Localizada no Norte do Paraná, Apucarana é o maior produtor de abacate do Estado. Dados do Deral (Departamento de Economia Rural), órgão ligado à Seab (Secretaria Estadual de Agricultura e Abastecimento), mostram que o município produziu 3,3 mil toneladas da fruta em 186 hectares de terras em 2021.

O VBP (Valor Bruto da Produção), riqueza produzida pela atividade, alcançou quase R$ 9,7 milhões no município nesse mesmo ano.

O engenheiro agrônomo da Secretaria Municipal da Agricultura, André Maller, explica que as condições edafoclimáticas (relativas ao solo e ao clima) favorecem o cultivo do abacate em Apucarana.

“Em Apucarana predominam os solos de origem vulcânica, com a camada rochosa próxima da superfície, como os cambissolos. Os solos profundos, por sua vez, são os mais valorizados”.

Apucarana conta hoje com 46 produtores de abacate. As propriedades têm perfil variado, desde pequenos pomares até áreas com 400 abacateiros.

Há produtores rurais que produzem em pequena escala para o comércio local, como a Feira do Produtor. “Os grandes produtores vendem para empresas que realizam a colheita e transportam para centros consumidores fora do Estado. O abacate produzido no município é todo destinado para o consumo in natura.”

O agrônomo acrescenta que o abacate permite diversificação da produção e uma renda extra ao agricultor. “É possível realizar o consórcio do abacateiro com outras culturas, com destaque para o café, caso o produtor disponha de área com impedimento à mecanização e realize a colheita manual.”

É o caso do produtor rural Eduardo Alexandre Verona. No seu sítio em Apucarana, o abacate é plantado nas curvas de nível próximo às lavouras de soja, trigo, milho e café. Os abacateiros ocupam uma área de 12 hectares, que representam 23% da área cultivada da propriedade rural.

O cultivo do fruto começou pela família há cerca de 30 anos, pelo pai de Eduardo. Após o falecimento dele, Eduardo, os irmãos, a mãe e os primos seguiram na atividade.

“Na época que tudo começou, acredito que meu pai viu no abacate uma forma de aumentar a renda do sítio, pois possibilitava aproveitar a área disponível sem abrir mão de outras culturas que já havia na propriedade.”

No ano passado, o sítio produziu 61 toneladas de abacate. Neste ano, a expectativa é produzir um volume 30% maior. Apesar da previsão de aumento na produção, Eduardo comenta que a comercialização está pouco aquecida e os valores estão bem abaixo do esperado. “Penso que isso é um reflexo do aumento da produção aliado à diminuição da demanda.”

Em junho de 2022, o quilo do abacate era vendido a R$ 1,75. Em junho de 2023, o preço caiu para R$ 0,90 – queda de quase 50%.

MANEJO

Para obter o máximo de desempenho na produção, Eduardo e os familiares adotam uma série de práticas, como a erradicação das árvores doentes que podem contaminar outros abacateiros.

Além disso, são plantadas novas mudas de três variedades diferentes de abacate. “Isso proporciona colheitas em épocas distintas do ano, pois cada espécie costuma produzir frutos em meses diferentes.”

A pulverização do pomar com defensivos é frequente. “Anotamos o que foi usado e o período em que foi aplicado para poder analisar com base nesses dados o que foi mais eficiente”, destaca.

A observação do pomar, as trocas de informações com outros produtores e a consulta com técnicos agrícolas são outras práticas que fazem parte do cotidiano no sítio. “Também realizamos a análise de solo para a devida correção e adubamos adequadamente com base nessas análises.”

Sobre a lucratividade com a cultura, Eduardo comenta que já foi maior no passado. “O custo de produção aumentou muito, principalmente o combustível e os insumos. No preço que está hoje, infelizmente a margem de lucro está muito pequena.”

CONTROLE DE PRAGAS

Entre os desafios apontados pelo produtor figuram o controle de pragas, principalmente a broca, e o controle de formigas cortadeiras. “O fato de existir poucos defensivos agrícolas com indicação específica para abacate e o rigoroso controle por parte da fiscalização dos órgãos responsáveis limitam o uso desses produtos.”

Outra dificuldade apontada é a formação de novos abacateiros, pois as formigas atacam e destroem as mudas com frequência.

Eduardo sugere a criação de uma cooperativa para prestar apoio aos produtores de abacate. “Uma gestão competente, séria e transparente pode trazer muitos benefícios na comercialização, na divulgação e no estímulo ao consumo, pois esta fruta tem um alto valor agregado”, conclui.

PREJUÍZOS COM DERIVA

A Secretaria Municipal de Agricultura destaca a redução da produtividade ocasionada pela deriva de agrotóxicos.

“É um prejuízo muito injusto, porque ocorre mesmo se o produtor investir tempo e dinheiro para a realização de todos os tratos culturais corretamente”, afirma Gerson Santino Canuto, secretário municipal da Agricultura.

Outro desafio é o combate às formigas cortadeiras, especialmente a saúva-limão, que constroem ninhos profundos em áreas de mata e em propriedades vizinhas.

“O controle pode ser realizado com iscas formicidas, que são carregadas pelas formigas para dentro do formigueiro e lá realizam o controle da praga. Entretanto, diferente de outras pragas, as formigas não reduzem a população com a mudança do clima.”

O secretário orienta que o produtor rural deve constantemente exercer o controle da praga, arcando com esse custo de produção.

“Além disso, a eficiência do controle é limitada se o proprietário do pomar de abacateiros tomar as providências necessárias e o vizinho não controlar na sua”, conclui.

ASSISTÊNCIA

A Prefeitura de Apucarana presta apoio aos produtores rurais, com fornecimento de mudas, calcário e fosfato natural para a implantação de novos pomares.

“Os benefícios são inúmeros, pois o produtor rural que gera riqueza no campo leva essa riqueza para dentro da cidade em um ciclo virtuoso. Os produtores pagam para a prefeitura pelos insumos recebidos doando alimentos que são doados à merenda escolar e a entidades beneficentes”, ressalta Sebastião Ferreira Martins Junior (Junior da Femac), prefeito de Apucarana.

RIQUEZA

Levantamento realizado pelo Deral (Departamento de Economia Rural) mostra que a produção estadual de abacate alcançou 30,4 mil toneladas colhidas em 1,6 mil hectares. O VBP da cultura atingiu R$ 87,5 milhões em 2021, representando 2,4% do volume da fruticultura estadual.

A produção estadual está concentrada no Norte do Estado (88,1%), sendo o município de Apucarana o principal produtor (11,1%), Arapongas o segundo (7,7%) e Assaí o terceiro (6,6%).

A fruta está presente em outros 233 municípios do Paraná. Nas Ceasas do Paraná em 2022, num ranqueamento da comercialização de frutas, o abacate foi a 13ª em volume e a 15ª em valores praticados.

Ao todo, foram 10,3 mil toneladas comercializadas a R$ 43,6 milhões, a um preço médio de R$ 4,23/kg, provenientes principalmente dos pomares estaduais (63%), São Paulo (32,2%) e Minas Gerais (4,6%).