O ano de 2022 começou crítico para a atividade leiteira que envolve cerca de 80 mil produtores paranaenses. Alta nos custos de produção e a estiagem têm sido os maiores gargalos, além da queda do preço médio em 10% nos últimos meses.

Segundo os preços levantados pelo Deral (Departamento de Economia Rural), órgão ligado à Secretaria Estadual de Agricultura e Abastecimento, o preço recebido pelos produtores paranaenses em janeiro de 2022 ficou em R$ 2,05, em média, 10% inferior ao recebido em setembro de 2021, quando foi observada a maior cotação do ano (R$ 2,29).

Fabio Peixoto Mezzadri, médico-veterinário do Deral responsável pela análise conjuntural da pecuária de corte e leite, explica que a queda do preço do leite tem a ver com o clima. “Com as chuvas de janeiro, as pastagens reagiram, havendo uma maior oferta de alimentação para as vacas leiteiras, o que fez com que a produção tivesse um aumento. A maior oferta do produto ocasionou queda nas cotações”, esclareceu.

O técnico acrescenta que os preços podem voltar a subir a partir de maio, quando terá início a entressafra e a consequente menor oferta. “Com isso, as cotações podem reagir. Entretanto, alguns fatores como clima, mercado externo e consumo interno podem influir no mercado”, pondera.

Por outro lado, enquanto os preços se desvalorizaram, o preço da saca de soja subiu 5% e o do milho, 3% no período de apenas quatro meses – de setembro de 2021 a janeiro de 2022.

“Esses produtos foram os que tiveram maior participação na alta dos custos da produção leiteira, por serem base das rações elaboradas para as vacas”, explica o médico-veterinário do Deral.

ESTIAGEM

A estiagem foi um dos grandes entraves para a atividade leiteira. Além da falta de água ter causado sérias perdas nas lavouras de milho que seriam utilizadas na alimentação dos rebanhos (seja na forma de grãos ou silagem) e atrapalhar o desenvolvimento das pastagens, algumas regiões também chegaram a uma situação de falta de abastecimento para o consumo dos animais.

“Devido a essa combinação de fatores que une alta nos custos, menor valor do produto e problemas extremos ocasionados pela falta de chuvas, muitos produtores venderam parte do rebanho na intenção de minimizar os prejuízos”, relata Mezzadri.

Ele acrescenta que, em alguns casos, houve desistência da atividade, situação que em médio e longo prazo pode trazer menor oferta do produto.

`Não estamos conseguindo fechar as contas´

O produtor de leite Claudio Seyfert viu o preço do seu produto cair 16% em apenas quatro meses, de setembro de 2021 a janeiro de 2022, desvalorização maior do que a registrada na média do Estado, que ficou em 10%.

“Não estamos conseguindo fechar as contas, estamos fazendo malabarismo para continuar na atividade e passar este momento de crise para o nosso setor. Em setembro do ano passado o preço do litro estava em R$ 2,45. Em janeiro deste ano, caiu para R$ 2,05”, comparou.

Em contrapartida, Seyfert estima que o custo de produção cresceu pelo menos 30% no mesmo período. “Subiu tudo, menos o nosso produto: ração, adubo, óleo diesel”, listou.

Na propriedade de 15 hectares que mantém em Lapa, na região dos Campos Gerais, Seyfert conta com um rebanho de 105 cabeças, sendo que atualmente 50 vacas estão em ordenha. Ele está na atividade há 27 anos, que herdou do pai, já falecido.

Apesar da desvalorização do preço do litro nos últimos meses, a expectativa de Seyfert é ampliar a produção neste ano em quase 20% em comparação com 2021. No ano passado, foram produzidos 396 mil litros de leite. Em 2022, a projeção é que sejam produzidos 470 mil litros até o final do ano.

Seyfert explica que toda a produção é comercializada hoje para uma indústria de laticínios em Palmeira, na região dos Campos Gerais.

Para garantir a melhor qualidade do produto final, Seyfert sempre vem trabalhando o melhoramento genético do plantel. Mas os altos custos de produção crescentes vêm assustando.

“Muitos estão saindo da atividade hoje por não aguentarem os prejuízos acumulados. O produtor passou e está passando por uma grande estiagem. Devido à seca que tivemos, os alimentos que estão sendo guardados para ração são de baixa qualidade, o que vai refletir na produção lá na frente. Com tudo isso o produtor acaba deixando a atividade”, conclui.

Alta nos custos de produção e a estiagem têm sido as maiores dificuldades dos produtores de leite paranaenses
Alta nos custos de produção e a estiagem têm sido as maiores dificuldades dos produtores de leite paranaenses | Foto: iStock

REGIÕES

As maiores regiões produtoras de leite no Paraná são Sudoeste (Dois Vizinhos, Francisco Beltrão e Pato Branco), com 1 bilhão de litros produzidos em 2020.

Na sequência vem a região Centro-Oriental (Castro, Palmeira, Arapoti, Ponta Grossa e Carambeí), com 893 milhões de litros produzidos, e o Oeste (Cascavel, Toledo e Marechal Cândido Rondon), com a produção de 820 milhões de litros em 2020.

“Toda essa produção permanece no Estado e também vai para outros Estados, como Rio de Janeiro e São Paulo”, explica Fabio Peixoto Mezzadri, médico-veterinário do Deral.

Segundo dados do Deral, o VBP (Valor Bruto da Produção Agropecuária) do leite no Paraná cresceu 14% em 2020 na comparação com o ano anterior, subindo de R$ 6,7 bilhões para R$ 7,6 bilhões.

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