A produção paranaense de café na safra 2021 deve registrar uma redução de 9% em comparação com o ciclo anterior. Isso se deve à bienalidade negativa da cultura (queda natural da produção após uma safra anterior muito produtiva) e à severa estiagem do ano passado. O preço do grão, no entanto, valorizou quase 40% nos últimos 12 meses.

Técnico do Departamento de Economia Rural (Deral) responsável pela cultura do café no Estado e secretário executivo da Câmara Setorial do Café do Paraná, Paulo Sérgio Franzini explica que a escassez de chuvas no ano passado, que se estendeu de março até o segundo semestre, fez com que houvesse menor crescimento dos ramos, refletindo na produção em 2021.

Imagem ilustrativa da imagem Produção de café deve ser 9% menor nesta safra, mas grão valoriza quase 40%
| Foto: Arquivo pessoal

“Além da questão climática, tivemos redução da área de café no Paraná em aproximadamente 4% na comparação com o ano passado, por conta do preço muito baixo nos últimos anos. Alguns produtores decidiram erradicar o café e plantar soja, com valorização muito forte”, afirmou.

O último levantamento realizado pelos técnicos do Deral aponta que o Paraná deverá produzir 873 mil sacas de café, redução de 9% em relação à produção do ano passado.

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| Foto: Arquivo pessoal

A área coberta com cafeicultura está estimada em 33,3 mil hectares, uma perda de 4% em comparação com a extensão do ciclo anterior. A região de Jacarezinho, no Norte Pioneiro, é a maior produtora de café do Estado – responde por quase 60% da produção paranaense.

No Paraná, já foram colhidos, em média, 3% do café das principais regiões produtoras. A partir de agora, esse trabalho deve se intensificar em julho e agosto. No campo, 47% das lavouras estão em fase de frutificação, enquanto 53% atingiram a maturação, fase final do ciclo do grão.

O ponto positivo é que as cotações no mercado físico permanecem em alta. Nos últimos 12 meses, o preço médio recebido pelos produtores paranaenses valorizou-se 39,8%. O mês de maio fechou com valor de R$ 719,61 a saca. No mesmo período de 2020, estava em R$ 514,70.

“A valorização dos preços está muito ligada à valorização do dólar frente ao real. E o café não tinha ainda experimentado essa valorização, como aconteceu com a soja, milho e trigo. A valorização vem se mantendo porque o preço para o mercado externo ficou favorável, sendo mais fácil para os importadores comprarem”, explica Franzini.

Segundo o técnico, a tendência dos preços do café, enquanto o dólar estiver valorizado acima de R$ 5, é de estabilidade.

“Mas o mercado é muito volátil, não devido à produção e ao consumo, mas varia de acordo com a questão econômica e financeira. Há muitas ações ligadas ao café, sendo que se trata de uma commodity agrícola muito valorizada.”

A preocupação maior agora dos produtores é com a colheita. “Normalmente, junho, julho e agosto são meses com menos chuva. Se for realmente assim, vai ser bom para o café. Porque colheita com muita chuva afeta a qualidade. Tivemos seca em abril que pode ter comprometido um pouco o enchimento de grãos, a frase de frutificação.”

GERAÇÕES

O produtor Evilásio Mori faz parte da terceira geração de produtores de café na família. Ele assumiu a propriedade há cerca de 8 anos. Hoje, são 24 hectares de café plantados no sítio em Cambira, na região do Vale do Ivaí. Para a safra atual, a expectativa é produzir 15% mais que na safra passada – 400 sacas de 60 kg, ante 350 sacas na safra anterior.

Na propriedade do produtor Evilásio Mori, a expectativa é colher 400 sacas nesta safra
Na propriedade do produtor Evilásio Mori, a expectativa é colher 400 sacas nesta safra | Foto: Arquivo pessoal

“Os preços pretendidos para a saca de 60 kg estão acima de R$ 800, sendo que nesta mesma época, no ano passado, estavam entre R$ 380 e R$ 450”, comparou. Mori ainda não estimou quando deverá ter de lucratividade.

Café especial produzido no Paraná é comercializado em cafeteria na Espanha
Café especial produzido no Paraná é comercializado em cafeteria na Espanha | Foto: Arquivo pessoal

A receita para obter máxima produtividade é produto de uma combinação de boa adubação, controle fitossanitário para evitar pragas e conservação do solo com cobertura vegetal.

Torrador utilizado na produção de cafés especiais
Torrador utilizado na produção de cafés especiais | Foto: Arquivo pessoal

Do total da safra atual, cerca de 15% deverá ser composta por café gourmet, vendido para cafeterias e armazéns do Paraná e também exportado. “No ano passado exportamos 12 sacas para a Espanha, pela primeira vez uma exportação direta feita pelos produtores.”

Café da propriedade de Mori também é vendido por meio da internet
Café da propriedade de Mori também é vendido por meio da internet | Foto: Arquivo pessoal

A abertura para o mercado externo se deu quando Mori teve dois profissionais espanhóis que estagiaram na sua propriedade para aprender sobre cafés especiais. “Quando eles voltaram à Espanha, resolveram montar uma cafeteria em Santiago de Compostela. O Café Mori está lá”, diz.

Café gourmet representa hoje cerca de 15% do total da produção em Cambira e é vendidopara cafeterias e armazéns do Paraná e também exportado.
Café gourmet representa hoje cerca de 15% do total da produção em Cambira e é vendidopara cafeterias e armazéns do Paraná e também exportado. | Foto: Arquivo pessoal

Mori dispõe de toda infraestrutura para a produção de café. “Tenho microtorrefação que faz café artesanal e também vendo para consumidores pela internet”, conclui.

NACIONAL

Em termos nacionais, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) prevê que serão produzidos 49 milhões de sacas de café beneficiado, o que representa redução de 23% em relação a 2020, quando atingiu o recorde de 63,1 milhões de sacas.

“É uma diferença significativa que reflete no abastecimento mundial, já que cerca de um terço do café consumido no mundo é de origem brasileira”, aponta Paulo Sérgio Franzini, técnico do Deral.

O Brasil é hoje o maior produtor de café mundial e o segundo maior mercado consumidor de café do mundo. Em 2020, o país registrou exportação recorde – ao todo, foram remetidos ao exterior 44,5 milhões de sacas de 60 kg.

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