Cláudia Barberato
De Londrina
Em abril faz um ano que a professora do Departamento de Clínica Veterinária do Hospital Veterinário da Universidade Estadual de Londrina, Eliane Cristina Palaoro Pereira, está no ar diariamente dando orientações, dicas e respondendo a perguntas curiosas no trato de pequenos animais.
As perguntas são respondidas todas as manhãs, por volta das 9h30, no Programa do Zezão, na Rádio Paiquerê. São cinco minutos com informações sobre doenças, higiene, zoonoses, alimentação, comportamento, além de convidados (professores da UEL) para falar sobre assuntos específicos como animais exóticos, entre outros.
As perguntas e respostas são elaboradas pela própria professora com base nos atendimentos feitos no Hospital Veterinário da UEL. Parte dos assuntos são levantados através dos telefonemas que os professores de Veterinária recebem diariamente no HV e nos atendimentos feitos no local.
Medicação erradaSegundo Eliane Pereira, a exemplo do que acontece com humanos, os donos de cães e gatos tendem a esperar muito tempo para procurar a ajuda médica veterinária; vão medicando o animal com remédios para humanos que têm em casa, por conta própria, ou procuram ‘‘ajuda’’ no balcão das casas agropecuárias. Não levam para clínicas, para não gastar e só quando a situação está muito séria procuram ajuda no Hospital Veterinário. ‘‘Muitas vezes temos pouco a fazer quando isso acontece. O animal já chega aqui num estado tão sério que não há mais nada a fazer’’, diz a professora.
O uso de medicamentos em doses erradas ou não indicadas, segundo a professora Eliane, intoxica os animais e pode levar à morte. ‘‘O uso de antiinflamatórios em gatos e cães, mesmo em doses pequenas e em dias continuados, pode provocar vômitos com sangue; levar a gastrites de úlceras, que podem culminar em peritonite’’, explica a veterinária.
Outra coisa que muito gente pensa que não faz mal e faz, segundo a professora, é o uso do analgésico e antitérmico infantil. Num gato com menos de um quilo pode até matar. Muitas vezes o animal apresenta sinais de gripe (corrimento nasal e ocular, espirros, etc) e o dono acaba dando o remédio. Existem doenças no gato jovem, provocadas por vírus, que se manifestam de modo semelhante a uma gripe, mas não são. O diagnóstico só pode ser feito por um veterinário e o uso de ácido acetilsalicílico intoxica e mata o animal.
O anticoncepcional para as fêmeas, quando administrado no período errado, poderá fazer mais mal do que bem. Ele deve ser aplicado na fase de anestro (período de inatividade sexual) dos animais e isso só com exame que o veterinário está habilitado a fazer.
‘‘Empurroterapia’’Eliane alerta que os donos de animais não devem procurar dos atendentes de balcão das casas veterinárias a orientação sobre o que fazer com seus animais. Teoricamente estes locais deveriam ter um médico-veterinário lá, para atender os clientes. No caso das pet-shops loja de animais de estimação) normalmente os donos são veterinários, mas na maioria das casas agropecuárias os donos são comerciantes.
Nesses locais é comum ver a prática da ‘‘empurroterapia’’, a exemplo do que acontece em algumas farmácias de humanos. ‘‘As pessoas chegam e falam que o cachorro está com coceira. O comerciante quer é vender e coceira para ele é sempre sarna. Mas existe uma infinidade de coisas que podem provocar coceira no bicho’’, avisa Eliane.
Outro erro grave, de acordo com a professora, está no uso de medicamentos na dose incorreta. Os remédios devem ser administrados por quilo de peso e não se pode medicar o animal sem pesá-lo. Muitas vezes o dono do animal nem leva o bicho junto e o balconista indica um medicamento sem saber peso, raça, sem ver o animal, ‘‘o que é um absurdo’’.
Um animal prenhe, por exemplo, não pode tomar cortizona, porque esse produto causa processos alérgicos e o fornecimento desses remédios pode provocar aborto e outros efeitos colaterais. Existem determinadas raças de cachoro que são sensíveis a invermectina (para carrapato) e o uso, na dose incorreta, pode até matar.
PrevençãoA professora Eliane orienta que o trato de animais domésticos ou de produção tem que ser preventivo e não curativo como se faz atualmente. A maioria das pessoas só procura o Hospital Veterinário ou uma clínica particular quando o animal já está muito mal. Até em casos de atropelamento o atendimento muitas vezes é adiado.
Depois de já gastar o dinheiro na casa agropecuária, conta Eliane, a pessoa chega no HV com o animal em péssimo estado e diz que já gastou tudo que tinha. ‘‘Não podemos fazer nada de graça, porque o hospital se mantém com aquilo que arrecada’’, explica. Outro erro, de acordo com Eliane, é que quando o animal chega mal e morre no HV o dono muitas vezes acusa o hospital de errar, mas o erro já começou lá atrás, na demora em procurar auxílio, na ‘‘empurroterapia’’ ou na falta de auxílio imediato.
Na gestação de cachorras e gatas ela orienta que o animal seja levado para consultas de pré-natal, o que será importante para garantir a vida de mães e filhos. ‘‘Quem deseja manter animais de estimação deve saber que isso tem um custo. Deve saber também qual a melhor raça a escolher para o espaço que se tem em casa. O comportamento dos animais também é importante. Não se pode ter um animal e deixá-lo sem os cuidados necessários.’’Professora da UEL responde sobre curiosidades ou orienta manejo de pequenos animais
Pequenos animaisProfessora Eliane, da Veterinária da UEL, mostra aos alunos animal atropelado que demorou para ser atendido. Sequelas, em função da demora, poderão ser fatais