O Paraná é o maior produtor brasileiro de mandioca com destinação industrial (fécula, farinha e outros subprodutos), sendo que 65% da fécula produzida no Brasil sai do território paranaense.

No ano passado, o cultivo da mandioca industrial ocupou 109 mil hectares de terras no Paraná, de onde saíram 2,6 milhões de toneladas do produto, com geração de um VBP (Valor Bruto da Produção) de quase R$ 2,2 bilhões.

As regiões de Umuarama e Paranavaí são as maiores produtoras de mandioca com fins industriais – responderam por 35% e 32% do volume total produzido pelo Estado em 2022, respectivamente. O município com maior produção da raiz foi Paranavaí, no noroeste paranaense.

Methodio Groxko, analista do Deral (Departamento de Economia Rural), órgão ligado à Seab (Secretaria Estadual de Agricultura e Abastecimento), explica que toda a produção de mandioca para fins industriais é consumida no próprio Paraná.

“E ainda falta matéria-prima, sendo que as indústrias precisam completar comprando mandioca de estados como Mato Grosso, São Paulo e Minas Gerais”, destaca.

Cultura trouxe indústrias para o Paraná

O técnico lembra que, impulsionada pelo clima e pelo solo favoráveis, a vocação do Paraná na produção de mandioca para fins industriais fez com que indústrias de fora viessem para o território paranaense. “Muitas indústrias de Santa Catarina vieram para cá entre 1970 e 1980”, exemplifica.

No ano passado, 261 municípios paranaenses produziram mandioca para fins industriais, o que representa 65% do total de municípios do Estado. O Censo Agropecuário do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) aponta mais de 51 mil produtores de mandioca no Paraná em 2017. Em todo o país, são 974 mil.

SOLO ARENOSO

O produtor Victor Vendramin, de Paranavaí, comercializa toda a sua produção para a indústria, onde a raiz é transformada em fécula e farinha.

A opção pela cultura se deu pelo solo arenoso da região noroeste, além do fato de a mandioca suportar melhor a amplitude térmica em comparação a outras culturas, como soja e milho. Na lavoura, ele adota o sistema de plantio direto, com integração lavoura-pecuária.

Por outro lado, como não é uma commodity, a mandioca está muito sujeita a oscilações do mercado interno.

“Quando há falta de mandioca, há um pico de preço muito alto, geralmente em períodos curtos que não chegam a 30 dias porque não tem oferta de raiz para a indústria processar. Quando sai desses períodos, o preço costuma cair de forma expressiva”, pontua.

RUSTICIDADE

Vendramin acrescenta que a rusticidade da cultura traz uma maior garantia de que será possível obter alguma produtividade.

“Temos buscado produtividade maior por meio de pesquisa, de investimento em adubação e de um manejo mais conservacionista e sustentável que sequestra carbono. Com isso, temos conseguido alcançar produtividade acima de 35 toneladas por hectare”, pontua. A média nacional apontada pelo IBGE fica em 15 toneladas.

O produtor relata que, nos últimos anos, surgiram variedades de mandioca mais modernas, com potencial produtivo melhor e responsividade a manejos mais sustentáveis e à adubação, em comparação a outros cultivares.

“Sinto falta de mais investimento, de mais pesquisadores para se dedicar à mandioca, até porque essa cultura ocupa o 7º lugar em faturamento segundo o IBGE, em 2021, nas culturas do país. Então ela tem uma relevância em relação à atividade econômica nacional.”

UMA CENTENA

O Paraná conta hoje com cerca de 100 indústrias de fécula e de farinha de mandioca, além de uma menor quantidade de fábricas de outros subprodutos.

“Hoje o principal desafio das indústrias é ampliar a exportação. Temos hoje indústrias com ociosidade, então só o mercado brasileiro não é suficiente para atender toda a indústria instalada no Paraná e no Brasil”, pontua João Eduardo Pasquini, diretor-presidente da Amidos Pasquini e presidente do Sindicato das Indústrias de Mandioca do Paraná.

VERSATILIDADE

A mandioca é matéria-prima de dois principais subprodutos: fécula e farinha. A farinha é consumida natural ou pode se transformar em farofa.

A fécula, por sua vez, é destinada para indústria de panificação, sendo matéria-prima para fabricação de biscoitos, bolachas, salgadinhos, pão de queijo e tapioca.

No setor frigorífico, é usada para produção de salsicha, mortadela e patês. Versátil, também é utilizada na fabricação de papel e na flotação (beneficiamento do minério de ferro).

“Há vários amidos modificados para atender a indústria de chocolate, de iogurte, lácteos, uma infinidade de opções”, lista o presidente do sindicato.

MECANIZAÇÃO DA LAVOURA

Uma das dificuldades hoje dos produtores é com pessoal. “O produtor está com dificuldade de obter mão de obra no campo para plantio, capinação e colheita. Precisamos da mecanização completa da cultura porque não se obtém mais trabalhadores no campo.”

Para enfrentar esse desafio, o presidente do sindicato destaca que estão sendo desenvolvidas máquinas para colheita.

“Também estamos tentando junto à Embrapa desenvolver uma mandioca com alteração de gene para aceitar alguns herbicidas de controle do mato, sem precisar da enxada para combater as ervas daninhas invasoras. Se conseguirmos mecanizar a colheita e melhorar a condição das lavouras para o produtor, o setor cresceria muito”, conclui.