Santa Isabel do Ivaí, na região de Paranavaí, é o maior produtor de abacaxi do Paraná. O município a noroeste do Estado produziu 1,2 mil toneladas da fruta em 2021, volume que representou 12,5% da produção de todo o território paranaense. O VBP (Volume Bruto de Produção), a riqueza advinda da atividade em Santa Isabel, alcançou quase R$ 2,2 milhões no ano passado.

Ricardo Domingues, engenheiro agrônomo do IDR (Instituto de Desenvolvimento Rural) Paraná, explica que o destaque de Santa Isabel do Ivaí no cultivo da fruta pode ser explicado pelo solo e pelo clima, ambos apropriados para o plantio. Essa vocação fez com que, há quase 20 anos (desde 2003), o município recebesse a alcunha de Capital do Abacaxi.

“O solo arenoso, as temperaturas elevadas e as chuvas satisfatórias são condições adequadas para o cultivo do abacaxi. Além disso, o risco de geada é pequeno e há bastante luminosidade, com dias compridos e insolação, que garantem um abacaxi mais doce”, enumera o técnico.

Hoje, o município com menos de 9 mil habitantes conta com 18 produtores de abacaxi cultivando a fruta em 80 hectares de terras, sendo que 80% deles se dedicam à agricultura familiar.

“O abacaxi é a cultura que mais agrega valor de produção por área explorada, sendo que cada alqueire plantado gera 1,5 emprego direto. Como é uma lavoura praticamente manual, demanda muita mão de obra. Inclusive a falta de mão de obra é um entrave para o cultivo da fruta hoje”, explica. O abacaxi gera atualmente cerca de 120 empregos diretos em Santa Isabel do Ivaí.

Pineapple in a plantation close up view
Pineapple in a plantation close up view | Foto: iStoock

FOMENTO

José Carlos Ribeiro, secretário municipal de Meio Ambiente e Agricultura, explica que a maioria das propriedades em Santa Isabel do Ivaí é de pequeno porte, sendo que grande parte dos agricultores não tem condições de comprar equipamentos agrícolas.

“Hoje a secretaria ajuda nossas quatro associações de produtores rurais que se dedicam a diversas culturas, incluindo o abacaxi. Doamos tratores e implementos agrícolas para o preparo do solo, o que facilita muito principalmente para os pequenos produtores. Fazemos a doação e a manutenção do maquinário fica a cargo dos associados”, explica.

DESAFIOS

O produtor rural Rogério Danatone planta abacaxi há mais de 30 anos em Santa Isabel do Ivaí. Hoje, são 6 hectares plantados. O início na atividade foi por influência dos primos, que já cultivavam a fruta em São Paulo, no passado.

Neste ano, a expectativa é produzir 100 toneladas da fruta, que abastece mercado interno, unidades da Ceasa de Cascavel e de Maringá e alguns mercados. Parte da produção é exportada.

Danatone explica que a produtividade poderia ser maior. “Teve chuva de pedra e isso prejudicou a produção neste ano. No ano passado ainda foi pior, por causa da geada, quando consegui produzir só 60 toneladas”, relembra.

O quilo do abacaxi em dezembro de 2022 foi comercializado a até R$ 1,90. No mesmo mês do ano passado, o preço girava em torno de R$ 1,50.

Para obter o máximo de desempenho na lavoura, o agricultor procura escolher a melhor porção de terra, bem produtiva, e investe pesado em adubação.

“Quanto mais você adubar, mais bonito fica o abacaxi”, destaca. O problema é o preço do fertilizante. Segundo o agricultor, a tonelada do adubo utilizado custava R$ 1,3 mil em 2019 e saltou para cerca de R$ 5 mil em 2020 – um aumento de mais de 280%.

Outro desafio é obter mão de obra para a colheita. “Não tem funcionário para cultivar a roça. Hoje não tenho funcionário fixo, só contrato pessoas para a colheita”, diz.

O alto custo de produção já está fazendo Danatone cogitar deixar a atividade em 2023. “Nossa região chegou a ter até 9 milhões de pés de abacaxi. Hoje, se juntar tudo, não chega a 2 milhões”, compara.

Atrás de Santa Isabel do Ivaí, o segundo maior produtor de abacaxi no Paraná em 2021 foi Santa Mônica, que produziu 11,2% do total dessa fruta cultivada no Estado no ano passado. A produção estadual de abacaxi está concentrada no Noroeste do Paraná (70,9%).

ESTADO

O Paraná responde somente por 0,7% da produção brasileira de abacaxi. Ao todo, 205 municípios exploram comercialmente a fruta, que é vendida para os mercados local e regional, além de ser exportada para a Argentina, via Foz do Iguaçu.

“Nos municípios onde é explorada, a atividade se reveste de importância, pois gera emprego e renda, utilizando mão de obra intensiva nas diversas fases do cultivo”, explica Paulo Andrade, engenheiro agrônomo do Deral (Departamento de Economia Rural), órgão ligado à Seab (Secretaria Estadual de Agricultura e Abastecimento)

A área colhida de abacaxi foi de 499 hectares em 2021 no Paraná, para uma produção de 9,6 mil toneladas. Segundo o técnico, geadas e secas influíram na redução de 48,6% dos volumes frente a 2020, quando foram extraídas 18,7 mil toneladas.

Nos últimos dez anos (de 2012 a 2021), houve um incremento de 5,1% na área plantada de abacaxi no Estado e uma redução de 8,9% nas colheitas da fruta. O VBP de 2021 da cultura no Paraná foi de R$ 17,5 milhões.

Nas Ceasas do Paraná foram comercializadas 46,6 mil toneladas de abacaxis em 2021, provenientes principalmente de Minas Gerais (49,6%) e do Pará (20,6%), a um preço médio de R$ 2,16/quilo. O Censo Agropecuário apontou 666 propriedades cultivando abacaxi no Paraná em 2017.