Produtores de algodão buscam retomar a cultura no Paraná que esteve no auge no início da década de 1990 – na safra 1991/92, o território paranaense tinha 709 mil hectares cultivados, o que representou, na época, 36% da área dedicada ao algodão no país.

A Acopar (Associação dos Cotonicultores Paranaenses) projeta que, na próxima safra (24/25), a área dedicada à cultura no estado atinja 1,7 mil hectares, com nove municípios produtores.

Almir Montecelli, presidente da Acopar (Associação dos Cotonicultores Paranaenses) relembra que, na época áurea, o Paraná tinha cerca de 40 mil produtores de algodão.

Área de plantio de Aristeu Sakamoto tem 30 hectares em Cambará, no Norte Pioneiro
Área de plantio de Aristeu Sakamoto tem 30 hectares em Cambará, no Norte Pioneiro | Foto: Arquivo Pessoal

“No período de seis meses, que incluía plantio, tratos culturais e colheita, tínhamos cinco meses com postos de trabalho no campo. Em média, eram 200 mil trabalhadores para atender esses 40 mil produtores”, pontua.

Declínio

O declínio da cultura foi motivado por diversos fatores. “Tivemos doenças muito sérias no algodão que ainda não haviam aparecido de maneira mais intensa, como o vermelhão do algodoeiro. Veio também a entrada de outra praga, o bicudo.”

A política econômica brasileira na época também afetou o algodão. “Tivemos preços completamente aviltados pela política de juros. Na época, a inflação era muito alta, chegando a 80% ao mês e impactando os preços.”

Somado a isso vieram a escassez de mão de obra de qualidade para trabalhar na lavoura e o surgimento da oportunidade do plantio de soja, com migração de agricultores para essa cultura.

Entidade

Com o principal objetivo de retomar a cultura do algodão, a Acopar foi fundada em 2001. Hoje, há 20 agricultores cultivando algodão no Paraná.

A entidade presta assistência técnica, tem máquinas para colher e transportar o algodão e fornece auxílio aos produtores na comercialização.

Faz ainda um monitoramento das pragas e seleciona as melhores variedades para cultivo. Em uma área do extinto Iapar, em Cambará, no Norte Pioneiro, foram implantados canteiros para fazer essa seleção.

A Acopar desenvolve também métodos de controle de pragas, como a armadilha para o bicudo, além de fazer a análise de solo, com acompanhamento de nutrientes e nematoides.

“A Acopar promove ações de transferência de tecnologia por meio de dias de campo, faz reuniões técnicas, realização de cursos e treinamentos para o agricultor aprender novamente a plantar algodão. Não é a intenção da Acopar ficar fazendo esse tipo de trabalho, porque a nossa intenção é que o agricultor, já sabendo cultivar o algodão, possa caminhar por conta própria”, explica Almir.

Hoje, o algodão produzido no Paraná é levado até Martinópolis (SP) para ser beneficiado. “É muito provável que nós montemos uma algodoeira no Norte do Paraná para fazer o beneficiamento”, anuncia.

Segundo o presidente da Acopar, as orientações aos produtores incluem toda a parte prática que inclui colheita, transporte e, em especial, a viabilidade econômica da cultura.

“Hoje a possibilidade de lucratividade é de pelo menos o dobro do que a obtida com a soja”, conclui o presidente da entidade, que planta algodão há 40 anos em Jataizinho, no Norte paranaense – neste ano a área plantada em sua propriedade é de 30 hectares.

Volta

O produtor Aristeu Kazuyuki Sakamoto voltou a plantar o algodão há seis anos em Cambará, município do Norte Pioneiro. Com 30 hectares cultivados aguardando as chuvas para germinação, ele pontua que retornou à cultura pelo fato de fazer parte da história familiar e por proporcionar melhores rendimentos.

A expectativa do agricultor é colher 112 toneladas na safra atual (2024/25), com a produção de 250 arrobas de algodão em caroço por hectare – na safra anterior, por conta da seca, a produtividade ficou em 150 arrobas/ha.

O algodão produzido é comercializado para corretores do ramo, destinado basicamente para fiações e tecelagens no Paraná e em outros estados.

“O nosso retorno à cultura só ocorreu em função da existência da Acopar, que tem prestado um grande serviço para a cultura e os produtores. Vai desde a pesquisa, com técnicos de renome e com experiência na cultura, até a comercialização da produção, passando pelos aspectos técnicos, condução e tomada de decisão.”

Um dos desafios, segundo ele, é o ceticismo dos produtores que ainda não visualizam uma cadeia estruturada como soja, milho e café, por ter sido praticamente extinta no Paraná na década de 1990. “Isso extrapola o produtor e atinge as cooperativas, as empresas ligadas ao agronegócio e até as entidades de pesquisas”, considera.

Para obter o melhor resultado em produtividade e qualidade, o produtor diz atender a todas as recomendações dos pesquisadores.

“Isso inclui a escolha do melhor material adaptado à região, o controle eficaz de pragas e doenças, além da nutrição e condução adequada visando a obtenção de melhores fibras.”

Sakamoto acrescenta que a cultura do algodão no Paraná é perfeitamente viável, tanto para o produtor com também para todos os agentes ligados à atividade. “Possibilita melhores rendas, faz ressurgir muitas atividades ligadas à cultura, melhora o VBP [Valor Bruto de Produção] do município onde a cultura substitui as tradicionais, entre outros benefícios”, conclui.

Nacional

Neste ano, após o desempenho da safra 2023/24, o Brasil se tornou, pela primeira vez, o maior exportador mundial de algodão, superando os Estados Unidos. O país que mais planta algodão é a China, que também é o maior comprador dos produtores brasileiros.