Em um passado não tão distante, as terras de Mauá da Serra, no Norte do Paraná, eram sinônimo de desafios e frustrações para os agricultores. Hoje, essa situação mudou graças a uma revolução agrícola que transformou a realidade de toda uma região. Trata-se do Sistema Plantio Direto, implantado no município cinco décadas atrás, quando um grupo de produtores se inspirou no exemplo do pioneiro do sistema no Brasil, Herbert Bartz.

Essa jornada será celebrada no próximo dia 23 de outubro, num evento que vem sendo organizado por um grupo de produtores rurais, entre eles, muitos dos que ainda têm viva na memória a trajetória que mudou o cenário rural da região.

Antes do Sistema Plantio Direto, os agricultores lembram que as terras de Mauá da Serra eram conhecidas por produzir sapé e samambaia, indício de solo ácido e fraco, situação agravada pela declividade dos terrenos, dificultando ainda mais o plantio e causando muita erosão.

Hoje, a região é grande produtora de grãos e cereais e se mantém com uma produtividade acima da média no Paraná. Também possui terras rurais bem valorizadas e é reconhecida como referência em Sistema Plantio Direto no Brasil.

Produção agrícola

Criado em 1954, o município de Mauá da Serra é grande produtor de soja, milho, trigo, cevada, aveia branca, aveia preta, feijão, laranja, caqui, pêssego, cenoura, beterraba, repolho, brócolis, couve-flor, acelga, tomate e pimentão.

Nas principais culturas, mantém uma produtividade acima da média nacional. Na soja, por exemplo, a média de produtividade no município é de 3.600kg/ha, contra uma média nacional de 3.239kg/há, de acordo com o 12º levantamento de safra 2023/2024 da Conab.

O Sistema Plantio Direto revolucionou a produção agrícola na região de Mauá da Serra
O Sistema Plantio Direto revolucionou a produção agrícola na região de Mauá da Serra | Foto: Divulgação

No milho verão, produz, em média, 11.000 Kg/ha, diante de 5.784kg/ha na média nacional. Também a produtividade do milho safrinha chama a atenção, com 7.000kg/ha, contra 5.491kg/ha, na média nacional; no trigo, a produtividade média é de 3.500kg/ha, contra 2331kg/ha na média nacional.

PIONEIROS

Olhar para esses resultados é motivo de muito orgulho para os agricultores. O produtor Sérgio Higashibara faz parte do grupo de pioneiros que se lembra bem dos tempos em que erosão e voçoroca eram ameaças constantes. Ele vive em Mauá da Serra há 65 anos e se recorda com precisão dos momentos de incertezas devido às dificuldades para controlar o processo de degradação do solo.

“Nossa vida, naquela época, era muito difícil. Não havia as tecnologias e as facilidades de hoje. Tudo exigia muito esforço e trabalho. Muita coisa tivemos que ir aprendendo na prática”, pontua.

Revendo tudo o que ele e seus vizinhos passaram, mal pode acreditar que superaram tantos desafios. “Tenho uma sensação de gratidão por tudo que conquistamos, graças ao esforço conjunto de todos os produtores”, comenta.

100% de adesão

O agrônomo Daniel Marubayashi acompanha os produtores de Mauá da Serra há oito anos e é testemunha de que 100% dos produtores da região seguem os passos do Sistema Plantio Direto.

“O Sistema Plantio Direto trouxe uma revolução agrícola na região e, posteriormente, no resto do país com benefícios claros em produtividade, qualidade do solo, controle de erosão e sustentabilidade. Com a adoção desse sistema, ocorreu um acúmulo de matéria orgânica, alterando a química e a biologia do solo, trazendo aumento da fertilidade e, consequentemente, de produtividade”, destaca. Os benefícios não param por aí. Ele ainda ressalta o controle da erosão, redução drástica de ervas daninhas e da dependência de produtos químicos.

Os impactos não são observados apenas na produtividade e sustentabilidade, mas também na melhoria da qualidade de vida dos produtores e na conservação do meio ambiente. “Ao longo dos anos, essa prática agrícola conservacionista se consolidou como um sistema sustentável que oferece benefícios econômicos, sociais e ecológicos. As melhorias que podemos citar são, entre outras: aumento da produtividade e estabilidade econômica, redução do trabalho braçal e dos custos operacionais, redução da erosão, aumento da matéria orgânica, preservação da biodiversidade”, elenca Marubayashi

Reflexo no preço das terras

Outro impacto significativo foi no preço das terras agricultáveis do município. Segundo Hernandes Takeshi Kanai, engenheiro agrônomo do IDR-PR Unidade Municipal de Mauá da Serra, um dos fatores que influencia na valorização de terras é a construção da fertilidade do solo.

“Durante anos, quando o município de Mauá da Serra foi colonizado, era conhecido como uma terra de baixa fertilidade, onde, como diziam os antigos, só desenvolvia sapé e samambaia. Desde o começo os produtores sabiam que para produzir no município, deviam investir para corrigir o solo fazendo uma boa adubação, sendo que isso foi passado de geração para geração, e como consequência, nos dias de hoje, os solos da região possuem excelente fertilidade proporcionando uma boa produção”, testemunha.

Hoje, o valor de um hectare agricultável no município, de acordo com dados da Secretaria da Agricultura e do Abastecimento do Estado do Paraná, é de R$ 164.500,00/ha ou 1.370 sacas/ha, considerando a soja ao preço de R$120,00/saca. Na região Norte do Paraná, a média é de R$ 141.100,00/ha ou 1.176 sacas/ha, também considerando a soja por R$120,00/saca.

Em 1998, o valor do hectare no município, segundo os produtores, era de R$ 2.900,00, equivalente a 400 sacas/ha.

Para quem acompanha essa história desde o começo, a conclusão é uma só. “A evolução é constante. Sempre surgem novos desafios que demandam novas soluções. O futuro parece promissor, a evolução da tecnologia vem facilitando muita coisa. Cada vez mais entendemos como a natureza funciona e como usar isso em nosso favor”, destaca o produtor Sérgio Higashibara.

Para ele, outro fator de sucesso do sistema no município, é a preservação da história, que é passada de geração a geração por meio de eventos realizados para comemorar datas importantes, como os 30 anos e, agora, os 50 anos do Sistema Plantio Direto no município, e a inauguração, há 12 anos, do Museu do Plantio Direto de Mauá da Serra, o primeiro do mundo.

“Acredito que lembrar da história é muito importante para valorizarmos o trabalho que foi feito, a continuar o legado que nos foi deixado e lembrar os jovens das dificuldades que foram enfrentadas no passado. O Museu é um lembrete de tudo isso. Os produtores daqui sabem que devem continuar o legado e procurar melhorar sempre”, frisa. (Com assessoria de imprensa de grupo de produtores de Mauá da Serra)

Serviço

Comemorações 50 anos do Sistema Plantio Direito em Mauá da Serra

Quando: dia 23 de outubro

Onde: Salão de Eventos Holandesa (BR376 Km297 - Mauá da Serra/PR)

Horário: A partir das 9h

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