PR se destaca em armazenagem nas propriedades rurais
Dados divulgados pela Conab apontam que estado figura em 3º lugar no ranking nacional
PUBLICAÇÃO
sábado, 05 de julho de 2025
Dados divulgados pela Conab apontam que estado figura em 3º lugar no ranking nacional
Lucas Catanho - Especial para a FOLHA

O Paraná figura entre os estados brasileiros com maior capacidade de armazenamento nas propriedades rurais, em terceiro lugar no ranking. É o que apontam dados do Sistema de Cadastro Nacional de Unidades Armazenadoras (Sicarm), divulgados pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).

O Mato Grosso, maior produtor de grãos do país, ocupa a primeira posição do ranking, com capacidade de armazenamento de 52,3 milhões de toneladas e participação nacional de 33% em 2025.
Em seguida vêm o Rio Grande do Sul, com 33,2 milhões de toneladas e 19% de participação, e o Paraná, com capacidade de 32,2 milhões de toneladas e 18% de participação em 2025. Em 15 anos, a capacidade de armazenagem em território paranaense cresceu 35% – em 2010 o volume ficou em 23,8 milhões de toneladas.
O levantamento das informações é realizado por técnicos da Conab que visitam a unidade armazenadora, verificam e coletam as informações. O cadastro indica a existência de 1.591 unidades armazenadoras no Paraná.
O estudo mostra que os armazéns localizados nas fazendas representam apenas 16,8% da capacidade nacional. Esse dado atesta a importância das parcerias entre produtores e cooperativas para armazenar a produção, prática comum no Paraná.
Com propriedades em Cambé, Ventania e Congoinhas, o produtor rural Ricardo Kenji Amano destina a produção para armazenagem para a Integrada Cooperativa Agroindustrial, com matriz em Londrina, desde a fundação da entidade, há 30 anos – no início, o pai dele gerenciava os negócios da família.
A opção pela parceria para armazenar e comercializar a produção se deu por alguns fatores. “Honestidade, segurança, agilidade na descarga, boa classificação, rápido pagamento na venda dos grãos”, enumera.
Outro ponto positivo é a facilidade no escoamento da safra. “Temos áreas distantes umas das outras, e a cooperativa atua em todas as regiões onde trabalhamos. Esse aspecto facilita a entrega da produção, mantendo a armazenagem em ótimas condições até a comercialização”, pontua.
No ano passado, a produção de Amano entregue na cooperativa somou 2.250 toneladas – 1,5 mil toneladas de soja (25 mil sacas) e 750 toneladas de milho (12,5 mil sacas). Na próxima safra, a quantidade de soja e milho deve ser mantida e, como acréscimo, foram cultivados 150 hectares de trigo destinados à produção de sementes, que também serão entregues na Integrada.
“Somos produtores de sementes para a cooperativa, e isso acaba agregando valor na hora da venda dos grãos. Nossa lavoura tem todo um tratamento especial para podermos ser produtores de sementes, desde o plantio até a colheita”, explica.
FATORES
O economista Salatiel Turra, analista de Desenvolvimento Técnico do Sistema Ocepar, considera que a preferência dos produtores rurais do Paraná pelo armazenamento em cooperativas está relacionada a fatores estruturais e econômicos.

“O investimento em silos e estruturas de armazenagem próprias é elevado e nem sempre viável para pequenos e médios produtores. Além disso, as cooperativas oferecem, além da armazenagem, uma série de serviços integrados — como assistência técnica, comercialização, crédito e insumos — que trazem mais segurança e conveniência ao produtor. Essa confiança no sistema cooperativo é histórica no Paraná, onde as cooperativas têm papel central na organização da produção agrícola”, pontua.
Na prática, a concentração da armazenagem nas cooperativas melhora a logística de escoamento e reduz perdas pós-colheita, já que as unidades possuem estruturas modernas e bem distribuídas no território paranaense.
“Além disso, permite maior poder de barganha na venda dos grãos e acesso facilitado a programas de financiamento e políticas públicas. No entanto, também pode gerar certa dependência dos produtores em relação às cooperativas e sobrecarga no sistema em safras recordes”, pondera.
Segundo dados da Conab, aproximadamente 52% da produção de grãos no Paraná é armazenada pelas cooperativas agroindustriais. “Esse percentual pode variar conforme a safra, mas demonstra o protagonismo das cooperativas no sistema logístico agrícola do estado. O restante se divide entre armazéns privados, cerealistas e estruturas próprias de produtores.”
BENEFÍCIOS
Entre os benefícios do armazenamento em cooperativas, o economista aponta eficiência logística, com estruturas próximas das áreas produtivas e conectadas à malha de transporte; redução de perdas, com controle técnico da qualidade e boas práticas de armazenagem; facilidade na comercialização, com acesso a mercados organizados e operações de barter (troca por insumos); acesso a crédito e serviços integrados, como classificação, secagem, seguro e assistência técnica; e segurança – menor exposição a riscos de roubo, deterioração ou sinistros.
“A capacidade de armazenagem tem se tornado cada vez mais estratégica diante da intensificação das safras (verão e inverno) e da necessidade de escalonamento da venda para garantir melhor remuneração ao produtor. Nesse contexto, a expansão e modernização da infraestrutura de armazenagem deve ser prioridade das políticas públicas e das cooperativas, especialmente frente aos desafios climáticos e logísticos”, conclui.
ASSOCIAÇÃO
Há 32 anos, produtores rurais de Santa Mariana, no Norte Pioneiro, se organizaram e fundaram a Associação dos Produtores Agrícolas de Santa Mariana (Apam), entidade que surgiu após o encerramento de duas cooperativas agrícolas da região – de Cotia e de Cornélio Procópio.
Hoje, o grupo conta com 57 produtores associados, que mantêm uma unidade de recebimento localizada em Santa Mariana. A estrutura é composta por 5 silos, com capacidade total de 16,8 mil toneladas para armazenamento de soja e milho.

Lindomar José Massam, sócio-presidente da Apam, aponta vantagens dessa organização idealizada pelos produtores. “Confiança na classificação dos grãos, venda direta sem intermediação e distribuição proporcional das sobras técnicas (lucros) após as vendas”, pontua. A área plantada dos associados soma cerca de 8,7 mil hectares.
NACIONAL
A capacidade de armazenagem atingiu 212,1 milhões de toneladas em 2025 no Brasil, com concentração principalmente nas regiões Sul e Centro-Oeste. O crescimento na comparação com 2010 foi superior a 50%, quando nesse ano atingiu quase 140 milhões de toneladas.

