Os preços de trigo recebidos pelos produtores paranaenses subiram 25% em apenas um mês – o valor da saca de 60 quilos passou de R$ 50,99 em outubro para R$ 63,72 em novembro, em média.


É o que mostra levantamento realizado pelo Deral (Departamento de Economia Rural), órgão ligado à Seab (Secretaria Estadual de Agricultura e Abastecimento).


Carlos Hugo Godinho, engenheiro agrônomo do Deral, explica que a valorização é decorrente da quebra de safra experimentada no Paraná e no Brasil. “No Paraná, o segundo maior estado produtor em condições normais, a safra teve uma retração de 21% sobre o potencial, ficando estimada em 3,6 milhões de toneladas”, destaca.


O técnico cita ainda os problemas enfrentados no Rio Grande do Sul, que seria o maior estado produtor neste ano, mas teve sua produtividade reduzida pela metade com as chuvas excessivas, conforme dados da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento).


“Santa Catarina, com problemas similares, também perdeu posições no ranking, deixando de ser o terceiro maior produtor. Mesmo com o excesso de chuvas castigando a produção no Sul, esta região ainda ofertará 84% do trigo brasileiro, cuja produção está atualmente estimada em 8,1 milhões de toneladas pela Conab.”


QUEBRA
O técnico acrescenta que a produção atual de trigo no Paraná é 23% inferior à da safra anterior, que ficou em 10,5 milhões de toneladas. “Com isso, aumentará a necessidade de importações para atender a demanda da indústria.”


O técnico acrescenta que, além dos desdobramentos da safra nacional, no mercado internacional as cotações têm mostrado uma reação, principalmente no início de dezembro.


“Porém, com a possibilidade da entrada da safra argentina no Mercosul, o efeito dessa alta nos preços estrangeiros foi limitado no Brasil, que até tem verificado uma acomodação dos valores depois da alta de novembro”, conclui.


ESPERA
O produtor rural Maurício César Gomes cultivou neste ano 320 hectares de trigo na sua propriedade em Tibagi, nos Campos Gerais, município com maior produção do cereal no Paraná.


Como o preço do cereal estava desvalorizado meses atrás, Maurício decidiu estocar 100% da produção para comercializar o produto em um momento de alta. A colheita foi encerrada no final de outubro. A alta nos últimos dois meses, no entanto, acendeu uma expectativa de bons negócios.


“Quando terminou a colheita, contratei um serviço de secagem e de armazenagem do trigo em silos. Minha ideia é vender a partir de janeiro de 2024. Espero que o mercado reaja um pouco mais, na expectativa que possa pagar a partir de R$ 72 a R$ 75 a saca. Espero que as importações não sejam um entrave”, projeta.


A estratégia de aguardar uma maior valorização, segundo ele, visa diminuir o prejuízo com a cultura neste ano. “Foi um ano ruim para as colheitas de trigo e acho que não vai ter produto no mercado. Houve excesso de chuva na colheita, em outubro. Com isso, o trigo perdeu qualidade.”


A produção neste ano ficou em 19 mil sacas na propriedade. Além de fazer rotação de culturas (soja no verão e trigo no inverno), Maurício cultiva de duas a três variedades de trigo. Com essa estratégia, o produtor fica menos dependente da questão climática.
“São variedades com comportamentos e características diferentes. Uma produz mais rápido, outra é mais resistente à chuva, outra é menos”, exemplifica.


RANKING
O trigo é a 7ª cultura com maior VBP (Valor Bruto da Produção) no Paraná. No ano passado, a riqueza produzida pela atividade alcançou R$ 5,3 bilhões em território paranaense.


Tibagi é maior produtor de trigo do Paraná, com uma produção que alcançou um VBP (Valor Bruto da Produção) de R$ 181,2 milhões em 2022. Quase 115 mil toneladas do cereal foram produzidas no município no ano passado, em 35,5 mil hectares de terras.