No Paraná, o sexto maior produtor de café do país, a expectativa de produção para esta safra oscila entre 880 mil e 970 mil sacas
No Paraná, o sexto maior produtor de café do país, a expectativa de produção para esta safra oscila entre 880 mil e 970 mil sacas | Foto: Marcos Zanutto/15/05/2018

As projeções da OIC (Organização Internacional do Café), de redução na produção mundial do grão, não devem se confirmar nas lavouras brasileiras. O Relatório sobre o Mercado de Café – Fevereiro 2020, aponta que os cafeicultores de todo o planeta deverão colher 168,8 milhões de sacas de 60 quilos no ano-cafeeiro 2019/2020, o que representa uma queda de 0,8%. O documento também estima uma diminuição em torno de 3,9% da safra de café arábica, a principal variedade cultivada no país. Segundo a OIC, o volume produzido de café arábica não deve passar de 96,37 milhões de sacas em todo o mundo.

Para o Brasil, no entanto, as expectativas são mais animadoras. O primeiro levantamento de café na safra 2020 da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) reforça o ciclo de bienalidade positiva para o café arábica e ressalta o aumento de 1,4% da área total de cultivo, somando 2,16 milhões de hectares. O resultado dessa expansão deve ser uma produção entre 30,31 e 32,89 sacas por hectare (ha), variando de 11,4% e 20,9% a alta na produtividade na comparação com a safra anterior. Na safra passada, o país colheu 50 milhões de sacas, mantendo o posto de maior produtor mundial do grão.

No Paraná, o sexto maior produtor de café do país, com produção exclusiva de café arábica, a expectativa de produção para esta safra oscila entre 880 mil e 970 mil sacas, volume que representa variação entre redução de 7,66% e aumento de 1,78% na comparação com a produção na safra anterior. O rendimento médio esperado de 25,6 sacas/há é praticamente o mesmo obtido na safra passada, de 25,82 sacas/ha, segundo o Deral (Departamento de Economia Rural), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado. “A produção de café tem um ciclo de bienalidade. Em 2018, o Brasil colheu 62 milhões de sacas, foi uma produção histórica. Em 2019, foram 50 milhões de sacas. Agora, deve voltar a 60 milhões. Já o Paraná está com uma produção estabilizada”, destacou o economista e responsável pelo setor de Café do Deral, Paulo Franzini.

O Estado teve uma redução de 2,8% na área total plantada e de 2,1% na área em produção ante a safra anterior, baixando de 39.200 hectares para 36.900 hectares de um ano para outro. A queda, segundo levantamento do Deral, é reflexo do longo período de preços baixos praticados no mercado físico, do aumento do custo de produção e da necessidade de renovação das lavouras visando o aumento da produtividade e adaptação para mecanização.

Apesar da ocorrência de fatores climáticos adversos na safra anterior e na redução da área de produção, o Paraná deverá conseguir manter estável a produtividade em razão de investimentos em tecnologia feitos pelos produtores, afirma Kleber Geraldo Vieira, engenheiro agrônomo e coordenador regional de Café do Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná em Cornélio Procópio. “A área de café no Paraná caiu muito em relação ao que já foi e quem ficou teve que investir. As lavouras, hoje, estão potencialmente mais produtivas”, disse.

Em relação à qualidade, o engenheiro agrônomo prevê a interferência negativa do clima. A falta de chuva afetou o processo de maturação e desenvolvimento dos grãos. “Ainda é cedo para falar qual foi o tamanho do estrago, mas pode ser que tenha interferência na qualidade embora tenha aumentado o uso da tecnologia e equipamentos para processar melhor o nosso café, com lavadores e separadores.”

Clima e coronavírus preocupam agricultores

A maior parte do café produzido no País é exportada como commodity e depois de uma safra anterior marcada por preços baixos, os produtores esperam conseguir melhor preço na safra 2019/2020 em razão da alta do dólar, que passa dos R$ 5. Mas as inseguranças no mercado decorrentes da crise do coronavírus que afetou a economia no mundo todo deixam os agricultores apreensivos.

Sócio com outros quatro irmãos de um sítio de 210 alqueires em Carlópolis (Norte Pioneiro), Antônio Aparecido Rosolem espera produzir entre 30% e 40% a mais nesta safra não pelo crescimento da produtividade, mas pelo aumento da área cultivada. Os 40 hectares a mais que plantou em 2018 vão render frutos nesta safra. Ao que tudo indica, a qualidade do grão também melhorou.

Rosolem, no entanto, tem duas grandes preocupações em relação à safra 2019/2020. Uma é a estiagem, que já vem prejudicando a lavoura há alguns meses, e a segunda é a pandemia de coronavírus, que além de atrapalhar a colheita, poderá interferir nas exportações. “Vamos ver como vai reagir. Tem que chover mais um pouco. Está faltando chuva. E tem o coronavírus também. Apesar de 90% da nossa colheita ser mecanizada, com pouca mão de obra na roça, a gente usa mão de obra no terreiro. Estou preocupado com essa pandemia e com as restrições ao trabalho que podem afetar a colheita. A esperança nossa é que até maio a pandemia já tenha tido um declínio. A gente também ainda não sabe como essa doença vai afetar as nossas vendas.”

Roberval Aparecido da Silva tem 17 hectares cultivados com café em um sítio próximo ao distrito Espírito Santo, em Londrina. Na propriedade que mantém em sociedade com uma tia, a colheita dessa safra deve começar em junho, mas já é possível afirmar que houve melhora na produtividade em relação à safra passada. “Agora está de média para boa. No ano passado, foi de média para fraca por causa do clima. Eu espero colher umas 40 sacas por hectare. No ano passado, produzi 15 sacas por hectare porque também tive problema com praga. A broca prejudicou bem a qualidade”, contou.

Silva também está esperançoso sobre o preço do produto. Com a oferta menor e o consumo estável, a tendência é conseguir um valor melhor no mercado. A alta na cotação do dólar frente ao real favorece os produtores. “Em 2011 eu vendi café a R$ 450 a saca beneficiada. Hoje, deve estar uns R$ 510 a saca. E os preços dos insumos aumentaram muito. Com o dólar alto, eu espero conseguir um preço melhor neste ano, isso se o coronavírus não atrapalhar.”