O Paraná figura entre os estados brasileiros com maior capacidade de armazenamento nas propriedades rurais, em terceiro lugar no ranking. É o que apontam dados do Sistema de Cadastro Nacional de Unidades Armazenadoras (Sicarm), divulgados pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).

Na propriedade de Ricardo Amano, a parceria com cooperativa para armazenagem da produção existe há 30 anos
Na propriedade de Ricardo Amano, a parceria com cooperativa para armazenagem da produção existe há 30 anos | Foto: Arquivo Pessoal

O Mato Grosso, maior produtor de grãos do país, ocupa a primeira posição do ranking, com capacidade de armazenamento de 52,3 milhões de toneladas e participação nacional de 33% em 2025.

Em seguida vêm o Rio Grande do Sul, com 33,2 milhões de toneladas e 19% de participação, e o Paraná, com capacidade de 32,2 milhões de toneladas e 18% de participação em 2025. Em 15 anos, a capacidade de armazenagem em território paranaense cresceu 35% – em 2010 o volume ficou em 23,8 milhões de toneladas.

O levantamento das informações é realizado por técnicos da Conab que visitam a unidade armazenadora, verificam e coletam as informações. O cadastro indica a existência de 1.591 unidades armazenadoras no Paraná.

O estudo mostra que os armazéns localizados nas fazendas representam apenas 16,8% da capacidade nacional. Esse dado atesta a importância das parcerias entre produtores e cooperativas para armazenar a produção, prática comum no Paraná.

Com propriedades em Cambé, Ventania e Congoinhas, o produtor rural Ricardo Kenji Amano destina a produção para armazenagem para a Integrada Cooperativa Agroindustrial, com matriz em Londrina, desde a fundação da entidade, há 30 anos – no início, o pai dele gerenciava os negócios da família.

A opção pela parceria para armazenar e comercializar a produção se deu por alguns fatores. “Honestidade, segurança, agilidade na descarga, boa classificação, rápido pagamento na venda dos grãos”, enumera.

Outro ponto positivo é a facilidade no escoamento da safra. “Temos áreas distantes umas das outras, e a cooperativa atua em todas as regiões onde trabalhamos. Esse aspecto facilita a entrega da produção, mantendo a armazenagem em ótimas condições até a comercialização”, pontua.

No ano passado, a produção de Amano entregue na cooperativa somou 2.250 toneladas – 1,5 mil toneladas de soja (25 mil sacas) e 750 toneladas de milho (12,5 mil sacas). Na próxima safra, a quantidade de soja e milho deve ser mantida e, como acréscimo, foram cultivados 150 hectares de trigo destinados à produção de sementes, que também serão entregues na Integrada.

“Somos produtores de sementes para a cooperativa, e isso acaba agregando valor na hora da venda dos grãos. Nossa lavoura tem todo um tratamento especial para podermos ser produtores de sementes, desde o plantio até a colheita”, explica.

FATORES

O economista Salatiel Turra, analista de Desenvolvimento Técnico do Sistema Ocepar, considera que a preferência dos produtores rurais do Paraná pelo armazenamento em cooperativas está relacionada a fatores estruturais e econômicos.

Salatiel Turra, do Sistema Ocepar, destaca que 52% da produção de grãos no Paraná é armazenada pelas cooperativas
Salatiel Turra, do Sistema Ocepar, destaca que 52% da produção de grãos no Paraná é armazenada pelas cooperativas | Foto: CASSIANO ROSARIO

“O investimento em silos e estruturas de armazenagem próprias é elevado e nem sempre viável para pequenos e médios produtores. Além disso, as cooperativas oferecem, além da armazenagem, uma série de serviços integrados — como assistência técnica, comercialização, crédito e insumos — que trazem mais segurança e conveniência ao produtor. Essa confiança no sistema cooperativo é histórica no Paraná, onde as cooperativas têm papel central na organização da produção agrícola”, pontua.

Na prática, a concentração da armazenagem nas cooperativas melhora a logística de escoamento e reduz perdas pós-colheita, já que as unidades possuem estruturas modernas e bem distribuídas no território paranaense.

“Além disso, permite maior poder de barganha na venda dos grãos e acesso facilitado a programas de financiamento e políticas públicas. No entanto, também pode gerar certa dependência dos produtores em relação às cooperativas e sobrecarga no sistema em safras recordes”, pondera.

Segundo dados da Conab, aproximadamente 52% da produção de grãos no Paraná é armazenada pelas cooperativas agroindustriais. “Esse percentual pode variar conforme a safra, mas demonstra o protagonismo das cooperativas no sistema logístico agrícola do estado. O restante se divide entre armazéns privados, cerealistas e estruturas próprias de produtores.”

BENEFÍCIOS

Entre os benefícios do armazenamento em cooperativas, o economista aponta eficiência logística, com estruturas próximas das áreas produtivas e conectadas à malha de transporte; redução de perdas, com controle técnico da qualidade e boas práticas de armazenagem; facilidade na comercialização, com acesso a mercados organizados e operações de barter (troca por insumos); acesso a crédito e serviços integrados, como classificação, secagem, seguro e assistência técnica; e segurança – menor exposição a riscos de roubo, deterioração ou sinistros.

“A capacidade de armazenagem tem se tornado cada vez mais estratégica diante da intensificação das safras (verão e inverno) e da necessidade de escalonamento da venda para garantir melhor remuneração ao produtor. Nesse contexto, a expansão e modernização da infraestrutura de armazenagem deve ser prioridade das políticas públicas e das cooperativas, especialmente frente aos desafios climáticos e logísticos”, conclui.

ASSOCIAÇÃO

Há 32 anos, produtores rurais de Santa Mariana, no Norte Pioneiro, se organizaram e fundaram a Associação dos Produtores Agrícolas de Santa Mariana (Apam), entidade que surgiu após o encerramento de duas cooperativas agrícolas da região – de Cotia e de Cornélio Procópio.

Hoje, o grupo conta com 57 produtores associados, que mantêm uma unidade de recebimento localizada em Santa Mariana. A estrutura é composta por 5 silos, com capacidade total de 16,8 mil toneladas para armazenamento de soja e milho.

Lindomar José Massam, sócio-presidente da Apam, aponta vantagens da organização idealizada pelos produtores
Lindomar José Massam, sócio-presidente da Apam, aponta vantagens da organização idealizada pelos produtores | Foto: dv

Lindomar José Massam, sócio-presidente da Apam, aponta vantagens dessa organização idealizada pelos produtores. “Confiança na classificação dos grãos, venda direta sem intermediação e distribuição proporcional das sobras técnicas (lucros) após as vendas”, pontua. A área plantada dos associados soma cerca de 8,7 mil hectares.

NACIONAL

A capacidade de armazenagem atingiu 212,1 milhões de toneladas em 2025 no Brasil, com concentração principalmente nas regiões Sul e Centro-Oeste. O crescimento na comparação com 2010 foi superior a 50%, quando nesse ano atingiu quase 140 milhões de toneladas.

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