A Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) Soja realizou nesta semana a 38ª RPS (Reunião de Pesquisa de Soja) em Londrina. Foi a primeira edição do evento desde 2019, que tem como foco reunir técnicos, pesquisadores e produtores do agro para apresentar e discutir os principais avanços da pesquisa, cenários da safra de soja e promover intercâmbio de experiências.

A programação foi de quarta (23) a quinta-feira (24) com palestras, expositores e painéis técnicos, reunindo cerca de 500 pessoas. O chefe-geral da Embrapa Soja, Alexandre Nepomuceno, ressalta que a tecnologia é a base do agronegócio brasileiro, tendo a ciência, o desenvolvimento e a inovação como pilares.

“Essas reuniões vêm acontecendo desde 1977. Era reuniões bem técnicas, e a gente nesse novo modelo, após a pandemia da Covid-19, queremos uma aproximação maior com a cadeia produtiva”, argumentando que diminuiu a distância entre ciência aplicada e mercado. “Ter reuniões mais frequentes, anuais, com essa aproximação, é extremamente importante para que nossos produtores e o setor produtivo interajam de uma maneira mais eficiente.”

Para o chefe-geral da Embrapa Soja, Alexandre Nepomuceno, a tendência é que a soja mantenha protagonismo nos campos brasileiros
Para o chefe-geral da Embrapa Soja, Alexandre Nepomuceno, a tendência é que a soja mantenha protagonismo nos campos brasileiros | Foto: Douglas Kuspiosz

O presidente da 38ª RPS, Fernando Henning, aponta que os participantes da reunião, que tem cunho técnico-científico, ajudam a disseminar as informações e levam as novidades para o dia a dia do campo.

“O agro é um setor integrado e tecnificado, e que agregou tecnologia de uma forma muito rápida, principalmente após a pandemia. Hoje, para você divulgar um evento como esse, está muito rápido. A vantagem de ter essa pujança é que toda grande tecnologia também chega rapidamente ao produtor”, destacando que ter diferenciais de produtividade e qualidade na soja, a partir dos investimentos, é vital.

A programação contou com a palestra “Cenário atual e futuro da cadeia de produção de soja”, ministrada pelo ex-ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, que também é consultor e professor da FGV (Fundação Getúlio Vargas). Outros temas abordados foram a genética avançada, o uso de boas práticas agrícolas, o mercado de cultivares, o cenário da soja convencional e as perspectivas para a soja de baixo carbono.

PROTAGONISMO DA SOJA

Para Nepomuceno, a tendência é que a soja mantenha protagonismo nos campos brasileiros. Ele lembra que cerca de 40% das receitas cambiais do país vêm do grão.

“A soja é a base do leite que você compra, dos ovos, do frango, do porco, é a base da alimentação desses animais. Então, vai sim continuar uma demanda crescente, os estoques e a demanda mundial por soja, milho e outros grãos só tem aumentado”, afirma.

Mas, se por um lado os resultados do produto indicam que as boas práticas têm surtido efeito, o chefe-geral acredita que o país precisa agregar valor.

“Começar a olhar essa mudança da química fóssil para a química verde e usar produtos da agricultura, principalmente óleos e vegetais, para ser a estrutura de moléculas para fazer bioplástico, biocombustíveis. Essa é a grande mudança”, completa.

LÍDER EM EXPORTAÇÃO

O consultor Fernando Nauffal Filho, que ministrou a palestra “Soja convencional: perspectivas e desafios”, explica que esse mercado não transgênico tem espaço na Europa, tendo na ponta final as grandes cadeias de supermercados. Mas o principal player mundial da soja convencional é o Brasil, com apoio da Embrapa Soja.

O consultor Fernando Nauffal Filho disse que o mercado não transgênico tem espaço na Europa:  grandes cadeias de supermercados
O consultor Fernando Nauffal Filho disse que o mercado não transgênico tem espaço na Europa: grandes cadeias de supermercados | Foto: Douglas Kuspiosz

“É um mercado de início, com poucos players e pouco trânsito de informações. Nos últimos anos, tenho atuado forte nesse sentido de melhorar a comunicação entre Brasil e Europa, e, para que isso aconteça, [é preciso] trazer informações pertinentes para esse mercado”, diz.

Nauffal Filho cita que a parcela certificada de soja convencional é de 2% a 3% da produção nacional. Uma das características desse mercado é que a exportação do grão convencional tem domínio de empresas brasileiras.

O consultor acredita que, para manter essa liderança, é necessário melhorar a comunicação e “afinar os pontos que hoje nos deixam em desacordo ou desarmonia com o que acontece na Europa”. Ressaltar a sustentabilidade da produção é um exemplo.

Programa cria certificação para quem reduzir emissão de carbono nas lavouras

A reunião também contou com uma palestra sobre o PSBC (Programa Soja Baixo Carbono), que vai criar uma certificação para os produtores que mantêm práticas para reduzir as emissões de carbono nas lavouras.

O pesquisador da Embrapa Soja, Henrique Debiasi, explica que o intuito foi apresentar as oportunidades de agregação de valor em produtos desta natureza.

“Estamos propondo uma metodologia baseada em ciência com adesão voluntária por parte do produtor. Esse protocolo vai funcionar por meio de uma certificação independente e privada”, acrescentando que a criação do selo vai gerar novas oportunidades como créditos de carbono, acesso a financiamento com taxas menores e abertura de mercados que pagam mais. “O grande benefício da soja de baixo carbono vai se estender não só aos produtores certificados, mas a toda a agricultura brasileira, que vai mostrar com números o quão sustentável nosso agro é. Vai ajudar a melhorar nossa imagem.”

Debiasi destaca que a estimativa é que o protocolo está em fase de validação nesta safra, e que a certificação deve entrar no mercado até meados de 2026. Serão selecionadas 25 áreas para aplicação do protocolo em todo o país.

Entre as práticas utilizadas para redução da emissão de carbono estão o sistema de plantio direto, o manejo integrado de pragas, doenças e plantas daninhas, práticas de inoculação e coinoculação da soja, adoção de insumos biológicos e uso eficiente de fertilizantes.

Produção sustentável de grãos foi pauta de evento

Promovido pelo Sistema Faep/Senar-PR e com parceria técnica do IDR-Paraná e da Embrapa Soja, o evento “Seminário de Produção de Grãos Sustentáveis” foi realizado paralelamente à 38ª Reunião de Pesquisa de Soja, em Londrina, na quinta-feira (24). Foram apresentados painéis abordando os resultados das boas práticas na agricultura.

O coordenador estadual do programa Grãos Sustentáveis do IDR-Paraná, Edivan José Possamai, aponta que esse tipo de produção leva em conta o uso de técnicas como o manejo integrado de pragas e doenças, e a fixação biológica de nitrogênio.

“É um trabalho que fazemos junto aos produtores rurais, que chamamos de unidades de referência, que aplicam as tecnologias e são acompanhados sistematicamente com o levantamento das informações”, esclarecendo que, ao final da safra, os resultados são comparados com os de agricultores que não adotam as tecnologias.

“Os resultados mais expressivos que esse projeto têm são a possibilidade de reduzir em 50% as aplicações de inseticida, quando adotado o manejo integrado de pragas, e no manejo integrado de doenças, a redução de 38% das aplicações de fungicidas”, acrescenta.

Em relação à fixação biológica de nitrogênio, com uso de inoculantes, há aumento de produtividade de 8%. Ou seja, são tecnologias que reduzem custos de produção, aumentam a produtividade e têm menor impacto ambiental. (D.K).