Recuperação rápida depois da geada
PUBLICAÇÃO
sexta-feira, 13 de outubro de 2000
Vânia Moreira De Umuarama
Duramente castigadas pela estiagem e pelas geadas, as pastagens do Paraná estão se recuperando rapidamente graças às chuvas abundantes de setembro. Os pecuaristas já respiram aliviados e os técnicos prevêem que os efeitos da seca e do frio rigoroso não serão graves, a menos que pare de chover. Especialista em nutrição de ruminantes, o zootecnista João Batista Barbi, da Emater de Tapejara, Norte do Estado, diz que uma estiagem agora seria uma calamidade, principalmente para a pecuária do Noroeste, onde está o maior rebanho do Estado - cerca de 1,4 milhão de cabeças - e a maioria dos pecuaristas não investem em suplementação alimentar.
A rebrota do capim torrado pelas geadas de julho já modificou a paisagem. Mesmo as pastagens mais ruins estão se recuperando bem. Barbi prevê que em 45 dias a situação estará normalizada, desde que continue chovendo regularmente. Segundo o zootecnista da Emater, os animais perderam em média 30% do peso, 5% a mais do que perdem normalmente nesta época do ano quando alimentados apenas a campo. A perda não foi tão grande, avalia.
Descarte mais cedo Segundo Barbi, o gado não perdeu muito peso porque os pecuaristas perceberam que a situação ficaria crítica e descartaram o rebanho gordo mais cedo. Praticamente todo o gado pronto para abate foi vendido antes de junho e sobrou mais alimento para os animais que ficaram no pasto, diz Barbi. A baixa lotação também preservou um pouco as pastagens e está contribuindo para a rápida recuperação verificada agora.
Para o economista Atico Luiz Ferreira, do Departamento de Economia Rural (Deral) da Secretaria da Agricultura, a alta da arroba do boi semana passada foi um reflexo da recuperação das pastagens. Mais tranquilos, os criadores começam a segurar os animais para recuperar ou ganhar peso. João Batista Barbi diz que agora não há boi gordo no pasto. O que temos é mais ou menos 40% do gado confinado pronto para abate. Por conta da entressafra, o preço deverá subir um pouco até novembro. Mas se o tempo continuar ajudando, a safra não vai atrasar e o mercado se normalizará rapidamente.
Barbi afirma que a maior consequência da estiagem do ano passado será uma queda de aproximadamente 10% na taxa de nascimentos, que começam agora. Temos um índice de natalidade médio de 65%. Este ano, vai ficar em torno de 55%. De acordo com o zootecnista, 99 foi um ano atípico com chuvas irregulares e escassas que castigaram muito as pastagens. Há 30 anos não tínhamos um ano assim e, por conta disso, o rebanho vai encolher 10%. Mal alimentadas, as fêmeas não entram no cio e não pegam cria.
Sem investimentoBarbi salienta que os problemas deste inverno devem conscientizar um número maior de pecuaristas a investir em tecnologia e suplementação alimentar. Atualmente, apenas 30% a 40% dos criadores adotam algum tipo de reforço alimentar para o gado no inverno. A maioria ainda conta apenas com o capim e a sorte. Em compensação, quase 80% já fazem reforma de pastagens.
Trinta por cento dos pecuaristas optaram pelo sal proteinado por ser um produto mais barato e que não exige muita mão-de-obra. Entre 10% e 15% cultivam volumosas (cana-de-açucar, nappier, aveia, etc.) e apenas 5% adotam a suplementação concentrada (rações industrializadas). Apenas 10% das propriedades trabalham com semi-confinamento e 5% fazem confinamento.
Segundo Barbi, o atraso tecnológico da pecuária regional ainda é muito grande. Os pecuaristas só vão mudar quando sentirem que a produtividade está muito baixa e que estão perdendo renda. Os pequenos e médios já começam a correr atrás do prejuízo, mas os grandes criadores permanecem fiéis à pecuária extensiva.
Ele calcula que vai levar uns 10 anos para a região alcançar a produtividade média de centros produtores mais avançados como a Argentina. A região produz em média 75 quilos de carne por hectare por ano. A média Argentina é de 350 kg/ha/ano. Segundo Barbi, pelas características e potencial da região, dá para produzir até 900 kg/ha/ano.
Tecnologia Em Tapejara, os poucos pecuaristas que adotaram há pouco tempo aproximadamente 80% da tecnologia de produção existente (inseminação artificial, cruzamento industrial, confinamento) já estão obtendo 390 kg/ha/ano. Com um detalhe: ainda não melhoraram as pastagens das propriedades.
Há três anos, os irmãos Nelson e Dionísio Penasso pensavam em arrendar a propriedade de 66 alqueires para o plantio de cana-de-açucar e mudar para a cidade, porque não estavam conseguindo sobreviver da pecuária. Começaram a produzir novilho superprecoce e agora já contabilizam uma renda líquida anual de R$400,00/ha/ano, mais que a mandioca e a cana-de-açucar que rendem, respectivamente R$370,00 e R$ 220,00 ha/ano. Em época de vacas magras, os Penasso têm um lote de 50 bois superprecoces (com 16 arrobas) pronto para vender. Outro lote fica pronto em um mês.