022 de 36,79 dólares por saca de 60 kg).

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José Salvador Foloni, pesquisador da Embrapa Soja e coordenador do Programa TESS (Tecnologias para o Enfrentamento da Seca na Soja), explica que a seca é o fator que causa os maiores prejuízos à soja brasileira, entre todos os fatores inerentes ao ambiente de produção.

“É um problema complexo, de ampla abrangência territorial e que tem longo histórico de severos danos causados à sojicultura nacional”, pontua.

Imagem ilustrativa da imagem Seca gera prejuízo de R$ 27 bi na soja na safra 2021/22 do PR
| Foto: Marcos Zanutto/23/12/2008

Na safra 2022/23, entre os 43 milhões de hectares de soja produzidos no Brasil, a grande maioria das áreas é conduzida em regime de sequeiro, sendo que somente 2 milhões de hectares são produzidos com irrigação (menos de 10%). “Nas áreas de produção, é frequente a ocorrência de períodos com pouca chuva, associada a altas temperaturas e intensa insolação”, acrescenta o pesquisador.

PROGRAMA

Para enfrentar esse cenário, a Embrapa Soja mantém o programa TESS, que reúne ações coordenadas de pesquisa científica, desenvolvimento tecnológico e transferência de tecnologias para mitigar os efeitos da seca na cultura da soja.

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O TESS contempla ampla programação de transferência de tecnologia e estabelecimento de uma rede de parcerias da Embrapa em todo o Brasil, para que o conhecimento já gerado e disponível seja compartilhado de forma ágil e assertiva para aqueles que precisam da informação qualificada para produzir soja.

“Nosso objetivo é também promover a capacitação de profissionais de assistência técnica e agricultores, por meio de dias de campo e cursos presenciais e no formato de educação à distância (EAD), visando intensificar a adoção de tecnologias mitigadoras da seca.”

Além disso, o pesquisador destaca que são utilizados diferentes canais de comunicação, redes sociais e plataformas digitais de comunicação para divulgação massiva das informações sobre as estratégias de mitigação da seca.

“O programa pretende atuar de forma multidisciplinar, associando diferentes áreas do conhecimento para que haja avanços agronômicos significativos, de forma articulada para atender agricultores nas diferentes regiões sojícolas do Brasil.”

EXEMPLOS

Como exemplos do esforço empreendido pela Embrapa, o pesquisador pontua que há muitas práticas sendo utilizadas no dia a dia dos agricultores para enfrentar a seca, como o sistema de plantio direto, o zoneamento de risco agroclimático para épocas de semeadura da soja, o melhoramento genético para cultivares mais adaptadas ao déficit hídrico, entre outras.

“Temos ainda a edição gênica para acelerar o processo de obtenção de cultivares mais tolerantes ao déficit hídrico, o sensoriamento remoto via satélite para distinguir lavouras prejudicadas pela seca e a fenotipagem de larga escala por meio de sensores hiperespectrais e termais para seleção de genótipos mais resilientes sob estresse”, lista.

IMPORTÂNCIA

A soja é o produto mais relevante financeiramente do agronegócio paranaense. Estudo realizado pelo Deral (Departamento de Economia Rural), órgão ligado à Seab (Secretaria Estadual de Agricultura e Abastecimento), aponta que a cultura tem participação de 28% na riqueza produzida no campo.

Em 2021, a soja foi responsável por gerar um VBP (Valor Bruto da Produção), a riqueza advinda da atividade, de quase R$ 51 bilhões.

O maior produtor de soja no Paraná nesse ano foi Tibagi, com VBP de R$ 960 milhões advindos de 371 mil toneladas cultivadas em 96,5 mil hectares de terras. Em segundo lugar no VBP paranaense ficou o frango de corte, com R$ 32,4 bilhões e participação de 18% no VBP do Estado.

Embrapa pesquisa cultivares mais tolerantes à seca

Adeney de Freitas Bueno, chefe de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa Soja, reforça que a entidade pretende aumentar os investimentos em edição gênica, fenotipagem e melhoramento genético para acelerar processos de obtenção de cultivares mais tolerantes à seca, além de promover avanços nas práticas no campo para tornar as lavouras mais resilientes ao déficit hídrico.

“Entre as principais estratégias recomendadas para contornar o problema da seca está a diversificação de culturas e a adoção de práticas de manejo do solo. Essas práticas podem melhorar a construção de perfil do solo, aumentando o armazenamento de água disponível para as culturas, assim como o enraizamento em profundidade e o menor escorrimento superficial das enxurradas (erosão)”, explica.

Para acelerar os processos de obtenção de cultivares mais tolerantes à seca, os pesquisadores vêm conduzindo estudos em biotecnologia com ênfase nas técnicas de edição gênica.

Em março de 2023, a CTNBio (Comissão Técnica Nacional de Biossegurança) considerou como convencional (não transgênica) a soja desenvolvida pela Embrapa para a tolerância à seca, a partir da técnica de edição gênica CRISPR (Repetições Palindrômicas Curtas Agrupadas e Regularmente Interespaçadas, na sigla em inglês).

“Essa técnica possibilita a identificação de genes de interesse no DNA da própria soja e a edição desses genes para que possam expressar determinadas características agronômicas importantes para a cultura, como a tolerância à seca.”

Bueno acrescenta que a metodologia CRISPR é considerada revolucionária por permitir a manipulação de genes com maior precisão, rapidez e menor custo.