Sangue europeu para os Trópicos
PUBLICAÇÃO
sexta-feira, 14 de abril de 2000
Jota Oliveira
De Londrina
O idealizador da raça, Pedro G. Surreaux, criador, médico-veterinário e professor da PUC do Rio Grande do Sul, disse esta semana, durante a 40ª Exposição Agropecuária e Industrial de Londrina, que faz questão de criar o aquitânica no pasto, porque esta é a realidade no Brasil, onde a maioria do rebanho bovino de carne é criado no campo. Além disso, justifica, no pasto ele pode observar melhor o comportamento do animal.
Surreaux aponta, como qualidades positivas do aquitânica, entre outras, a capacidade dos reprodutores que, ao contrário de outros touros de origem européia, correm atrás das vacas nelore no pasto e nessas condições naturais, aos dois anos de idade, cobrem de 30 a 40 vacas por estação de monta. Alguns chegam a ultrapassar 60 vacas por estação, Esses animais de libido exagerada desgastam-se mais cedo e precisam ser substituídos após uma semana a 15 dias. Mas, tudo depende das condições em que o animal foi mantido. Já o touro sossegado tem vida reprodutiva mais longa.
DiferençasSobre o ganho-de-peso do aquitânica em comparação com outras raças, Surreaux, que é médico-veterinário, zootecnista e jurado em exposições no Brasil e Exterior, afirmou que os animais cruzados, de modo geral, comportam-se da mesma maneira. Depende de como foram criados. Segundo ele, é fundamental saber que tudo é a mesma coisa, mas, ressaltou, a individualidade é muito importante, até porque o europeu em geral não vai atrás da vaca no pasto. O aquitânica vai e por isso pode-se fazer o cruzamento industrial no campo, sem inseminação artificial.
Esta, destaca Surreaux, é diferença do aquitânica com outras raças. Essa raça, adaptada às condições brasileiras, devido ao cruzamento de europeu puro (blonde dáquitaine) com caracu, primeira raça brasileira, também de origem européia, suporta bem o calor, o estresse causado pelas condições tropicais. É uma raça genuinamente brasileira, destacou o professor.
Na opinião do melhorador Harley dos Santos Pansard que, junto com o Sindicato Rural trouxe a Londrina o professor Surreaux, o reprodutor é mais importante do que a boa raça.
O ganho-de-peso, razão principal dos esforços dos pecuaristas para melhorar seu rebanho porque isso lhe dá maior retorno financeiro em menos tempo depende, acrescentou, do tipo de alimento, mas em pasto de braquiaria conseguem-se 18 arrobas, no aquitânica, aos 30-34 meses. Para comparações pode-se falar em 300 quilos, em média, aos 20 meses.
Rendimento de carcaçaPedro G. Surreaux e o médico-veterinário e pecuarista Harley dos Santos Pansard disseram que a raça blonde daquitaine tem batido recordes mundiais, mas, cruzada com caracu, dá geralmente 60% em campo nativo. O recordista mundial blonde, chamado Giscard, forneceu 76,2% de carne por quilo (rendimento de carcaça), na França, porém em sistema confinado. Animais da mesma linhagem foram usados por Surreaux em caracu, para produzir a raça aquitânia.
Qualidade da carneNo Rio Grande do Sul segue-se a escola americana, que ainda exige certa cobertura de gordura, enquanto na Europa prefere-se a carne mais magra, sem cobertura, e o aquitânica tem essa característica: pouca cobertura de gordura, situação conveniente também porque nos Trópicos os animais não precisam proteger-se com manta gordura como no inverno do Hemisfério Norte.
Os especialistas acreditam que, se o Brasil desenvolver uma possibilidade zootécnica como fez com o nelore, poderá criar nova raça ou raças para a produção nacional de carne chegar a 250 milhões de toneladas. Tem que se preocupar muito em obter quantidade barata e rápidamente, em vez de apenas procurar produzir qualidade para uma elite de consumidores, comentou Surrea, par quem não se deve perder tempo em qualidade, mas produzir rapidamente e muita carne, para matar a fome do Brasil e do mundo.Cruzamento de blond daquitaine com caracu é nova alternativa para reprodução e engorda nas pastagens brasileiras
Reprodutor aquitânica, na Exposição de Londrina: touro para cruzar com vacas neloreCriador Pedro G. Surreaux desenvolveu a raça brasileira aquitânica
