PR é o terceiro estado que mais se beneficia com polinização
Por ano, contribuição em território paranaense soma R$ 4,5 bilhões em riquezas para o agro; dados estão em pesquisa produzida pela UFPR e CNPQ
PUBLICAÇÃO
sábado, 08 de janeiro de 2022
Por ano, contribuição em território paranaense soma R$ 4,5 bilhões em riquezas para o agro; dados estão em pesquisa produzida pela UFPR e CNPQ
Lucas Catanho - Especial para a FOLHA
O Paraná é um dos estados que mais se beneficia com a polinização agrícola em nível nacional. Ao calcular o valor estimado de mercado dos diversos cultivos em território paranaense, multiplicado pela contribuição dos polinizadores sobre a produção, o valor gerado por esse processo natural alcança R$ 4,5 bilhões ao ano.
A cifra posiciona o Estado em terceiro no ranking do Brasil, liderado pelo Rio Grande do Sul, com R$ 5,6 bilhões. Na segunda colocação está Minas Gerais, com R$ 5 bilhões.
Os dados estão em pesquisa produzida pelas docentes da UFPR Isabela Gelarda Varassin e Marcia Marques, em parceria com 21 pesquisadores do Centro de Síntese em Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos, do CNPq.
Professora titular de Ecologia e Conservação da UFPR, Marques explica que grande parte das culturas brasileiras depende da polinização feita por abelhas, vespas, besouros, borboletas, mariposas, moscas, além de aves e morcegos.
“Essas culturas são tanto commodities (soja e café, por exemplo), como alimentos importantes para a segurança alimentar, como as frutas. Os animais polinizadores usam a vegetação nativa para abrigo, reprodução e fonte de alimento, além de circular pelas áreas de cultivo para complementar os recursos”, pontua.
A docente acrescenta que esses animais acabam proporcionando a polinização e formação de frutos e sementes, que são a base da produção agrícola. “É um serviço que a natureza faz ‘gratuitamente’ para o homem”, destaca.
Existe um consenso científico de que as populações de insetos – grupo mais importante de polinizadores mundialmente – estão diminuindo drasticamente nos últimos anos.
“Portanto, o colapso na diversidade de insetos pode comprometer a própria segurança alimentar globalmente. Esse problema está na agenda de muitas instituições de pesquisa e tornou-se um tema central em debates mundiais e nacionais”, afirmou Marques.
Segundo o site da Embrapa, a "polinização é a transferência de grãos de pólen das anteras de uma flor para o estigma (parte do aparelho reprodutor feminino) da mesma flor ou de uma outra flor da mesma espécie. As anteras são os órgãos masculinos da flor e o pólen é a gameta masculino. Para que haja a formação das sementes e frutos é necessário que os grãos de pólen fecundem os óvulos existentes no aparelho reprodutor feminino."
O ESTUDO
Professora associada de botânica da UFPR, Isabela Galarda Varassin explica que o estudo investigou, para cada município brasileiro, como as oportunidades de restauração e/ou conservação de Reservas Legais e APPs (Áreas de Preservação Permanente) resultam em benefícios diretos para a biodiversidade e para a produção agrícola.
“Assim, o resultado principal é o mapeamento das áreas onde há demanda por polinização de culturas agrícolas e onde há déficit de vegetação natural dos municípios. Para cada município brasileiro foi avaliado o papel dos polinizadores no aumento da produção e retorno monetário em 90 cultivos no Brasil.”
De acordo com Isabela, o estudo nasceu da ideia que a natureza pode prover múltiplas contribuições para as pessoas, como a regulação do clima e da oferta de alimentos, por exemplo.
“Muitas propriedades rurais no Brasil provêm commodities para o mercado externo, ou provêm alimentos para a população brasileira, em especial a agricultura familiar”, diz. Segundo o Censo Agropecuário do IBGE, essa modalidade provê 70% dos alimentos em território nacional.
O estudo mostra que, ao cumprir o que prevê a lei (Lei de Proteção da Vegetação Nativa, também conhecida como Novo Código Florestal), os proprietários rurais garantem, de quebra, um ganho na sua produção agrícola.
“Então, conservar e restaurar as reservas legais e APPs representa lucro para eles. É um resultado bastante animador para um país com economia centrada na produção agrícola e com a maior biodiversidade do mundo”, aponta a docente Marcia Marques.
O estudo detectou que o Paraná é o segundo Estado com maior área de déficit de vegetação, 1,7 milhões de hectares, considerando os requisitos legais previstos na Lei de Proteção da Vegetação Nativa de 2012, ou seja, Reserva Legal e Área de Preservação Permanente. O estado com maior déficit legal é Minas Gerais, com 2,3 milhões de hectares.
CADASTRO
Nos anos anteriores, os agricultores tiveram que informar no CAR (Cadastro Ambiental Rural) sobre as áreas de reservas legais e APPs em sua propriedade.
A partir dessas informações, estão sendo preparados os Planos de Recuperação de Áreas Degradadas por esses proprietários rurais, que podem interpretar esta recuperação como sendo um “gasto” ou “desperdício de área produtiva” na propriedade.
“Os resultados da pesquisa mostram que restaurar ou conservar é um investimento para um ganho futuro em produtividade. Isso sem contar outros ganhos importantes para a área agrícola, como a proteção de nascentes, a melhoria na qualidade do solo, entre outros, que são fornecidos por áreas cobertas por vegetação nativa”, conclui Marcia.