Horta de repolho em propriedade de São José dos Pinhais; produtor espera colher 50 mil cabeças neste ano
Horta de repolho em propriedade de São José dos Pinhais; produtor espera colher 50 mil cabeças neste ano

São José dos Pinhais lidera a produção de hortaliças no Paraná. De acordo com a Secretaria de Estado da Agricultura e do Abastecimento (Seab), o município da Região Metropolitana de Curitiba produziu 319 mil toneladas em 2019, dado mais recente disponível, o que representa 11% de tudo o que saiu das hortas do Paraná.

O negócio rendeu para o município aproximadamente R$ 528 milhões, praticamente o dobro de Guarapuava, a segunda colocada, que movimentou R$ 275 milhões, com 5% de participação no mercado.

Extensionista do IDR (Instituto de Desenvolvimento Rural)-Paraná, o técnico agrícola e engenheiro agrônomo Paulino Nogueira Magalhães explica que vários fatores tornaram São José dos Pinhais líder na produção de hortaliças no Estado.

“Altitude média que fica a 800 metros do nível do mar, com clima temperado, ameno, favorável à produção de hortaliças, além da boa disponibilidade de água. O município tem amplo território, com a zona rural colonizada por descendentes de poloneses, ucranianos, italianos, entre outros, com tradição na lida com agricultura”, explicou.

Imagem ilustrativa da imagem São José dos Pinhais lidera a produção de hortaliças no Estado
| Foto: Ari Dias/Agência Estadual de Notícias

Hortaliças como brócolis e couve-flor em propriedade de São José dos Pinhais

Magalhães acrescenta que o cultivo de hortaliças em São José dos Pinhais tem registro de mais de 100 anos, com a vinda dos imigrantes poloneses.

“Mas o arranjo local teve um crescimento vertiginoso na década de 1970 com a a urbanização da Região Metropolitana de Curitiba, puxada pela industrialização da capital. A partir desse momento, São José dos Pinhais tornou-se um produtor e exportador de hortaliças para todas as regiões do Estado e outras partes do Brasil.”

Segundo o técnico, São José dos Pinhais conta hoje com cerca de 4 mil famílias que se dedicam à produção de hortaliças. Ao todo, são gerados mais de 20 mil empregos diretos com a atividade.

Uma delas é a família do produtor Moisés Gribogi, que planta 8 hectares de hortaliças. Ele se dedica à atividade há quase 30 anos, desde os 19 anos de idade. Hoje ele tem cultivadas variedades como repolho, couve-flor, beterraba e cenoura. “Meu pai já lidava com vacas de leite, fomos criados na lavoura, e desde novos estamos na área.”

Neste ano, a expectativa do agricultor é produzir 3 mil caixas de cenoura, 2 mil caixas de beterraba, 50 mil cabeças de repolho e entre 3 mil e 4 mil dúzias de couve-flor. A maior parte da produção, cerca de 90%, é comercializada para a Ceasa de Curitiba.

“O mercado está bem fraco. Com essa pandemia, os preços estão muito baixos e os custos estão subindo – os adubos, insumos, sementes, tudo subiu. Nossa mercadoria está só baixando.”

Ele relembra que no ano passado, nesta época, a caixa de cenoura era vendida a R$ 20. “Este ano estamos vendendo a R$ 12”, comparou. A dúzia de couve-flor está sendo vendida a cerca de R$ 20 atualmente. “No verão chegou a R$ 40, até R$ 50, então é complicado.”

Segundo ele, o maior desafio hoje são os preços, muito baixos. “Muita oferta de mercadoria. Quando dá uma melhorada, vem mercadoria de fora, daí os preços já caem, não tem um preço certo, é muito instável. Se tivesse um preço tabelado o ano inteiro seria bom para a gente.”

O produtor Moisés Gribogi comercializa cerca de 90% da produção para a Ceasa de Curitiba
O produtor Moisés Gribogi comercializa cerca de 90% da produção para a Ceasa de Curitiba | Foto: Arquivo Pessoal

O produtor Moisés Gribogi comercializa cerca de 90% da produção para a Ceasa de Curitiba

Hoje, o Paraná destina uma área de 120 mil hectares para a plantação de hortaliças, com produção estimada de 1,94 milhão de toneladas.

“O Estado produz quase todas as variedades de hortaliças existentes no mundo, mas as mais produzidas comercialmente são batata, cebola, tomate, alface, repolho, couve-flor, brócolis, couve-manteiga, beterraba e cenoura”, destacou Magalhães.

O técnico acrescenta que os preços das hortaliças são muito instáveis, já que seguem sempre a lei da oferta e da procura. “O fiel da balança acaba sendo a renda do brasileiro.”

DESAFIOS

Entre os desafios dos produtores de hortaliças no Paraná, o engenheiro agrônomo destaca a adoção de práticas conservacionistas – ações que, com modificações no sistema de cultivo, controlam a erosão e contribuem para manter ou até aumentar a fertilidade do solo.

“Outros desafios são a produção de alimentos saudáveis isentos de resíduos químicos e biológicos prejudiciais à saúde e manter a competitividade para poder fazer os investimentos necessários na atividade, tais como aquisição de máquinas, construção de estufas, câmaras frias, caminhões e aquisição de sistemas de irrigação eficiente”, listou.

Ele defende que o Estado adote medidas de incentivo que possibilitem a abertura de novos mercados no exterior para os agricultores, com produtos hortícolas pré-elaborados – minimamente processados.

Geada não deve gerar perdas significativas

O extensionista do IDR Paulino Nogueira Magalhães explica que a geada registrada nesta semana em alguns pontos do Paraná não deverá gerar perdas significativas para os horticultores do Estado.

“Nesse período a formação de geadas é normal, portanto a maioria dos horticultores se previne usando proteção física com TNT, tecido sobre as alfaces, por exemplo.”

Com relação a outras lavouras que não toleram frio, como tomate, pimentão, abobrinha e pepino, por exemplo, o técnico pontua que elas estão geralmente protegidas nas estufas. “E quando cultivadas em campo aberto estão em final de ciclo, não gerando perdas significativas”, conclui.

O produtor Moisés Gribogi, no entanto, acrescenta que a geada deverá afetar a produção de alguma maneira, mas ele ainda não tem como contabilizar as perdas neste momento. “Tem que esperar alguns dias para saber como vai ser. As cabeças de repolho e de couve-flor devem ficar menores”, projeta.