Pequenas propriedades não sobrevivem quando se aposta em culturas únicas. Plantar soja em áreas menores, por exemplo, pode ser um grande tiro no pé para os agricultores familiares, que sabem bem da importância da diversificação. Mas até para ampliar as alternativas, é preciso abrir a mente para outras culturas que - até então - não eram muito trabalhadas. A palmeira de pupunha está sendo fomentada na região Norte do Estado, sendo uma alternativa de renda interessante, com um manejo considerado simples, além da facilidade para comercialização do palmito.

Mais do que isso: a pupunha ainda pode ser consorciada com o café, como mostra trabalho iniciado no Núcleo de Estudos de Agroecologia e Territórios (NEAT), situado no Campus Luiz Meneghel, da Universidade Estadual do Norte do Paraná (UENP), em Bandeirantes. Já no litoral do Paraná, o foco está na palmeira nativa Juçara, que não pode ser derrubada da Mata Atlântica, mas possui um fruto muito semelhante ao açaí amazônico, rico em lipídios, proteínas, ferro, entre outros nutrientes, sendo uma fonte de renda importante para quem ainda vive na ilegalidade da extração. O trabalho com as palmeiras, portanto, se mostra multifacetado no Estado e a Folha Rural aponta os caminhos dessas ações.

Noel Justo de Oliveira é extensionista do Instituto Emater em Cornélio Procópio. Ele comenta que recentemente quatro produtores resolveram apostar no plantio de mudas de pupunha em pequenas áreas. “Precisamos da diversificação para não ficar na mesmice dos grãos. As áreas são pequenas, de um a dois hectares, e o plantio foi feito há mais ou menos um ano. Um produtor que trabalha com o palmito em Nova América da Colina nos relatou que quanto mais gente entrar na atividade, mais surgem compradores.”

O que chama atenção é que o manejo da pupunha se mostra simples, sem muitas aplicações de defensivos. O maior desafio se apresenta no início da atividade, quando a planta precisa de bastante água para se desenvolver. A grande vantagem está no perfilhamento da planta, ou seja, a pupunha apresenta brotações de novas plantas - os perfilhos - junto à planta mãe, permitindo que se possa repetir os cortes nos anos seguintes, sem necessidade de replantio da área.


“O manejo é tranquilo, mas a chuva é escassa, (e acaba gerando dificuldade) na arrancada inicial. Demora bastante para enraizar bem, mas depois deslancha. Oliveira afirma ainda que por isso a busca agora é por produtores que possam investir em irrigação. “Estamos procurando áreas em que o produtor tenha condição de irrigar. Chegamos a visitar a fábrica de processamento em Cruzeiro do Oeste, só não fechamos (a comercialização) com eles porque fica um pouco distante da nossa região.”

Modelo propõe consórcio
de pupunha com o café

O Núcleo de Estudos de Agroecologia e Territórios (NEAT), situado no Campus Luiz Meneghel, da Universidade Estadual do Norte do Paraná (UENP), em Bandeirantes, iniciou recentemente um modelo orgânico em que a palmeira de pupunha é consorciada com o café.


Kleber Geraldo Vieira é engenheiro agrônomo e extensionista da Emater de Cornélio e acompanha os trabalhos. Ele explica que no passado já houve uma tentativa de emplacar esse consórcio, que acabou limitado justamente porque é preciso mexer na lavoura de café para implementar um novo arranjo com a palmeira. “Pensando no café, há muito tempo buscamos alternativas de sombreamento e semissombreamento.”


Mais do que o ponto de vista agronômico, o consórcio fica interessante justamente pela diversificação, otimizando financeiramente a área. “Ela vai perfilhar, continuar brotando e gerando renda. Já dentro das práticas agroecológicas, como o manejo do mato, até a quebra de vento para o café é uma vantagem.”


Renato Saragoça Marcantonio, de Rancho Alegre, é engenheiro agrônomo e produtor com expertise de décadas na produção de pupunha (leia mais nesta edição). Ele reservou uma área para a realização do consórcio (mas no modelo convencional) e viu mais benefícios para o palmito. “Como o café é uma cultura que solta bastante palha e folha parece que o palmito ficou um pouco maior, o café conserva mais umidade no solo e por isso acho que o palmito agradeceu mais. Acho que o mais interessante para o pequeno produtor é ter duas fontes de renda na propriedade, em épocas diferentes. O pupunha mais vezes ao ano e o café uma vez ao ano.”