Queda no preço de painel solar estimula energia renovável no campo
Número de novos projetos no estado cresceu 123% neste ano em comparação a 2023, segundo dados do programa RenovaPR
PUBLICAÇÃO
sábado, 01 de junho de 2024
Número de novos projetos no estado cresceu 123% neste ano em comparação a 2023, segundo dados do programa RenovaPR
Lucas Catanho - Especial para a FOLHA
Motivada principalmente pela superoferta no mercado, a queda no preço dos painéis fotovoltaicos desde o final de 2023 vem estimulando os produtores rurais paranaenses a investirem em energia solar em suas propriedades.
Segundo estudo da Infolink Consulting (principal consultoria que acompanha o mercado energético no mundo), a redução dos valores chegou a 40%.
Prova desse aumento da procura por energia solar está nas estatísticas do RenovaPR (Programa Paraná Energia Rural Renovável), programa estadual que subsidia taxas de juros de financiamentos junto aos agricultores que desejam implantar sistemas de energia alternativa em suas propriedades.
De 1º de janeiro a 10 de maio de 2023, o programa registrou o ingresso de 251 novos projetos de energia solar no estado, somando R$ 39,9 milhões de investimentos.
No mesmo período deste ano, foram 560 novos projetos, gerando um montante de R$ 54,3 milhões. As estatísticas apontam aumento de 123% em número de projetos e de 36% em valores investidos em território paranaense quando se fala em energia gerada pela fonte solar.
PREÇOS EM QUEDA
A discrepância dos percentuais pode ser facilmente explicada. “Os projetos antes eram maiores e foram adquiridos por produtores com mais necessidade de energia. Agora, são projetos principalmente menores estimulados em virtude da queda dos preços dos painéis solares”, analisa Herlon Almeida, coordenador do RenovaPR.
Com a queda dos valores dos painéis solares, o tempo de retorno do investimento também caiu. Hoje, a média varia entre 36 e 48 meses. Antes, chegava a até 60 meses.
“É um período muito positivo porque a maior parte do crédito rural é composta por linhas que os produtores tomam com 72 meses para pagar. Quando chega no terceiro ou no quarto ano, ele já recuperou o capital investido”, pontua.
DESTAQUE
Segundo dados da Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica), o Paraná conta hoje com 32.765 ligações de energia por fontes solar e biogás na zona rural. Desse total, 32.701 são via solar e 60 por biogás.
“A expectativa é que esses números continuem crescendo no Brasil todo, com tendência de acentuada adesão por projetos menores em potência instalada e em valores”, destaca o coordenador.
TAXA DE JUROS
Em agosto de 2021, quando o programa Renova PR começou, o Paraná tinha pouco mais de 5 mil ligações de energia por fonte renovável. Hoje, entre as 32.765 adesões, quase 25% (8.069) têm subsídio na taxa de juros por parte do governo estadual.
É o caso do avicultor Ildo Alexandre Rottoli, que teve um financiamento liberado para adquirir 144 placas fotovoltaicas instaladas sobre o aviário que mantém na sua propriedade, em São João do Oeste, distrito de Cascavel, no Oeste.
Em janeiro de 2022, a propriedade começou a gerar energia própria por fonte solar – uma economia de aproximadamente R$ 2,9 mil ao mês com a conta de energia elétrica, que virou coisa do passado. O produtor cria frangos para corte.
Alexandre paga mensalmente um pouco menos pela parcela do financiamento, em comparação à conta de energia antiga. O plano escolhido para financiar as placas fotovoltaicas foi estruturado para 8 anos.
“Optei pela energia solar para reduzir o gasto que tinha anteriormente com a conta de luz. Exaustor, comedouros, fornos, nebulizadores, placas evaporativas, lâmpadas, tudo isso consumia muita energia elétrica”, enumera.
IMPACTO NA CONTA DE ENERGIA
O impacto da energia elétrica no custo total de produção é muito individual. No sistema de produção primária, a avicultura e a piscicultura são as atividades que mais demandam energia. O peso do custo da energia depende de fatores como nível de automação, por exemplo. “Quanto mais atual a planta, mais dependente de energia é”, explica o coordenador do RenovaPR.
O peso da energia elétrica nos sistemas de produção de avicultura varia de 20% a 30% no custo total. Na piscicultura, varia de menos de 10% até 22% de impacto. Na produção de leite, a variação vai de 7% a 20%.
O PROGRAMA
Todos os produtores rurais, independentemente do porte ou de classificação, podem aderir ao programa RenovaPR.
A porta de entrada é o escritório do IDR (Instituto de Desenvolvimento Rural), onde o produtor manifesta o interesse em gerar energia própria, leva a sua fatura de energia e com os dados é possível estimar quanto de energia ele precisa gerar para suprir a demanda.
O produtor escolhe a empresa habilitada e o banco para financiamento, tendo o subsídio de 3% na taxa de juros pelo governo estadual.
DESTAQUE
Com todo essa onda no investimento em fontes renováveis de energia, o Paraná passa a ser o segundo estado maior produtor de energia no meio rural no Brasil.
Hoje, segundo dados da Aneel, são 702 MW implantados no meio rural paranaense. O Paraná só fica atrás de Minas Gerais, com aproximadamente 100 MW a mais – lembrando que o estado tem 3,5 vezes o tamanho do território paranaense.
“Esse movimento mostra a força da política pública e gera maior competitividade ao agro paranaense, em especial quando se fala em proteínas animais (leite, suínos, aves e piscicultura), aumentando a condição do Paraná para se consolidar como um grande fornecedor de alimentos no Brasil e no mundo”, conclui o coordenador.