O produtor rural Laércio Dalla Vecchia, de Mangueirinha (PR), foi o campeão nacional da 12ª edição do Desafio Cesb (Comitê Estratégico Soja Brasil) de Máxima Produtividade de Soja, com 118,82 sacas por hectare obtidas na safra 2019/2020. Esse alto volume representa mais que o dobro da média nacional estimada pela Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) para a safra atual, 55,5 sacas.

Imagem ilustrativa da imagem Produtor de Mangueirinha é campeão de produtividade de soja
| Foto: Arquivo Folha

Laércio participa do concurso anualmente há cinco anos, mas a premiação veio somente em 2020. Segundo ele, os ótimos resultados foram produto das boas práticas agrícolas que vêm sendo implantadas nos últimos três anos em sua propriedade, com 100 hectares destinadas à lavoura de soja. Com as mudanças, a produção aumentou e os custos caíram. “Eu estava mais focado em produzir mais e não olhava para a sustentabilidade. Fazia uma agricultura de produtos, utilizava bastante adubo, fungicida e achava que colheria bastante. Mas isso aumentava meu custo e eu colhia a mesma coisa, não tinha rentabilidade”, comentou.

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Entre as mudanças, Laércio cita a adoção dos princípios básicos do plantio direto, como a rotação de culturas e a manutenção do solo permanentemente coberto por cobertura vegetal (palhada) – culturas como aveia, nabo, sorgo e centeio. “Eu plantei de 8 a 12 toneladas de palhada por hectare, que serve como uma proteção e recicla muitos nutrientes do solo. Com isso, reduzi o número de aplicação de herbicidas”, explica. Outra prática implantada na lavoura de soja foi aumentar a presença dos chamados amigos naturais, como joaninha, aranha e abelha, que ajudam no controle biológico ao eliminar as pragas. Além disso, o solo descoberto resseca, já que fica mais exposto e perde água mais rapidamente. “Utilizo muito as minhocas, nossos soldados que adubam o sistema. Solo com minhoca é solo com vida. Em solos sem minhoca, dificilmente a produção vai ultrapassar 100 sacas por hectare”, destaca.

Monitoramento

De acordo com o produtor, o ponto principal para alcançar excelência na produtividade é o monitoramento da lavoura, o MIP (Monitoramento Intensivo de Pragas). “Eu faço esse monitoramento de pragas e doenças, no mínimo, uma vez por semana. Isso me faz aplicar inseticida somente quando precisa, já que esse produto mata também os ‘soldadinhos do bem’”, destacou.

 Laércio Dalla Vecchia fez um curso gratuito de monitoramento de pragas no Senar e firmou parceria com a Emater receber  acompanhamento técnico semanal
Laércio Dalla Vecchia fez um curso gratuito de monitoramento de pragas no Senar e firmou parceria com a Emater receber acompanhamento técnico semanal | Foto: Divulgação

Para adquirir esse know-how, Laércio fez um curso gratuito de monitoramento de pragas no Senar (Serviço Nacional de Aprendizagem Rural). Além disso, firmou parceria com a Emater (Instituto Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural), cujos técnicos fazem acompanhamento semanal da lavoura. O produtor acrescenta que teve ajuda do tempo para ser tão bem-sucedido na produtividade. “Nunca tivemos condições climáticas tão boas, em uma altitude de 850 metros. Choveu abaixo da média, mas foi o suficiente para a planta se manter no início do cultivo. Além disso, os dias de sol ajudaram na fotossíntese das plantas”, citou.

Apesar do excelente resultado, Laércio reforça que ainda é possível evoluir. “Registrei um pouco de doença radicular e, com a rotação de culturas, pretendo eliminá-la em até dois anos”, disse. Há cinco anos, 40% da lavoura de soja estava comprometida por doenças radiculares, problema que reduz o tamanho do grão e, consequentemente, a produção. Hoje, o índice já caiu para 10%.

Desafio revela potencial

Desde 2008, o Cesb revela os resultados alcançados pelos sojicultores brasileiros, demonstrando que é possível aumentar a produtividade sem expandir a área, seguindo os preceitos de sustentabilidade e rentabilidade. “Esse índice alcançado pelo campeão do Desafio é uma amostra do potencial que a produção brasileira de soja possui, o que vem fazendo com que o País cresça no setor e se firme como o principal produtor e exportador de soja do mundo”, avalia o presidente do Cesb, Leonardo Sologuren. Ele lembra que os sojicultores enfrentaram dificuldades nessa safra. Análises feitas pelo Cesb, em parceria com o sistema de precisão meteorológica Agrymax, demonstraram que os sojicultores tiveram quebras de produtividade de até 63% no País.

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| Foto: Arquivo Folha

“Apesar disso, vemos o ótimo trabalho que os produtores tiveram para contornar essa situação, alcançando altos níveis de produtividade. Nessa safra tivemos 284 sojicultores chegando a resultados acima de 90 sacas por hectare, entre os 909 produtores auditados para o Desafio”, afirma. Os produtores auditados disputaram em seis categorias: Nacional, Irrigado, Sul, Sudeste, Centro-Oeste e Norte/Nordeste. Porém, a categoria Sul foi condensada com o campeão da área irrigada, então foram cinco campeões. Os campeões de cada categoria ganharam troféus pela conquista no prêmio. Além disso, foram premiados com a matrícula no curso de pós-graduação a distância em tecnologia agrícola (soja), lançado pelo Cesb em parceria com a Elevagro. Nesta 12ª edição do Desafio, foram 5,2 mil produtores inscritos. Desses, 909 se submeteram às auditorias, que servem para identificar os patamares de produtividade para efetivar a sua participação na disputa.

O diretor-executivo do Cesb, Luiz Antonio da Silva, ressalta os altos índices de produtividade que os sojicultores vêm apresentando ao longo dos anos no Desafio. Nesta safra de 2019/2020, a média de produtividade alcançada pelos participantes do concurso foi de 83,1 sacas por hectare, enquanto a nacional, de acordo com a Conab, foi de 55,5 sacas. Na safra passada (2018/2019), o comitê registrou a média de 80 sacas por hectare, e a nacional foi de 53 sacas. Já na safra de 2017/2018, o Cesb registrou média de 83 sacas e a nacional foi de 53.

“Nesta edição do Desafio, vemos que todos os campeões bateram a marca de 100 sacas por hectare, o que é algo a ser comemorado diante de tantos obstáculos que apareceram. Portanto, seguimos com o objetivo de compartilhar informações para que o Brasil continue se destacando ainda mais mundialmente no cultivo de soja”, conclui. Também nesta edição, o Cesb registrou um número recorde de auditorias realizadas, chegando a 909 propriedades de sojicultores visitadas pela equipe técnica em todo o Brasil.

O concurso é promovido pelo Cesb, uma entidade sem fins lucrativos, formada por profissionais e pesquisadores de diversas áreas que se uniram para trabalhar estrategicamente e utilizar os conhecimentos adquiridos nas suas respectivas carreiras e vivências em prol da criação de uma rede sustentável da sojicultura brasileira. Atualmente, o comitê é composto por 24 membros e 24 entidades patrocinadoras.

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