Tratando-se de busca por conhecimento, um grupo de paranaenses que trabalham na área de agricultura não têm de que reclamar em 2022. Eles foram contemplados com um intercâmbio no Japão, com despesas pagas, promovido pelo Ministério da Agricultura, Silvicultura e Pesca do Japão e permaneceram cerca de 20 dias naquele país conhecendo as novidades em diversos setores ligados à produção de alimentos.

Dos três moradores do Norte do Estado que participaram do programa no ano de 2022, a Folha de Londrina conversou com dois deles, Leandro Toshio Sudo, de Londrina, e Katia Hisamitsu, de Cornélio Procópio.

O Projeto de Intercâmbio, Cooperação e Geração de Negócios dos Agricultores Nikkeis da América Latina tem 10 anos de funcionamento e o objetivo principal é estreitar o relacionamento entre o governo japonês e nikkeis da América Latina por meio de treinamento profissional, conta o empresário Yokawa Tatsuro, que representa o projeto e organiza as visitas dos nikkeis latino americanos à terra de seus ancestrais.

"O governo do Japão quer manter comunicação com nikkeis da América Latina", diz Tatsuro. "Esse projeto faz um intercâmbio e também mantem um lanço com as comunidades nikkeis da América Latina, com pessoas da terceira, quarta geração depois da imigração japonesa para o Brasil". Nikkeis é uma denominação para os descendentes de japoneses nascidos fora do Japão.

Tatsuro explica que a ideia, além do intercâmbio e da troca de experiências, visa também apresentar empresas japonesas para os brasileiros. "É um mercado novo para as empresas japonesas. Muito distante, mas tem possibilidade de fazer negócios", comenta.

Em 2022, o projeto levou para o Japão 28 pessoas de países da América Latina. As despesas principais de viagem, como passagens, hospedagem e deslocamentos foram pagas pelo Ministério da Agricultura japonês.

Segundo edital do projeto, os organizadores do intercâmbio buscam "pessoas que têm motivações para contribuir com a comunidade local/organização, viabilizando novas atividades, inclusive negócios com as empresas japonesas". Além disso, eles dão preferência para as pessoas que tenham um plano concreto de atividades após o retorno ao seu país de origem.

Intercâmbio contempla três áreas

Projeto de Intercâmbio, Cooperação e Geração de Negócios dos Agricultores Nikkeis da América Latina contempla três áreas: Agronegócios Produtividade, Agronegócios Solo e Promoção de Mulheres.

Nas duas primeiras áreas serão conhecidas tecnologias agrícolas e materiais de ponta do Japão, além de métodos voltados a aumentar a produtividade agrícola e para melhorar as condições do solo. Para tanto, são realizadas, visitas a feiras e empresas, entre outras atividades.

Já na terceira área o foco está nas mulheres que trabalham na agricultura e no turismo rural. A programação inclui visitas a feiras, indústrias e propriedades.

Normalmente, segundo Tatsuro, o edital com informações sobre intercâmbio é divulgado entre julho e agosto no site nikkeiagri.jp. As viagens acontecem entre outubro e novembro. Não é preciso falar o idioma japonês porque há tradutores para o brasileiro e espanhol acompanhando os intercambistas.

Em busca do morango perfeito

De Cornélio Procópio, a produtora de morangos Katia Hisamitsu foi uma das participantes do projeto em 2022 na área produtividade. "Há um ano comecei a produzir morangos e pelo que eu vi no edital, o curso casava muito com o que eu gostaria de aprender", afirmou. "Conhecer as tecnologias de ponta que o Japão desenvolve para a agricultura foram muito importantes".

No sítio que ela administra com o namorado, a produção de morangos para o mercado gourmet está indo muito bem, mas a ideia é expandir para outras culturas.

O mercado gourmet pede frutas de maior qualidade e mais doçura. Por isso, a produção também é menor do que se fosse para grande escala. No sítio de Hisamitsu a média mensal de morangos produzidos é 250 quilos/mês, quantidade que fica principalmente na região de Cornélio Procópio.

Sobre a viagem ao Japão, Hisamitsu contou que foram três semanas intensas, com atividades todos os dias, visitas as feiras tecnológicas, quando aprendeu desde uso de drones, maquinários, tecnologia para estufa, embalagens, entre outros.

As áreas de processamento de alimentos e de embalagens chamaram muito a atenção da produtora brasileira. "O japão preza pela excelência no cultivo de frutas e o coordenador do intercâmbio conseguiu agendar uma visita a um produtor de morangos. Lá ele apresentou um sistema de bancadas móveis que eu nunca tinha visto no Brasil. São ideias que a gente pode aplicar no Brasil", explicou.

Ela também comentou a riqueza da troca de experiências profissionais e de vida com agricultores de outros países da América Latina, também presentes nos grupos. "É uma forma de resgate da cultura, porque muitos são de terceira, quarta geração, querendo ou não a gente já perdeu um pouco desse laço, desse contato com o Japão. Para nós foi uma experiência bem importante", ressaltou.

Oportunidade única

O londrinense Leandro Toshio Sudo participou do intercâmbio na área de solos. Engenheiro agrônomo formado pela UEL (Universidade Estadual de Londrina) e gerente comercial da empresa Ponto Rural, além de conselheiro da Bioesfera, Sudo avaliou a programação como "fantástica".

Assim como Katia Hisamitsu, ele destacou a intensa agenda que contemplava muitas visitas técnicas a um número variado de municípios japoneses.

"O Japão tem uma cultura muito acolhedora, inclusive investe há muito tempo nessa interação dos descendentes nipônicos. A recepção no Ministério da Agricultura (uma das primeiras agendas no país) mostrou a preocupação que o Japão tem no suprimento da cadeia alimentar na questão da segurança, da qualidade dos produtos", afirmou o agrônomo.

Uma das principais preocupações dele foi a busca por pontos de inovação. "É uma grande oportunidade para ver pesquisas novas, produtos novos, técnicas novas. Tudo o que a gente vê que é possível trazer do Japão para o Brasil, criar valor, criar soluções para os produtores rurais do Brasil são pontos importantes. Queremos que os produtores rurais do Brasil prosperem. Esse ponto de inovação é fundamental para continuar melhorando e produzir cada vez mais, da melhor forma possível", afirmou.