A seca nos meses de março e abril castigaram a produção de milho do produtor Geraldo Casaroto. A produtividade dos 500 alqueires onde o produtor cultiva a commodity caiu 25% este ano, indo de 140 para 100 sacas por hectare. Os preços recordes do milho, no entanto, estão compensando a quebra de safra.

Os preços recordes do milho compensaram a quebra de safra na propriedade de Geraldo Casaroto
Os preços recordes do milho compensaram a quebra de safra na propriedade de Geraldo Casaroto | Foto: Gustavo Carneiro

“Nunca esteve tão bom. Pena que a produção não está tão boa, no ano passado foi maior que neste ano. Mas o preço está compensando”, diz Casaroto, que está conseguindo vender a saca de 60 Kg por R$ 46 reais. “Teve um ano, 2015 ou 2016, que (o preço) chegou a R$ 48, mas uma semana depois já voltou ao normal. Esse preço está excelente, apesar de que os insumos subiram muito, semente, adubo, óleo diesel, máquina. A rentabilidade não é grande coisa por causa do custo da produção.”

O preço do milho está alcançando níveis históricos este ano. O recorde da série histórica (iniciada em 1995) foi atingida em março, quando a saca foi cotada a R$ 42,27. Em julho, o valor médio da saca de 60 Kg da commodity ao produtor fechou em R$ 41,17, alta de 43,95% em relação ao preço no mesmo mês do ano passado, de R$ 28,60. A expectativa para agosto é o cereal fechar acima dos R$ 43, segundo dados do Deral (Departamento de Economia Rural) da Secretaria da Agricultura e do Abastecimento.

“É um ano muito bom para o produtor de milho”, sintetiza Edmar Gervásio, analista de milho no Deral. “A perda no campo superior a 1,5 milhão de toneladas é compensada pelo ótimo preço ao produtor.”

A estiagem e, agora a chuva intensa, reduziu a safra do milho. "Os preços estão bons, não dá para reclamar. Mas a safra vai quebrar bastante. Pegou muita seca e agora muita chuva", lamenta o produtor Odair Trevizan, de Rolândia, que calcula perdas de 20% a 30% nos 220 hectares de plantação de milho. Trevizan, que está conseguindo vender a saca de 60 Kg a R$ 46, também aponta que o preço dos insumos acompanham a alta do milho. "O problema é que tudo acompanha, sobe, ficando quase na mesma. A semente está um absurdo, o insumo acompanha o dólar."

Milho, soja e trigo estão atravessando o ano com alta de preços, principalmente devido à alta do dólar, afirma o economista Marcelo Garrido, coordenador da Divisão de Conjuntura Agropecuária do Deral. Soja alcançou preço médio mensal recorde no mês de julho, a R$ 98,88 a saca de 60 Kg. O trigo atingiu o maior preço da série histórica em maio, a R$ 60,13 a saca de 60 Kg.

Mas, de janeiro a julho, o milho é o que teve a maior variação do preço médio. A média do preço da commodity nos sete primeiros meses do ano atingiu os R$ 40,08. No ano passado, a média no mesmo período foi de R$ 28,54, uma diferença de 40%. A soja, com preço de R$ 86,99 na média dos sete meses do ano, teve alta de 28% em 2020. O trigo, com preço médio de R$ 55,20 de janeiro a julho, teve incremento de 18% no valor de venda ao produtor.

Imagem ilustrativa da imagem Preço do milho alcança níveis históricos no Paraná
| Foto: Folha Arte

Demanda aquecida, dólar alto e quebra de safra

A demanda aquecida e o mercado internacional são os principais fatores que influenciam o preço do milho. “Os preços no mercado internacional estão instáveis devido ao cenário mundial e à expectativa de oscilação da produção americana interferir no mercado como um todo”, afirma Edmar Gervásio, analista de milho do Deral. A quebra da segunda safra pressiona ainda mais os preços. “Por um lado, tem um consumo maior e por outro uma produção menor que habitualmente", comenta Gervásio.

As perdas no campo e a alta do dólar, que propiciou a exportação do cereal, tornaram a oferta do milho escassa, valorizando a commodity, afirma João Bosco de Souza Azevedo, superintendente comercial da Integrada. E a quebra da safra norte-americana fez com que os EUA perdessem competitividade no mercado, acrescenta o superintendente. "Você teve uma quebra de 30% em média na safra do Paraná. Isso impactou diretamente a oferta do produto. A gente vem trabalhando com uma oferta mais reduzida, o milho verão está praticamente sumindo do Paraná. A gente exportou muito milho, a alta do dólar propiciou a exportação. Quem não se programou para ter milho para abastecer fábrica de ração, gado, vai ficar na mão."

No Paraná, a maior demanda do milho para transformação em proteína na produção de carne - especialmente a suína e de frango - para o mercado exportador e doméstico também influenciou os preços, completa Gervásio. “Naturalmente, o Paraná é grande fornecedor de milho para o Sul. Santa Catarina e Rio Grande do Sul detêm mais de 70% da produção de carne suína", diz o analista do Deral. A demanda de carne suína para exportação também cresceu cerca de 20%.

Paraná é a segunda maior produtora do cereal

O Estado do Paraná é o segundo maior produtor de milho, atrás somente do Mato Grosso, que produz mais de 30 milhões de toneladas de milho por ano. A produção do Estado, de cerca de 15 milhões de toneladas, corresponde a 15% do total da produção nacional.

A área de cultivo de milho na Região Norte, na segunda safra, de 840 mil hectares, é a maior em todo o Paraná. Só em Londrina, são 220 mil hectares. Mas, em função de fatores climáticos e de solo, a região não costuma ser a maior produtora da commodity. Esse ano, porém, em razão da redução da área de plantio na Região Oeste (maior produtora de milho), que também foi a mais castigada pela seca, a Região Norte deverá ter a maior produção do Estado.